• Mercado

    Tuesday, 07-May-2024 04:16:44 -03

    Com juro negativo, bancos europeus avaliam guardar dinheiro em espécie

    DO "FINANCIAL TIMES"

    19/08/2016 02h00

    Bernd Kammerer/Associated Press
    Crescimento econômico da zona do euro desacelerou no segundo trimestre
    Escultura do Euro diante da sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt, na Alemanha

    A ideia de manter pilhas de dinheiro em cofres de alta segurança espalhados pela Europa pode parecer algo tirado de um filme antigo, mas, com a adoção dos juros negativos em muitas partes da Europa, alguns bancos e seguradoras passaram a considerar essa hipótese.

    As rodovias europeias ainda não estão congestionadas de caminhões carregando dinheiro para locais secretos. Porém, se os juros caírem ainda mais e os bancos consideraram que é financeiramente sensato formar reservas de dinheiro em espécie, isso pode reduzir sensivelmente os efeitos da política de bancos centrais de usar a taxa negativa para estimular o crescimento econômico.

    Depois do mais recente corte de juros do Banco Central Europeu (BCE), em março, os bancos do setor privado estão pagando o que equivale a uma contribuição anual de 0,4% sobre a maioria do montante depositado nos BCs da zona do euro.

    Essa política, que já custou € 2,64 bilhões aos bancos desde que o BCE adotou juros negativos em 2014, tem por objetivo acelerar o crescimento ao criar incentivos para que os bancos emprestem dinheiro a empresas, em vez de deixá-lo parado.

    Os dirigentes dos bancos centrais europeus dizem que podem cortar de novo as taxas de juros caso as condições econômicas se agravem, mas executivos de bancos e seguradoras privados já estão pensando em maneiras criativas de evitar completamente esse custo.

    Uma das maneiras seria transformar o dinheiro eletrônico que mantêm depositado nos BCs em dinheiro físico.

    A seguradora Munich Re conduziu uma experiência bem-sucedida de manter uma dezena de milhões de euros armazenada em forma física, a um custo que ela descreve como administrável.

    Alguns outros bancos alemães, como o Commerzbank, a segunda maior instituição de empréstimos do país, também estão considerando seguir esse exemplo.

    Mas, quando um fundo de pensões suíço tentou sacar de seu banco uma grande quantia em espécie, a fim de armazená-la em um cofre, o banco se recusou a fornecer o dinheiro, de acordo com reportagens na imprensa local.

    Total de euros em circulação e mantido por bancos - € 2,075 trilhões

    PROBLEMAS

    Se essa prática se generalizar, poderá ter grandes implicações econômicas. Se os bancos não tiverem de pagar juros aos BCs pelo dinheiro que tenham depositado neles, não serão mais tão afetados pelos cortes nas taxas de juros oficiais. Portanto, não seriam estimulados a fazer mais empréstimos.

    Felizmente para os bancos centrais, a armazenagem de dinheiro em forma física cria uma série de outros custos.

    Parte deles se relaciona ao transporte e armazenagem, ainda que estes não sejam os maiores problemas.

    Retirar um grande montante do banco central de uma vez manteria baixos os custos de transporte, e o alto valor das cédulas de euros e francos suíços das maiores denominações significaria que grandes quantias poderiam ser armazenadas formando volumes pequenos.

    Ladrões, terremotos e outros desastres imprevisíveis, por outro lado, são um problema. Ou melhor, o problema é encontrar uma seguradora disposta a encarar os riscos cobrando um preço razoável.

    "Ninguém mantém dinheiro armazenado por períodos longos. No momento, o dinheiro entra e sai rapidamente para os caixas automáticos", disse um banqueiro alemão, que estudou o custo de adotar armazenagem de dinheiro físico. Ele estimou que o custo de seguro seria de provavelmente 0,5% a 1% do valor das notas armazenadas. Isso seria mais alto que o custo dos juros negativos do BCE, mas se aproximaria da cobrada pelo banco central suíço —a taxa fica em uma faixa entre -0,25% e -1,25% ao ano.

    Dinheiro na mão

    PROTESTOS

    Um banqueiro alemão afirmou ser improvável que armazenar dinheiro em espécie se torne prática comum. A medida serviria, em lugar disso, como forma de os bancos protestarem contra o impacto dos juros negativos.

    "Seria sensato para dois ou três bancos... a fim de deixar claro que há um piso para os juros negativos", ele disse. "[Guardar dinheiro em espécie] não serve aos interesses de pessoa alguma. Custaria muito aos bancos e significaria claramente que os BCs não têm o que fazer para baixar as taxas de juros, no momento. Todos os lados querem evitar que isso aconteça."

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024