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    Cifras & Letras

    CRÍTICA

    Livro prevê boa parceria entre homens e robôs no trabalho

    PAULA LEITE
    DE SÃO PAULO

    18/06/2016 02h00

    Seu emprego está ameaçado por robôs? Antes de responder que não, é bom saber que a inteligência artificial está em mais lugares do que imaginamos.

    O livro "Only Humans Need Apply – Winners and Losers in the Age of Smart Machines" ("Só aceitamos humanos, ganhadores e perdedores na era das máquinas inteligentes"), de Thomas H. Davenport e Julia Kirby, propõe-se a ser um guia de como podemos trabalhar com e à volta dos robôs.

    Longe de ser um tomo alarmista sobre a tragédia anunciada da perda de milhões de empregos com a chegada de máquinas cada vez mais sapientes, a obra traça um panorama do tipo de trabalho que já é feito por robôs em alguns setores, do que está por vir e de como os humanos podem se adaptar.

    Para além das funções mais conhecidas da inteligência artificial, como robôs industriais e softwares que fazem as vezes de assistentes pessoais, o livro descreve como funcionam programas de computador que complementam o trabalho de médicos, advogados e profissionais de seguros, entre outros.

    Na advocacia, por exemplo, há softwares que "leem" milhares de páginas de documentos entregues pelas partes de um caso e buscam frases relevantes, que são então destacadas para serem revisadas por humanos.

    Issei Kato - 1º.jul.2015/Reuters
    Robôs trabalham ao lado de pessoas em linha de produção em fábrica em Kazo, no Japão
    Robôs trabalham ao lado de pessoas em linha de produção em fábrica em Kazo, no Japão

    DANDO UMA MÃO

    Parte do livro é dedicada a explicar que, para muitos setores, a chegada da tecnologia não significa a substituição total de um trabalhador, e sim que uma parte das funções de cada pessoa poderá ser feita por um software.

    E muitos de nós comemoram quando determinadas tarefas, geralmente tediosas e repetitivas, são tiradas de nossas mãos.

    Reservas de voos e prestação de contas de viagens de trabalho, transcrição de textos e digitação de dados em planilhas são trabalhos que, arrisco dizer, ninguém sentirá falta de fazer.

    No entanto, ao tornar os profissionais mais eficientes e livrá-los de tarefas burocráticas, é claro que as empresas têm condições de reduzir o número de pessoas na função, já que agora os que ficaram produzem mais. Como dizem os autores, o trabalho antes feito por dez pessoas passa a ser feito por nove.

    Outra faceta da inteligência artificial é como ela pode aumentar a inteligência humana, fazendo análises em volumes de dados com os quais o cérebro humano não consegue lidar. Um exemplo dado pelo livro é o de marketing digital, em que um software ajuda um gerente a tomar milhares de pequenas decisões sobre onde anunciar, a que preço e usando quais palavras-chave em uma plataforma de publicidade como a do Google. Depois, o mesmo software avalia os resultados.

    É um trabalho que uma pessoa pode fazer, claro, mas em volume muito menor. O robô permite fazer centenas de combinações de anúncios simultaneamente e rapidamente avaliar quais funcionam melhor.

    PARA ONDE VAMOS

    O livro perde um pouco a força nos capítulos em que se propõe a ser uma espécie de autoajuda, delineando alguns tipos de função para as quais os humanos podem se preparar para garantir seu futuro junto das máquinas.

    Os autores sugerem que os trabalhadores se preparem para funções usando estratégias como se especializar em empregos que exigem traços eminentemente humanos, como empatia e comunicação interpessoal; ou como estudar um nicho específico do conhecimento que, de tão estreito, dificilmente será tomado por máquinas.

    O problema é que os autores parecem falar apenas para profissionais de nível superior dos Estados Unidos; muitas das estratégias que eles sugerem dependem de um nível educacional e de uma disponibilidade de tecnologia e conectividade que simplesmente não estão disponíveis no resto do mundo.

    Faz falta, na discussão que a obra faz de um futuro em que o trabalho é cada vez mais aumentando e complementado por máquinas inteligentes, aprofundar o que isso significa para a educação.

    Enquanto as escolas (de todos os níveis, do fundamental à pós-graduação) continuarem ensinando humanos apenas a acumular conhecimento enciclopédico e realizar tarefas lógicas, áreas em que estamos sendo rapidamente superados por inteligências artificiais, seguiremos condenando milhões de trabalhadores no mundo à obsolescência.

    Por causa dessa bagagem educacional, muita gente, principalmente nos países em desenvolvimento, não tem a oportunidade de dar uma guinada em sua carreira depois de adultos, fato que os autores não reconhecem.

    Only Humans Need Apply – Winners and Losers in the Age of Smart Machines
    QUANTO: R$ 52,19 na Amazon (288 págs.)
    AUTOR: Thomas H. Davenport e Julia Kirby
    EDITORA: HarperBusiness

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