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    Presidente do Bradesco não é ingênuo, diz procurador que denunciou Trabuco

    GABRIEL MASCARENHAS
    DE BRASÍLIA

    28/07/2016 18h09 - Atualizado às 20h47

    Karime Xavier - 6.ago.2015/Folhapress
    Presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, foi indiciado dentro da Operação Zelotes
    Presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, vira réu no Carf

    O procurador Frederico Paiva, um dos responsáveis pela denúncia contra o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, afirmou que o executivo tinha pleno conhecimento de que seus subordinados negociavam pagamento de propina a uma organização criminosa e que Trabuco não é "ingênuo".

    Paiva argumentou que, embora não haja provas de contatos diretos do presidente do banco com lobistas que atuavam junto ao Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) e à Receita Federal, os diretores do Bradesco não discutiriam processos envolvendo milhões sem a anuência do comandante da instituição.

    "Para assumir a presidência do Bradesco, ingênuo Trabuco não é. Se não participava (das tratativas) o tempo todo, ele controlava o que estava acontecendo. A confiança entre presidente e diretores é outro forte indício de autoria", listou, rechaçando a tese de que ele pode ser sido enganado por seus funcionários.

    Outro procurador que assina a petição, Herbert Mesquita foi além: "As coisa se passaram na sua antessala, com seus diretores. Ele esteve presente em certos momentos das reuniões, foi mencionado diretamente pelos interlocutores, então a gente não tem a menor dúvida de que ele sabia", concluiu

    No total, dez pessoas foram denunciados, entre elas Trabuco e outro três altos funcionários do banco: Mario da Silveira Teixeira Junior, membro do Conselho de Administração, o diretor vice-presidente, Domingos Figueiredo de Abreu, e diretor-gerente de relações com investidores, Luiz Carlos Angelotti.

    Para o Ministério Público e a Polícia Federal, Domingos Abreu, Mario Teixeira Junior e Luiz Carlos Angelotti eram os responsáveis por tratar os interesses do banco com os demais investigados. Eles são suspeitos de terem negociado pagamento de propina para livrar o Bradesco de dívidas ou recuperar créditos com a Receita Federal e o Carf, órgão vinculado ao Ministério da Fazenda.

    Segundo os procuradores, a denúncia lista ao menos três frentes de negociação dos suspeitos, mas nenhuma delas chegou a ser concretizada, ou seja, não ocorreu o pagamento de vantagens indevidas. O procurador Herbert Mesquita esclareceu, porém, que a simples negociação de repasses ilícitos já configura crime.

    "O pagamento não é essencial para a configuração do crime, ele existe mesmo com a promessa de pagamento. Estão sendo processados porque prometeram pagar propina a agentes públicos", afirmou Mesquita.

    Ainda de acordo com os investigadores, os suspeitos interromperam todas as tratativas depois que a primeira etapa da Operação Zelotes foi deflagrada, no início do ano passado.

    Frederico Paiva revelou ainda o advogado Mario Pagnozzi, um dos intermediários entre o banco e os órgão públicos e também denunciado, teria indicado o nome de Trabuco para a presidência do Bradesco.

    OUTRO LADO

    Procurado na tarde desta quinta-feira (28) para se pronunciar a respeito da denúncia envolvendo seus executivos, o Bradesco informou, por meio de assessoria de imprensa, que "reitera sua convicção de que nenhuma ilegalidade foi praticada por seus representantes".

    O banco acrescentou que, em respeito ao rito processual, vai apresentar todos os seus argumentos ao Judiciário no momento oportuno.

    A Folha não conseguiu localizar o ex-chefe da Divisão de Orientação e Análise Tributária da Delegacia Especial de Instituições financeiras em São Paulo Eduardo Cerqueira Leite.

    Em maio do ano passado, ele esteve no Congresso para prestar depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Carf, mas se recusou a responder às perguntas dos parlamentares.

    Na ocasião, Cerqueira Leita contava com um habeas corpus expedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Em junho, a defesa dele afirmou que seu cliente nunca "vendeu soluções" ou serviços ao Bradesco ou qualquer outro ente privado.

    Mário Pagnozzi Júnior também não foi localizado pela reportagem. Quando intimado a prestar esclarecimentos sobre o caso à Polícia Federal, Pagnozzi exerceu o direito de permanecer calado.

    LEIA A ÍNTEGRA DO COMUNICADO DO BRADESCO

    O Banco Bradesco S.A. ("Bradesco") tomou conhecimento da denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal, e de seu recebimento pelo Juiz Federal da 10ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, em relação a integrantes da sua administração.

    O Bradesco esclarece que se trata de um juízo preliminar, decorrente dos argumentos expendidos exclusivamente pelo Ministério Público Federal, e reitera que nenhuma irregularidade ou transgressão legal ou ética foi praticada por seus Administradores, o que restará cabalmente provado durante a instrução do processo.

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