• Mercado

    Monday, 20-May-2024 10:10:32 -03

    Câmbio pode atrasar ajuste das contas do governo Temer

    GUSTAVO PATU
    DE BRASÍLIA

    30/06/2016 02h00

    O primeiro mandato da presidente afastada Dilma Rousseff deixou como herança uma combinação de três diferentes enfermidades econômicas, em que os remédios para uma agravam outra.

    As moléstias, ainda em tratamento, são inflação elevada, deficit nas contas do governo e deficit nas transações de bens e serviços do país com o resto do mundo.

    Para conter a escalada dos preços, foram elevados os juros, o que aumenta as despesas com a dívida pública e o deficit do governo; para conter o deficit do governo, foram cortados subsídios para a conta de luz e reajustado o preço da gasolina, o que faz subir a inflação.

    O remédio para o deficit com o exterior é a alta das cotações do dólar, ou seja, a desvalorização do real: as importações ficam mais caras e encolhem, as exportações ficam mais baratas e se expandem, turistas brasileiros gastam menos em outros países.

    Os efeitos colaterais da alta do dólar são mais inflação, mais juros e mais deficit do governo –e, frequentemente, mais impopularidade para o governante.

    A moeda americana, a R$ 2,66 ao final de 2014, chegou aos R$ 4 no ano passado.

    DÓLAR EM QUEDA - Moeda americana tem menor cotação em 11 meses ante o real

    Não por acaso, o ajuste das contas externas é o mais bem-sucedido até aqui: o deficit, que passava dos US$ 100 bilhões, deve ficar na casa dos US$ 15 bilhões neste ano.

    Já neste ano, o dólar está em queda, ainda que nem sempre contínua. A tendência, se mantida, ameaça comprometer a trajetória de reequilíbrio das contas do país.

    Em contrapartida, os outros dois ajustes, da inflação e dos cofres públicos, ficam facilitados com a perspectiva de mais importações e menos juros nos próximos meses.

    É difícil dizer se o saldo da alta do dólar é positivo ou negativo –afinal, as terapias econômicas estão sendo aplicadas simultaneamente.

    O Banco Central indica que deixará o mercado definir a taxa de câmbio; no curto prazo, ao menos, um real mais forte é um alento político.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024