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    Para analistas, socorro é necessário, mas foge ao padrão do BNDES

    JOANA CUNHA
    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    26/08/2016 02h00

    O programa lançado pelo BNDES para ajudar as empresas em dificuldades financeiras divide analistas. Se por um lado desvia o banco de seu objetivo principal, que é financiar investimentos novos, por outro poderá contribuir para viabilizar a venda de empresas em má situação.

    Segundo o economista José Roberto Afonso, do Ibre/FGV, o elevado endividamento das empresas, que acabaram asfixiadas pelo aumento dos juros e alta do dólar, levou o banco a agir.

    "Pelo visto, o mercado não deu conta. E esperava-se que estrangeiros entrassem e comprassem as empresas brasileiras em má situação financeira, mas também não devem estar dando conta."

    Ele critica, porém, que seja o BNDES o instrumento escolhido pelo governo para mitigar o problema.

    "Foge ao padrão do BNDES, que é o fomento para projetos de novos investimentos", diz ele. "O BNDES é usado para fazer uma função que é própria do governo ou do Banco Central".

    Renato Soriano, sócio da Rosenberg Partners, concorda que esse papel deveria ter sido cumprido pelo mercado, mas ressalva que não houve crédito disponível para isso.

    A advogada Marina Schneider, sócia do escritório Mattos Filho, diz que há interesse de empresas em adquirir outras em dificuldade, mas o volume de negócios que se concretizam não corresponde.

    "É uma iniciativa que faz sentido no momento de crise: em vez de criar projetos novos, ele financia os já existentes, que podem ser bons, mas estão precisando de ajuda", afirma Soriano. "Não sendo a taxas subsidiadas, mas sim a custo de mercado, não tem impacto fiscal."

    FALTA DE OPÇÃO

    Sérgio Lazzarini, professor do Insper e estudioso das relações entre governos e investidores privados, diz ter estranhado o anúncio.

    "Trata-se de negociação privada. Não vejo por que um banco de desenvolvimento entrar no processo."

    José Roberto Afonso observa que, nos EUA, durante a crise global de 2009, quem prestou esse tipo de socorro foi o próprio governo.

    "O governo dos EUA comprou participações acionárias diretas até em montadoras", diz. Ele lembra que o BNDES já fez isso no passado.

    "Os nomes mudam, mas a essência é a mesma. Em outros tempos já chamaram esses empréstimos de operação hospital e recentemente, de reestruturação financeira."

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