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    Renegociação faz calote no financiamento imobiliário recuar

    DANIELLE BRANT
    DE SÃO PAULO

    01/08/2016 02h00

    Rivaldo Gomes - 5.jun.2016/Folhapress
    Feirão da Casa Própria da Caixa passou a incluir a renegociação de dívidas imobiliárias

    O aumento do número de clientes em busca de renegociação das prestações atrasadas da casa própria e uma maior disposição dos bancos em ouvir as propostas melhoraram os indicadores de inadimplência do mercado imobiliário no primeiro semestre deste ano.

    O calote, medido por dívidas em atraso há mais de 90 dias no financiamento imobiliário, recuou para 1,7% em junho, após se manter em 2,1% de janeiro a maio, de acordo com o Banco Central.

    Já o índice de atraso entre 15 e 90 dias retrocedeu do pico de 9,25% em outubro do ano passado para 8,76%.

    A melhora é atribuída por especialistas não só a uma maior predisposição dos bancos a renegociar as prestações atrasadas, mas também ao aumento dos imóveis retomados pelas instituições no ano passado devido à falta de pagamento dos clientes.

    O número de residências levadas a leilão pela Caixa -principal nome do mercado- subiu 53,8% em 2015 na comparação com o ano anterior. A Caixa detém 66,9% do mercado de crédito imobiliário.

    Ao ver que a possibilidade de perder a casa própria é real, mais mutuários correm para quitar suas pendências, mesmo que tenham que recorrer à ajuda da família, afirma Marcelo Prata, presidente do site de comparação Canal do Crédito.

    DÍVIDA DE IMÓVEIS - Crédito imobiliário em atraso, em % do total de financiamentos

    RESERVA

    Eles foram ajudados por uma maior propensão dos bancos a negociar as dívidas. Entre os cinco maiores bancos de varejo do país, porém, o assunto é tratado com reserva. O único a se estender no tema entre os procurados pela Folha foi o Santander.

    A reportagem apurou que as instituições evitam abordar o assunto para não "estimular" a renegociação da parte de clientes que teriam condições de arcar com as prestações.

    Outro entrave é que o financiamento imobiliário é a última dívida que o cliente costuma deixar de pagar. Quando isso ocorre, o banco considera que é pequena a possibilidade de que ele consiga acertar as contas.

    AUMENTO

    No Santander, as renegociações aumentaram em 50% até junho na comparação com o mesmo período de 2015, afirma Gilberto Abreu, diretor-executivo de negócios imobiliários.

    "A gente tem visto clientes que compraram o imóvel e têm dificuldade de pagar a parcela", diz Abreu. "Micro e pequenos empresários que fecharam as portas de seus comércios, pessoas que perderam o emprego, um dos membros do casal que perde o emprego e compromete a renda familiar."

    A Caixa não informou se houve aumentos nos pedidos de renegociação. A Folha apurou, porém, que a renegociação de financiamento imobiliário cresceu 3% nos últimos 12 meses até junho. O Itaú Unibanco, segundo maior em crédito imobiliário do país, não revela se houve aumento da renegociação, apenas que oferece a possibilidade há pelo menos uma década. O Banco do Brasil, o terceiro na lista, não quis se pronunciar sobre o assunto.

    O Bradesco informou não ter observado aumento de demanda para renegociação de dívida de crédito imobiliário.

    "Casos pontuais são tratados visando encontrar a alternativa mais adequada para que o cliente continue adimplente, salientando que os índices de inadimplência da carteira vêm se mantendo estáveis", afirmou a instituição, em comunicado.

    ALTERNATIVAS

    O cliente que quer renegociar a dívida deve, em primeiro lugar, verificar se tem recursos disponíveis no FGTS. Se tiver, pode usar o dinheiro para abater prestações do financiamento atrasadas.

    Se não houver recursos, o mutuário vai depender da boa vontade do banco e das opções oferecidas.

    Uma alternativa oferecida por Itaú, Caixa e Santander é a chamada incorporação, em que as prestações atrasadas são recalculadas no saldo devedor.

    Neste caso, a taxa de juros e o prazo do contrato não mudam. O problema é que as próximas parcelas ficam mais caras.

    Para o mutuário que está com o orçamento apertado, isso poderia atrapalhar o pagamento.

    Outra possibilidade é o alongamento do prazo. Neste caso, o tempo que já passou é descontado, e um novo contrato é feito. A consequência é que a parcela cai, mas será preciso aditar o contrato, com custos. Itaú Unibanco e Santander têm a opção.

    O Santander oferece ainda a carência, em que o cliente fica seis meses sem pagar o financiamento imobiliário e prioriza a quitação de outras dívidas.

    Depois desse período, o banco aplica uma combinação da incorporação com o alongamento do prazo para facilitar o pagamento das prestações.

    Em geral, as opções são oferecidas para o cliente que tem até três parcelas em atraso.

    Aumenta o número de imóveis levados a leilão -

    VENDA

    O cliente que percebe que não conseguirá pagar o financiamento deveria deixar a emoção de lado e tomar a iniciativa de vender o imóvel, afirma Marcelo Prata, do Canal do Crédito.

    Desta forma, conseguiria quitar a dívida com o banco e, talvez, sobre um pouco para dar de entrada em um futuro imóvel.

    "Se a pessoa está atrasando e passando de 90 dias, tem que assumir logo o problema. Quem perde o imóvel nunca mais financia, porque fica registrado no BC que teve imóvel retomado", afirma.

    "Vender o imóvel antes de ser retomado não é vergonha, é estratégia", acrescenta Prata.

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