"Breaking Rockefeller" [Desafiando Rockefeller, em tradução livre], de Peter B. Doran, é um livro que trata da formação de grandes conglomerados privados de petróleo no final do século 19 e no início do século 20 e da disputa travada por eles pelo controle do ouro negro.

Doran faz um recorte bem específico desse momento: o surgimento da britânica Shell e da holandesa Royal Dutch e de como, ao unirem seus negócios após muitas desavenças e confrontos, elas foram finalmente capazes de fazer frente à Standard Oil, o poderoso império americano criado por John D. Rockefeller..

Considerado por muitos a pessoa mais rica que já viveu na Terra, excluindo monarcas e ditadores, Rockefeller era responsável pelo refino de 80% do petróleo mundial, além de ter seus próprios poços e postos de combustível. Seu poder monopolístico resistia a tentativas de regulação por parte da Justiça e do governo americano.

Não é preciso ter nenhuma relação com a indústria de óleo e gás para se fascinar com a narrativa de Doran, que, com sua prosa envolvente, apresenta a história a partir de seus personagens.

A figura central é o inglês Marcus Samuel, filho de um imigrante judeu que vendia porta-retratos decorados com conchas para turistas das praias inglesas (daí o nome Shell) e que entrou no ramo de transporte e comercialização de petróleo movido pela vontade de ter o nome aceito e respeitado pelos nobres súditos de Rainha Victoria.

Foi condecorado depois de emprestar seu navio-tanque de petróleo para patrioticamente desatolar um navio da marinha britânica. Morreu Visconde em 1927, realizado por ter conseguido convencer o primeiro-ministro Winston Churchill a adotar o petróleo importado como combustível para a frota da Royal Navy, em substituição ao carvão, que o país possuía em abundância.

	Wikimedia Commons
	Marcus Samuel, criador da petroleira Shell

Há ainda Henri Deterding, um holandês ambicioso e discreto que desbravou a exploração de petróleo no meio da selva na ilha de Sumatra (Indonésia), resistiu a uma oferta de aquisição de Marcus Samuel e acabou engolindo o adversário tempos depois.

Também interessante é a figura da jornalista Ida Tarbell, que conseguiu um dos maiores furos do jornalismo de negócios de todos os tempos ao revelar os métodos nada ortodoxos (para não dizer ilegais) de Rockefeller em uma reportagem com 19 capítulos publicada na revista "McClure" –levando ao primeiro processo de defesa de concorrência nos EUA.

E obviamente, o próprio todo poderoso Rockefeller, obcecado por livros-caixa e que comemorava anualmente o aniversário de seu primeiro emprego como se fosse o seu próprio aniversário. Que ia trabalhar de transporte público para fugir do trânsito caótico e que, quando velho, gostava de namorar e passar a mão nas moças no banco de trás do automóvel.

Um sujeito um tanto excêntrico que conseguiu pôr ordem na desordenada exploração de petróleo nos idos de 1860-80 comprando e destruindo seus concorrentes.

CENÁRIOS

Seguindo a trilha das grandes descobertas de petróleo, "Breaking Rockefeller" leva o leitor a diversos destinos, como Titusville, Pensilvânia, em 1859, onde, às margens do rio Oil Creek, se perfurou o primeiro poço de petróleo, dando origem a uma corrida do ouro negro ensandecida.

O "Oildorado" na Pensilvânia atraía todo tipo de gente em busca de fortuna fácil –trazendo junto cassinos, alcoolismo, prostituição e muitos passivos ambientais.

Quadro décadas depois, somos levados a Baku, às margens do mar Cáspio, onde poços de petróleo ardem em chamas em uma violenta greve de petroleiros que serviu de estopim para a Revolução Russa de 1905.

O episódio introduziu o "risco geopolítico" no negócio de exploração de petróleo e acabou forçando a Shell, que tinha uma enorme dependência em relação à Rússia, a vender o controle para a Royal Dutch. A união das duas potências europeias, num momento em que a Justiça dos EUA obrigava a Standard Oil a se desmembrar, abriu o caminho para a bandeira da Shell conquistar o mercado americano.

"Breaking Rockefeller" é um elogio ao empreendedorismo e aos grandes avanços tecnológicos alcançados devido ao fato de a indústria ter nascido da livre iniciativa. Mas não deixa de reconhecer os efeitos nocivos que a completa falta de regulação pode provocar –dos estragos ambientais a preços abusivos para o consumidor final na bomba do posto.

*Breaking Rockefeller *
AUTOR Peter B. Doran
EDITORA Viking
QUANTO R$ 48,95 na amazon (344 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo