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    Com crise, empresas de alto desempenho perdem gás

    FELIPE MAIA
    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    07/08/2016 02h00

    Leticia Moreira/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 18-07-2013, 09h30: Retrato de Valerio Dornelles, dono da Tecno Logys, empresa de solucoes para a construcao civil, decidiu investir 20 milhoes de reais no ramo de producao com a construcao de uma fabrica de blocos ceramicos em Santa Cruz da Conceicao, no Interior de Sao Paulo. (Foto: Leticia Moreira/ Folhapress, MERCADO ABERTO)
    Valério Dornelles, presidente da empresa Tecno Logys, que deve manter o mesmo resultado de 2015

    A Tecno Logys, empresa de tecnologia para a construção civil, estava acostumada a crescer mais de 20% ao ano em faturamento desde 2010. No pico, em 2014, quando estava envolvida na construção da Vila Olímpica, chegou a ter 800 funcionários. Neste ano, empregando cerca de 500 pessoas, espera no máximo repetir o resultado financeiro do ano passado.

    "Não posso descer desse patamar de estrutura, senão perco a capacidade de voltar a crescer quando a economia melhorar", diz o presidente-executivo, Valério Dornelles.

    O caso não é exceção. O número de empresas de alto crescimento caiu pela metade no Brasil entre 2013 e 2015, totalizando 35,8 mil, mostra estudo feito a pedido da Folha pela Neoway, empresa que analisa dados financeiros divulgados pelas empresas.

    Para realizar o levantamento, a companhia cruza informações de órgãos como Ministério do Trabalho, Receita e juntas comerciais.

    Seguindo critérios da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), são consideradas empresas de alto crescimento aquelas que avançam ao menos 20% ao ano em número de funcionários ou faturamento por três anos seguidos.

    O encolhimento desses negócios tem impacto direto na geração de empregos, já que costumam abrir vagas mais rapidamente para suportar o ritmo de crescimento.

    Embora representem menos de 1% do total de empresas no país, elas foram responsáveis por 91,9% das vagas geradas em corporações com ao menos dez funcionários entre 2010 e 2013, de acordo com dados do IBGE. Segundo a Neoway, companhias com esse perfil empregam atualmente 6,2 milhões de pessoas –o número já foi de 10,2 milhões em 2013.

    "Não significa que estão desempregando, mas o potencial de contratação delas diminuiu na crise, diz Jaime de Paula, sócio da Neoway.

    Juliano Seabra, diretor-geral da Endeavor, pondera que nem todas as empresas que deixaram o grupo de alto crescimento estão predestinadas ao fracasso –elas podem continuar crescendo, porém a taxas mais baixas.

    A presidente da rede de salões e produtos de estética Beleza Natural, Leila Velez, diz que o ritmo de contratações ficou mais lento, já que crescimento da empresa foi reduzido a um terço –de 42% em 2014 para 13% em 2015.

    "Fizemos seleção mais agressiva. Sempre fomos exigentes, mas ficamos mais. Tiramos as pessoas que não tinham tanta produtividade", diz a empresária.

    NÃO PENSE EM CRISE

    Os números dessas companhias não são exatamente ruins, já que o PIB do país recuou 3,8% no ano passado. "As empresas com desempenho melhor geralmente culpam menos a crise pelas dificuldades. Elas criam alternativas", afirma Seabra.

    A Beleza Natural desenvolveu o modelo de expansão por meio de quiosques, que têm estrutura mais barata e podem ser deslocados caso os pontos escolhidos não deem resultado. A Tecno Logys passou a produzir projetos para obras de terceiros.

    Para Daví Antunes, professor da Facamp (Faculdades de Campinas), mesmo nas crises, "há sempre empresas que acham um nicho em que o mercado ainda está dinâmico, mas é exceção".

    A paranaense TecVerde, criadora de um processo industrial para casas com base em madeira, tem dobrado a receita desde 2011, saindo de 12 funcionários para 150.

    Para manter o ritmo, passou a se concentrar em faixas do programa Minha Casa Minha Vida que dependem menos de subsídios do governo.

    "Tivemos que nos concentrar no que pode trazer mais ganho de escala", diz o presidente Caio Bonatto.

    Seabra faz uma comparação com o impacto que a crise de 2008 teve sobre as empresas de alto crescimento nos EUA, quando o número caiu de 130 mil para 80 mil. Hoje o número já ronda o patamar de 100 mil.

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