• Mercado

    Saturday, 04-May-2024 20:22:28 -03

    Análise

    Fox News transformou radicalismo em modelo de negócio

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    21/07/2016 19h14

    Charles Sykes/Associated Press
    FILE - In this Feb. 9, 2015 file photo, Roger Ailes attends a special screening of "Kingsman: The Secret Service" in New York. Fox News chief Ailes is seeking to move former anchor Gretchen Carlson's harassment case against him from a New Jersey court to a closed arbitration panel in New York. Ailes, in court papers filed Friday, July 15, 2016, said New Jersey made no sense as a jurisdiction. (Photo by Charles Sykes/Invision/AP, File) ORG XMIT: CAET634
    Criador da Fox News, Roger Ailes, afastado após denúncias de assédio

    Na biografia não autorizada "The Loudest Voice in the Room", a voz mais alta na sala (Random House, 2014), o jornalista Gabriel Sherman já indicava que o criador da Fox News, Roger Ailes, era na verdade uma má notícia para o Partido Republicano.

    Em duas décadas, ele e seu canal de notícias alimentaram de tal maneira o radicalismo na direita americana que acabaram por devastar os moderados.

    A queda de Ailes coincide com a formalização de Donald Trump como presidenciável republicano, não só contra o "establishment" do partido, mas contra a própria Fox News, que resistiu à sua candidatura o quanto pôde.

    Repórter de mídia da revista "New York", foi o mesmo Sherman quem informou, três dias atrás, que a família Murdoch havia decidido afastar Ailes do comando da Fox News depois das acusações —agora múltiplas— de assédio sexual.

    Aliás, também estava lá, na biografia: Ailes, quando se afastou do marketing de Richard Nixon, virou produtor na Broadway e deixou rastro semelhante.

    Rupert Murdoch, 85, foi ele próprio à Redação da Fox News comunicar o afastamento, no início da noite desta quinta (21). Mas tomou a decisão pressionado pelos dois filhos, Lachlan e James, que já haviam lutado e perdido batalhas contra seu executivo.

    Em carta a Murdoch, Ailes, 76, destacou o "orgulho" de ter feito da Fox News, "com seu apoio, uma organização de notícias poderosa e lucrativa que premia nossos acionistas".

    É a grande questão, agora. Além de poderosa na política americana, a Fox News se tornou modelo de negócios para o telejornalismo: cobrir sem distanciamento, distorcendo para agradar espectadores, dá lucro.

    Em 2015, segundo a consultoria SNL Kagan, o canal teve um faturamento (assinaturas de TV paga e publicidade) de US$ 2,3 bilhões, crescendo 14% no ano. E o lucro operacional, segundo a Pivotal, foi de US$ 1,6 bilhão, um quarto do total da 21st Century Fox.

    Como ficarão os números, sem Ailes e com os filhos supostamente liberais de Murdoch?

    Ao custo de mais de US$ 40 milhões, a corporação prendeu o executivo com um contrato de consultor, evitando o risco imediato de estimular um concorrente à direita ou uma debandada de apresentadores, que já se anunciava.

    E Murdoch assumiu ele mesmo o lugar de Ailes, se "comprometendo a assegurar que a Fox News permaneça como uma voz distinta e poderosa". Ou seja, nada vai mudar, por enquanto.

    Mas analistas financeiros, como a Bernstein, já dizem que "talvez seja uma boa hora para refrescar ideias". É que a CNN vem crescendo, com muita opinião à esquerda e à direita, e avança sobre uma audiência que a Fox News não alcança, mais jovem.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024