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    No 1º semestre, 39% dos reajustes salariais ficam abaixo da inflação

    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    02/09/2016 02h00

    Marcos Santos/USP Imagens
    30/10/2014 – Brasil – Pela primeira vez em seis meses, o Banco Central (BC) alterou os juros básicos da economia. Por 5 votos a 3, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic para 11,25% ao ano. A taxa está no maior nível desde novembro de 2011, quando estava em 11,5% ao ano nota de real | fotos publicas
    Notas e moeda de real; 39% dos reajustes salariais ficam abaixo da inflação

    As altas taxas de desemprego e inflação colocaram os trabalhadores em forte de desvantagem para negociar seus reajustes salariais no primeiro semestre deste ano.

    Quase 40% das negociações coletivas resultaram em reajustes abaixo da inflação, segundo levantamento do Dieese. Como base de comparação, ao fim do primeiro semestre de 2014, quando a crise ainda não havia impactado com força o mercado de trabalho, era de apenas 3% a média dos reajustes que ficavam inferiores ao INPC. No ano passado, o índice havia subido para 15%.

    O volume de negociações que resultaram em ganhos reais para os trabalhadores, por sua vez, caiu. Só 24% conseguiram elevar o poder aquisitivo de seus salários e 37% empataram as correções com a inflação.

    A variação real média dos reajustes no primeiro semestre ficou 0,5% abaixo da inflação. Trata-se do pior desempenho das negociações desde o primeiro semestre de 2003, segundo o Dieese.

    José Silvestre, coordenador da entidade, afirma que em 2015 já havia sinais da trajetória negativa, mas as dificuldades agora se aprofundam.

    CARTEIRA VAZIA - Número de acordos de reajuste salariais fechados

    O acompanhamento realizado pelo Dieese com mais de 300 unidades de negociação da indústria, do comércio e dos serviços mostra que, entre 2012 e o início de 2015, preservou-se uma regularidade no comportamento das negociações salariais, com um prevalência das correções acima do INPC e raros casos de reajustes inferiores.

    A partir de fevereiro de 2015, a proporção de reajustes inferiores ou empatados com a inflação começou a subir, enquanto os ganhos reais diminuíram.

    O setor de serviços teve a maior proporção de reajustes abaixo do INPC (44%). Na indústria (33%) e no comércio (39%), o volume de perdas reais foi menor.

    Guilherme Brendler/Folhapress
    Assembleia de motoristas e cobradores de ônibus; categoria aceitou reajuste e desistiu de greve
    Assembleia de motoristas e cobradores de ônibus; categoria aceitou reajuste abaixo da inflação

    NEGOCIAÇÃO DURA

    "A aceleração inflacionária e o aumento do desemprego corroem o salário e aprofundam a queda da massa salarial. Isso tudo configura um cenário mais difícil para a negociação", afirma Oliveira.

    Miguel Torres, vice-presidente da Força Sindical, diz que, além da dificuldade de corrigir salários, os sindicatos estão tendo de combater a "pressão para tirar direitos da Constituição", na esteira das discussões sobre a pretensão do atual governo de realizar reforma trabalhista.

    Regina Madalozzo, professora do Insper, diz que o desemprego é um dos grandes motivos pelos quais as negociações salariais estão difíceis. "Há uma correlação: se há mais desempregados dispostos a serem contratados por menos, o salário se achata."

    Outra consequência do endurecimento das negociações para o lado dos trabalhadores é o parcelamento dos reajustes. No primeiro semestre, mais de 25% foram pagos em duas ou mais parcelas. No primeiro semestre de 2014, essa índice rondava os 5%.

    CARTEIRA VAZIA - Evolução da taxa de desemprego, na média móvel trimestral, em %

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