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    Em vez de pufes, Amazon oferecerá casas de árvore aos funcionários

    DO "NEW YORK TIMES"

    11/07/2016 12h02

    Ian C. Bates/The New York Times
    Esferas da Amazon, em construção em Seattle
    Esferas da Amazon, em construção em Seattle

    Logo além de um trecho isolado de rodovia, no Estado de Washington, em meio a vinhedos, estábulos e fazendas, a Amazon vem cultivando alguma coisa em segredo. Mas não se trata daquilo que seu presidente-executivo, Jeff Bezos, define como as "minúsculas sementes" que podem se tornar o próximo grande negócio da empresa.

    Não: a Amazon está cultivando plantas, mais de 3.000 espécies delas, em uma estufa de 0,4 hectare a meia hora de distância de sua sede em Seattle. Há plantas carnívoras, exóticos filodendros, e orquídeas equatorianas parecidas com a ameaçadora planta do filme "A Pequena Loja dos Horrores".

    "Canela, talco e bala de goma", diz Ron Gagliardo, o horticultor da Amazon que supervisiona a estufa, quando solicitado a descrever o misterioso cheiro da orquídea, chamada Anguloa virginalis.

    A Amazon é pioneira das compras via Internet, dos livros eletrônicos e da computação em nuvem. Agora, ao chegar à idade adulta, está aplicando parte de sua inventividade à sua casa nova. A empresa está construindo uma série de edifícios, altos e baixos, no centro de Seattle, agrupados em torno de três notáveis estruturas transparentes que a empresa chama de esferas. Elas funcionarão como estufas de alta tecnologia, o tipo de arquitetura vistosa que a empresa desdenhou em seus primeiros 22 anos de existência.

    "Queríamos que fosse emblemático, uma estrutura semelhante a outro dos emblemas da cidade, a Space Needle, para as pessoas que estão chegando a Seattle", disse John Schoettler, diretor de imóveis e instalações da Amazon. "Seria como que um tesouro encontrado no centro da cidade".

    O verdadeiro propósito das esferas é a maneira pela qual a Amazon deseja usar a natureza do lado de dentro de suas instalações, a fim de inspirar os funcionários. Quando forem inauguradas, no começo de 2018, as esferas estarão repletas de uma coleção de plantas digna de um viveiro de primeira linha, permitindo que os funcionários da empresa circulem por essas estruturas erigidas a três andares do solo, conversem com colegas em salas cujas paredes são feitas de trepadeiras e comam suas saladas de almoço à beira de um riachinho interno.

    Desde que a Amazon optou por continuar sediada no centro de Seattle, uma década atrás, afirma a companhia, ela investiu mais de US$ 4 bilhões na construção e desenvolvimento de escritórios em toda a cidade, ainda que não revele o orçamento das esferas. Elas só estarão acessíveis aos funcionários da companhia, ainda que no futuro a Amazon possa vir a permitir visitas do público.

    "A ideia toda era levar as pessoas a pensar de maneira mais criativa, talvez desenvolver ideias que de outra maneira não teriam, se ficassem sentadas em seus escritórios", disse Dale Alberda, o arquiteto encarregado do projeto no NBBJ, um escritório de arquitetura que também trabalhou em projetos recentes de edifícios para a Samsung, Google e a companhia chinesa de Internet Tencent.

    As empresas de tecnologia estão ávidas por testar maneiras de criar espaços de trabalho mais conducentes à criatividade. Algumas delas transformaram seus escritórios em parques de diversão sem paredes, com pufes, mesas de pingue-pongue e espaços para jogar beisebol.

    A alternativa mais refinada que começa a ganhar espaço agora é fazer da natureza a estrela do espetáculo. A Apple, por exemplo, contratou o arboricultor Dave Muffy para supervisionar a plantação de cerca de oito mil árvores em seu novo complexo de 70 hectares em Cupertino, Califórnia, que cercará um novo edifício em formato de nave espacial no qual os funcionários da empresa trabalharão. As árvores, a maioria das quais nativas da região, têm por objetivo restaurar a paisagem natural que o Vale do Silício exibia no passado.

    Ian C. Bates/The New York Times
    Teste ambiental de casas de árvore sendo construídas em Woodinville
    Teste ambiental de casas de árvore sendo construídas em Woodinville

    O que torna incomum o projeto da Amazon é sua localização: no coração de uma cidade, em lugar de em um vasto complexo suburbano como os preferidos pela maioria das outras grandes empresas de tecnologia. A Amazon, maior empregadora do setor privado em Seattle, tem a maioria de seus 20 mil funcionários espalhados por mais de 30 edifícios na cidade, hoje. Seus planos de construção em curso oferecem espaço para mais que duplicar sua força de trabalho atual.

    Bezos disse que a Amazon está tentando se manter na cidade porque o tipo de funcionário que a empresa deseja atrair prefere ambientes urbanos. Mas o espaço dominado pelo concreto e aço que cerca os novos imóveis da Amazon no centro da cidade não oferece muito verde. É para isso que as esferas, e Gagliardo, contratado pela Amazon para enchê-las de plantas, servirão.

    Margaret O'Mara, professora associada de História na Universidade de Washington, vê as esferas como uma espécie de Walden Pond recoberto de vidro. "Um retiro, uma catedral isolada do burburinho da cidade", ela disse.

    Em uma visita recente, havia muito barulho no interior das esferas, nas quais operários estavam soldando aço, instalando rebites e posicionando concreto, no interior de uma estrutura apenas parcialmente completa. Os painéis de vidro que formarão a carapaça das esferas, peças de formatos vistosos, estavam sendo posicionados em seus suportes de aço.

    Usando um capacete, Gagliardo saltitava por entre cabos elétricos e andaimes, contemplando uma imensa massa de concreto de cinco andares de altura, que sustentará uma parede viva na qual plantas serão posicionadas. Ele apontou para o local em que um painel de vidro será removido e uma figueira de 13 metros de altura será replantada em uma das esferas, com a ajuda de um guindaste —uma das 40 a 50 árvores que serão instaladas.

    "Agora que posso caminhar por lá, começo a perceber onde as coisas devem ser posicionadas", ele disse.

    As esferas oferecerão espaços para reunião chamados de "casas de árvore", e pontes suspensas em altitude elevada, instáveis o suficiente para acelerar o pulso dos funcionários que caminharem por elas. Alberda, o arquiteto, conta que a Amazon o instruir a "criar um espaço divertido".

    Os arquitetos da Amazon precisam tornas as esferas confortáveis tanto para plantas quanto para pessoas, um espaço com a atmosfera de uma estufa mas sem o ambiente abafado que embaçaria as telas de computadores e faria com que as pessoas suassem.

    Durante o dia, a Amazon manterá temperatura de 22 graus e umidade de 60% nas esferas, e à noite a temperatura média será de 13 graus e a umidade de 85%, o que segundo Gagliardo é ideal para os espécies de plantas florestais que ele recolheu.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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