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    Plebiscito britânico

    Dólar sobe a R$ 3,30 e Bolsa cai 1,38% com volta dos temores sobre o Brexit

    EULINA OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    05/07/2016 17h30

    Kacper Pempel/Reuters
    A libra atingiu o menor patamar em 31 anos durante a sessão com temores decorrentes do Brexit

    A aversão global ao risco voltou aos mercados nesta terça-feira (5). O Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) alertou que as ameaças à estabilidade financeira do Reino Unido surgidas com o Brexit começaram a se materializar, reacendendo os temores de uma desaceleração da economia global.

    A saída do Reino Unido da União Europeia provocou uma fuga de recursos para ativos considerados mais seguros, como o ouro e títulos de dívida soberanos. Três fundos imobiliários britânicos suspenderam os resgates de cotas por falta de dinheiro para pagar os investidores, por causa da grande demanda por retirada.

    Como consequência, as Bolsas e o petróleo recuaram. O dólar voltou a se valorizar globalmente, e a libra chegou a atingir o menor patamar em 31 anos durante o pregão. Para piorar o humor dos investidores, os bancos italianos voltaram a demonstrar sinais de fragilidade.

    No Brasil, o dólar avançou para a casa dos R$ 3,30, influenciado, além do cenário externo negativo, por mais uma ação do Banco Central no câmbio. O Ibovespa caiu 1,38%, e os juros futuros e do CDS (credit default swap) brasileiro, indicador de percepção de risco, subiram.

    CÂMBIO E JUROS

    O dólar à vista encerrou a sessão em alta de 1,63%, a R$ 3,3014, enquanto o dólar comercial terminou com ganho de 1,10%, a R$ 3,3010.

    O Banco Central leiloou, pela terceira sessão seguida, 10.000 contratos de swap cambial reverso, equivalentes à compra futura de dólares pela autoridade monetária, totalizando US$ 500 milhões. Com isso, a posição vendida do BC (estoque de swap cambial tradicional, que correspondem à venda futura da moeda) caiu para US$ 60,635 bilhões.

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    NOTAS DE DÓLAR

    Na manhã desta terça-feira, em sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, os quatro indicados a compor a diretoria do BC afirmaram ser contrários a um sistema cambial totalmente livre de intervenções. Reinaldo Le Grazie, indicado para a Diretoria de Política Monetária da instituição, afirmou que a volatilidade no câmbio nos últimos tempos tem sido maior do que a média.

    "O câmbio flutuante é a melhor maneira de a gente equilibrar o cenário como um todo. Livre flutuação lato sensu não é o padrão no mundo. O Brasil não deve ter uma livre flutuação total. A flutuação é com intervenções pontuais, quando distorções aparecerem", afirmou Le Grazie.

    Para analistas, o discurso dos diretores foi coerente com o que já foi dito pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, de que manterá o câmbio flutuante, ao mesmo tempo em que procurará reduzir o estoque de swaps cambiais.

    Ítalo Santos, especialista em câmbio da corretora Icap, destaca que o real não ficou entre as maiores desvalorizações nesta terça-feira, apesar do mau humor externo e da ação do BC. "A volatilidade do dólar para baixo é muito maior do que a do dólar para cima", afirma.

    "Há a perspectiva de entrada de um fluxo grande de dólares no país, e para os investidores é melhor ficar vendido do que comprado em dólar, por causa do alto custo de carregamento", explica. Segundo o especialista, investidores aguardam a conclusão do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em agosto, para trazer mais recursos para o Brasil, caso se confirme o impedimento.

    No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 subiu de 13,880% para 13,910%, enquanto o contrato de DI para janeiro de 2021 avançou de 12,120% para 12,250%.

    O CDS brasileiro, espécie de seguro contra calote, tinha alta de 2,29%, aos 320,225 pontos.

    BOLSA

    O Ibovespa terminou a sessão em queda de 1,38%, aos 51.842,27 pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,3 bilhões.

    As ações da Petrobras recuaram 5,87%, a R$ 9,29 (PN), e 5,65%, a R$ 11,34 (ON), reagindo à queda de cerca de 4% dos preços do petróleo no mercado internacional.

    Os papéis da Vale perderam 4,51%, a R$ 12,90 (PNA), e 5,36%, a R$ 16,06 (ON), influenciados pelo recuo do minério de ferro na China.

    Entre as siderúrgicas, CSN ON caiu 7,41%; Gerdau PN, -4,76%; e Usiminas PNA, -4,24%.

    No setor financeiro, Itaú Unibanco PN fechou em queda de 0,71%; Bradesco PN, -0,03%; Banco do Brasil ON, -0,75%; Santander unit, -3,11%; e BM&FBovespa ON, -1,94%.

    EXTERIOR

    Em relatório de estabilidade financeira divulgado nesta terça-feira, o Banco da Inglaterra afirmou que "há evidências de que alguns riscos começaram a se manifestar".

    "A atual perspectiva para a estabilidade financeira do Reino Unido é desafiante", afirma o Comitê de Política Financeira do banco central inglês.

    O documento é o primeiro divulgado após o plebiscito de 23 de junho, no qual os britânicos votaram a favor da saída da União Europeia.

    Uma dessa evidências vem de três fundos imobiliários do Reino Unido, que congelaram cerca de 9,1 bilhões de libras (US$ 12 bilhões) em ativos depois que o Brexit desencadeou uma onda de resgates. M&G Investments, Aviva Investors e Standard Life Investments interromperam as retiradas porque falta de dinheiro disponível para pagar os investidores.

    Para minimizar os riscos, o BC inglês decidiu reduzir o compulsório (montante de capital em reserva) dos bancos, de modo a liberar 150 bilhões de libras ( (US$ 197,24 bilhões) para empréstimos.

    Na Europa, a Bolsa de Londres foi a única a fechar em alta (+0,35%), reagindo ao aumento do capital dos bancos para empréstimos. Mesmo assim, a leitura do mercado é de que essa medida é insuficiente para minimizar os efeitos negativos do Brexit.

    A Bolsa de Paris perdeu 1,69%; Frankfurt, -1,82%; Madri, -2,28%; e Milão, -1,45%.

    Os bancos italianos são outro motivo de preocupação, porque possuem um alto número de empréstimos considerados ruins.

    Nos EUA, os mercados voltaram a funcionar depois do feriado do Dia da Independência na véspera. Na Bolsa de Nova York, o índice Dow Jones perdeu 0,61%; o S&P 500, -0,68%; e o Nasdaq, -0,82%.

    Na Ásia, as bolsas chinesas fecharam em alta, diante de sinais de que a atividade no setor de serviços está acelerando no país. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, teve valorização de 0,08%, enquanto o índice de Xangai subiu 0,62%.

    Já no restante do continente os mercados recuaram. Em Tóquio, o índice Nikkei caiu 0,67%.

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