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    Presidente da Vice prevê 'banho de sangue' na mídia tradicional

    DAVID BOND
    DO "FINANCIAL TIMES"

    24/08/2016 19h53

    Brian Ach/Getty Images for TechCrunch
    Shane Smith, presidente-executivo da Vice
    Shane Smith, presidente-executivo da Vice

    Shane Smith, 46, cofundador e presidente-executivo da Vice, produtora de vídeos noticiosos on-line que está abalando as fundações de seus rivais tradicionais, previu um "banho de sangue" entre as maiores companhias mundiais de mídia. A luta se daria garantir um futuro em um setor que ainda está aprendendo a conviver com o desordenamento digital.

    Smith, antigo músico punk que virou empreendedor de mídia, falou antes de proferir a prestigiosa palestra McTaggart Lecture, no Festival Internacional de TV de Edimburgo (Escócia) —um dos momentos-chave no calendário do setor de mídia.

    O executivo disse que empresas como a 21st Century Fox, de Rupert Murdoch, a Viacom e a Time Warner teriam de buscar consolidação, diante da queda de audiência e do envolvimento cada vez menor da geração mais jovem de telespectadores.

    "Já vimos uma grande consolidação neste ano, e no ano que vem haverá um banho de sangue", disse Smith antes de sua palestra.

    "A Fox já apresentou oferta pela Time Warner. A Apple apresentou oferta pela Time Warner e também quer comprar a Netflix. Se a Viacom continuar com sua implosão shakespeareana —que é uma glória de assistir, para mim— veremos todo mundo tentando abocanhar pedaços", afirmou.

    "Nos próximos seis meses, todo mundo vai tentar comprar todo mundo e vamos ficar sentados, rindo de cair", ele disse.

    As declarações de Smith surgem no momento em que o setor de mídia se prepara para um período de nova reacomodação. O anúncio da Univision de que adquiriria a Gawker Media, na semana passada, foi só a mais recente transação. Em julho, a Verizon adquiriu o Yahoo por US$ 4,8 bilhões, depois de ter adquirido a AOL por US$ 4,4 bilhões no ano anterior, e a NBCUniversal, do grupo Comcast, recentemente adquiriu participações acionárias na Vox Media e BuzzFeed.

    Essas manobras surgem em um período de queda de audiência para a TV a cabo nos Estados Unidos, o que significa queda no crucial faturamento publicitário, porque os telespectadores agora preferem assistir a vídeos on-line, por meio de serviços digitais como o Netflix ou o YouTube.

    A consultoria PwC previu que neste ano a receita da publicidade digital superará a da publicidade televisiva pela primeira vez nos Estados Unidos.

    Tendo ganho importância cinco anos atrás ao começar a trabalhar com vídeo on-line, a Vice se tornou um potencial alvo para as empresas de mídia tradicional, em seu esforço de atingir audiências mais jovens.

    Em dezembro passado, a Disney investiu US$ 400 milhões para dobrar sua participação na Vice Media para 10%, em uma transação que avaliou a empresa sediada em Brooklyn, Nova York, em mais de US$ 4 bilhões. Dois anos antes, a Fox havia adquirido uma participação de 5% por US$ 70 milhões.

    Smith disse que estava vivendo um dilema para decidir se deve ou não vender. "Faço algo de bom por mim e fico, e continuo independente, ou faço algo de bom por meus acionistas?", ele disse.

    Tendo fundado a companhia como revista, com dois amigos, em 1994, Smith a expandiu e hoje ela tem presença em 55 países do planeta. No mês que vem, a Vice lançará seu canal de TV, o Viceland, no Reino Unido, em parceria com a Sky TV.

    Em notas divulgadas à mídia antes de seu discurso em Edimburgo, Smith acrescentou que "existe uma revolução em curso na mídia. É assustadora e rápida, e a coisa será feia".

    "Em longo prazo, ela mudará o campo de jogo, com uma dose entre pequena e moderada de caos, e um mercado veloz, sempre mutável e altamente volátil, no qual só as mais ágeis e dinâmicas empresas sobreviverão", ele afirmou.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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