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    Economia do Uruguai patina com recessão no Brasil

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    24/07/2016 02h00

    Miguel Rojo/AFP
    Crise no Brasil influencia vendas externas e grau de confiança no Uruguai
    Crise no Brasil influencia vendas externas e grau de confiança no Uruguai

    Apesar de estar numa situação mais amena que seus companheiros, o Uruguai entrou para o clube dos países da América do Sul que sofrerão neste ano a temida combinação de inflação e falta de crescimento.

    Estimativas indicam que a economia não avançará em 2016. O governo de Tabaré Vázquez prevê alta de 0,5% no PIB, mas economistas não acreditam na projeção. O Itaú, que estimava expansão de 0,6%, agora fala em zero.

    A inflação deverá fechar o ano próxima dos 11%, enquanto a meta do banco central era de 3% a 7%.

    Do lado do PIB, a situação brasileira é um dos fatores que prejudicaram o desempenho uruguaio. Importando anualmente entre 15% e 18% dos bens produzidos pelo Uruguai (sobretudo cereais, lácteos e automóveis), o Brasil é o segundo principal sócio comercial do país. No primeiro semestre deste ano, no entanto, as compras brasileiras do vizinho caíram 16%.

    O impacto também decorre da formação de expectativas. "Quando o Brasil está em crise, os investidores de fora já imaginam que o Uruguai será o próximo", afirma a professora de economia Gabriela Mordecki, da Universidad de la República.

    A desvalorização do peso, de 20% no ano passado, também influenciou. A economia do Uruguai é bastante dolorizada —imóveis e carros são comercializados na moeda estrangeira. Com o peso valendo menos, ficaram mais caros. "Cerca de 70% das poupanças dos uruguaios são em dólares", diz Mordecki.

    Em relação ao investimento, tudo indica que um ciclo de injeção de recursos no setor produtivo acabou. A construção da fábrica de celulose Montes del Plata, joint venture entre a chilena Arauco e a sueco-finlandesa Stora Enso, demandou US$ 2,3 bilhões (R$ 7,5 bilhões) nos últimos anos e foi suficiente para movimentar a economia.

    "O aporte foi concluído, mas não gerou fontes autônomas de investimento", afirma o argentino Juan Barboza, economista do Itaú.

    Além da pressão da valorização do dólar sobre os preços, a inflação também avançou por causa de uma quebra na produção de alimentos, de um reajuste de cerca de 10% nos serviços públicos (como luz e água) e do aumento do deficit fiscal.

    O Itaú projeta que o deficit ficará em 4% neste ano, após 3,5% em 2015. Assim como o Brasil e a Argentina, o Uruguai expandiu seus gastos sociais na primeira década dos anos 2000 e acabou perdendo seu equilíbrio fiscal.

    O governo anunciou que o país passará por um ajuste em 2017, o que deverá levar a população a uma situação financeira difícil.

    Com políticas fiscais restritivas, o Uruguai também não crescerá em 2017, segundo o economista Santiago Rego, da consultoria uruguaia CPA Ferrere. "Não vejo uma recessão, como é o caso do Brasil e da Argentina, mas estamos transitando pela etapa de baixa do ciclo econômico", diz.

    Para ele, entretanto, Brasil e Argentina começarão a se recuperar no próximo ano e deverão impulsionar o Uruguai em 2018.

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