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    novo governo

    OCDE agrava previsão de recessão no Brasil por incerteza política

    FERNANDA ODILLA
    ENVIADA A PARIS

    01/06/2016 06h42 - Atualizado às 15h44

    A OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) agravou a previsão de recessão no Brasil por suas "profundas divisões políticas", afastando a perspectiva de reversão da crise com o governo interino de Michel Temer, que substituiu a presidente Dilma Rousseff, afastada do cargo.

    De acordo com o relatório trimestral da OCDE, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deve registrar contração de 4,3% neste ano e de 1,7% em 2017. Em fevereiro, a projeção era de queda de 4% do PIB em 2016 e de crescimento nulo (0%) no próximo ano.

    O relatório veio a público antes da divulgação do PIB do primeiro trimestre, que mostrou queda de 0,3% em relação ao quarto trimestre de 2015, menos que o previsto pelo mercado.

    "Profundas divisões políticas reduziram as possibilidades de qualquer estímulo notório na política de reformas a curto prazo", destaca o documento da OCDE, que reúne 34 países, em sua maioria desenvolvidos. No curto prazo, diz o relatório, o deficit público vai continuar a crescer.

    "Em nosso cenário de base, a situação política continuará sendo de grande incerteza durante o período de nossas projeções e os níveis de confiança continuarão sendo baixos", explica a nota da organização, sediada em Paris.

    Se confirmadas as estimativas, o Brasil entrará no terceiro ano consecutivo de recessão aguda.

    "A recessão profunda deve continuar em 2016 e 2017 com um cenário de alta incerteza política e de revelações correntes de corrupção que minam a confiança dos consumidores e investidores, o que leva à contração contínua da demanda doméstica", diz o relatório de perspectivas econômicas da entidade, divulgado nesta quarta em Paris.

    A entidade também é pessimista em relação ao desemprego no Brasil, que, segundo suas previsões, tende a aumentar com a contração econômica. Em relação a meta de inflação, contudo, as expectativas são mais moderadas. Espera-se que retorne para o centro da meta, em uma reação ao aumento dos preços e desvalorização do real.

    O Brasil vive hoje um cenário de recessão com inflação, o que dificulta a recuperação rápida da economia. O país encerrou 2015 na maior recessão de sua história.

    As previsões contrastam com a pesquisa Focus sobre expectativas do mercado, publicada pelo Banco Central. Na pesquisa desta semana, a estimativa média era de uma recessão de 3,81% do PIB para este ano, um resultado melhor que a projeção de -3,89% do mês passado, e de um crescimento de 0,55% em 2017.

    IMPEACHMENT

    A recessão se torna potencialmente mais forte com a grave crise política, que levou o Senado a aprovar, no dia 12 de maio, a abertura do julgamento político de Dilma Rousseff, acusada de manipular as contas públicas. A presidente foi afastada do cargo e substituída pelo vice-presidente Michel Temer, que estabeleceu como prioridade recuperar as contas públicas com um forte ajuste fiscal.

    Mas as dificuldades se acumulam para aprovar as reformas, que em muitos casos precisam de uma modificação na Constituição, em um ambiente marcado pelo vendaval de denúncias de corrupção, cenário que já forçou a saída de dois ministros importantes do governo interino de Temer.

    O Senado deve decidir em um prazo máximo de 180 dias sobre a destituição de Dilma. Se o impeachment for aprovado, Temer completará o mandato, até o fim de 2018.

    "O julgamento do impeachment está em marcha e um governo interino foi formado, mas a incerteza política e a instabilidade parecem destinadas a durar", afirma a OCDE.

    "Neste momento no Brasil a política domina tudo, sobretudo a economia", disse à AFP Jens Arnold, diretor da OCDE para Brasil e Portugal.

    "Neste novo governo há muitas propostas de reformas recomendadas pela OCDE, mas o grande desafio é implementá-las", completou.

    Temer obteve na semana passada uma vitória importante, ao conseguir a autorização do Congresso para aumentar consideravelmente os gastos públicos, para dar um alívio a um país onde o deficit em 2015 chegou a 1,88% do PIB.

    Mas o caminho permanece repleto de obstáculos, destaca a OCDE.

    "O Brasil tem todo o potencial para crescer, mas precisa de consenso político para conseguir e este não é o nosso cenário de base", resumiu Arnold.

    Na manhã desta quarta, o ministro José Serra (Relações Exteriores) esteve na sede da OCDE em Paris. Ele, que um dia antes havia imposto um tom mais otimista em relação à recuperação econômica do país, ainda não comentou as previsões da entidade para o Brasil.

    Na porta da sede da OCDE, um pequeno grupo de manifestantes brasileiros protestava contra o ministro. Munidos de cartazes, gritavam "Fora Serra". Não chegaram a vê-lo.

    Com agências

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