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    Carne e madeira 'verdes' rendem pouco, avaliam estudos da FGV

    MARCELO LEITE
    DE SÃO PAULO

    02/06/2016 12h04

    Lalo de Almeida - 1.ago.2015/Folhapress
    Vaqueiro atravessa área de pasto degradado em Alta Floresta (MT)
    Vaqueiro atravessa área de pasto degradado em Alta Floresta (MT)

    O Brasil tem a maior economia de base natural do mundo, em que o setor do agropecuário responde por 23% da produção doméstica. E ainda pode agregar R$ 258,2 bilhões ao PIB (Produto Interno Bruto), se conseguir engajá-lo no combate ao aquecimento global.

    Não vai ser fácil, porém, como apontam dois novos estudos. Para tornar seu agronegócio e seu setor florestal mais "verdes" —com menos poluição climática—, o governo brasileiro precisará de políticas robustas para promover sua descarbonização.

    A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura se debruçou sobre a pecuária de corte e o manejo sustentável de madeira e encomendou os trabalhos ao Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-SP, o GVces.

    "É só uma primeira tentativa de pôr números para a sociedade discutir", diz Annelise Vendramini, da equipe técnica dos estudos. "O primeiro degrau de uma longa escada."

    A ideia era investigar a viabilidade econômica de investir pesado na recuperação de pastos degradados e na extração legalizada e sustentável de madeira.

    Hoje, há vários graus de degradação em metade de 1,8 milhão de km2 de pastagens. E 80% da atividade madeireira é ilegal ou desrespeita padrões ambientais.

    A conclusão geral foi que, apesar do potencial para gerar R$ 20,6 bilhões em impostos e 15 milhões de empregos, um salto de escala nesses setores não garantiria retorno atraente para o investidor privado. Isso nas condições atuais, em que o mercado não valoriza produtos de baixo carbono.

    DIGESTÃO DIFÍCIL

    Entre suas metas para o Acordo de Paris contra a mudança do clima, o Brasil se propôs a recuperar 150 mil km2 de pastos. Além disso, o governo já havia anunciado outros 150 mil km2 como parte de sua iniciativa para agricultura de baixo carbono (Plano ABC).

    O metano (CH4) produzido pela digestão do gado é uma das maiores fontes de emissão de carbono do agronegócio. O setor agrícola responde por 27% dos gases do efeito estufa do Brasil.

    Reconstituir pastagens aumenta a produtividade da pecuária e a quantidade de biomassa sobre o terreno. Além disso, produzindo mais carne em área igual ou menor, a recuperação evita a derrubada de novas áreas de floresta.

    Não é barato recuperar pastos. Cada hectare (10 mil metros quadrados, pouco mais que um campo de futebol oficial) pode exigir investimento acima de R$ 2.800 em adubação e replantio de capim, por exemplo.

    O trabalho do GVces comparou os custos da recuperação com os ganhos e analisou o fluxo de caixa até 2030. Verificou que o retorno só se torna positivo, podendo chegar a R$ 18,7 bilhões para o setor inteiro, quando se usa uma taxa de desconto baixa (6%) para calcular o valor presente e se o peso no abate sobre para 18,5 arrobas por cabeça (277,5 kg).

    CUSTOS E BENEFÍCIOS DE COMBATE NO CAMPO CONTRA MUDANÇA DO CLIMA -

    MAIS ÁRVORES

    Outra maneira de melhorar o desempenho ambiental dos pastos é associá-los com a plantação de árvores, como eucaliptos. Se a chamada integração pecuária-floresta chegar à meta oficial de 90 mil km2, poderia gerar retorno de até R$ 4 bilhões, projeta o GVces.

    Bem mais modesto é o potencial na área madeireira. Caso o governo multiplique por dez até 2030 a área de florestas públicas concedidas para exploração privada, elas poderia render R$ 34 milhões a R$ 40 milhões - mas só se a maior parte da produção for certificada e comercializada no mercado externo, onde a madeira "verde" tem preço melhor.

    "O estudo não foi prescritivo, mas procurou fazer modelagens com base em cenários conservadores de preços, volumes, margens etc., sujeitos a aprofundamentos posteriores e análises regionalizadas", ressalva Vendramini.

    Segundo a pesquisadora, o próximo passo seria fazer estudos similares com dados mais próximos da realidade desses setores. O GVces se baseou só em dados publicados, que são poucos, e usou premissas conservadoras para seus cenários.

    Além disso, seria preciso calcular quanto custa cada tonelada de emissão de carbono evitada e o que se pode ganhar com ela.

    *

    O PESO DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL
    23% do PIB
    40% do valor das exportações
    27% das emissões de carbono

    RANKING DE EXPORTAÇÃO DE CARNE
    1º EUA 21% do mercado mundial
    2º Brasil 16%
    3º UE 14%

    PASTAGENS
    180 milhões de hectares (20% do território nacional)
    50% em processo de degradação

    REBANHO
    209 milhões de cabeças

    SETOR MADEIREIRO NO BRASIL
    5,16 milhões de km2 de florestas
    Maior extensão de matas tropicais do mundo

    TERCEIRO MAIOR PRODUTOR DE MADEIRA
    30 milhões de m3/ano
    Só 20% da madeira segue padrões ambientais (manejo florestal sustentável)

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