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    Soma dos salários volta a nível pré-crise só em 2018

    FERNANDA PERRIN
    DE SÃO PAULO

    04/09/2016 02h00

    J.Duran Machfee/Folhapress
    Trabalhadores enfrentam longa fila de emprego no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, nesta terça-feira
    Trabalhadores enfrentam longa fila de emprego no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo

    A economia deve levar pelo menos mais dois anos para que a massa salarial real –a soma dos rendimentos recebidos pelos trabalhadores descontada a inflação– volte ao nível anterior à recessão, calculam economistas.

    O indicador já encolheu quase R$ 10 bilhões desde o trimestre encerrado em dezembro de 2014, quando a massa total atingiu o recorde de R$ 185,24 bilhões, de acordo com dados do IBGE com ajuste sazonal do Bradesco.

    Octavio de Barros, economista-chefe do banco, projeta que o valor deve ser alcançado novamente somente no terceiro trimestre de 2018. Na avaliação do Santander, isso acontecerá apenas em 2019.

    A massa salarial real deve demorar mais para superar a recessão porque o mercado de trabalho reage devagar a mudanças na economia. Por serem custosas ao empregador, decisões de contratação e demissão levam mais tempo para serem tomadas.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Massa salarial real, descontada a inflação, em R$ bilhões*

    Essa recuperação lenta do indicador freia uma retomada mais vigorosa do crescimento econômico porque prejudica o poder de compra dos trabalhadores.

    Com menos dinheiro para gastar, eles consomem menos, diminuindo a demanda interna –principal motor da economia brasileira.

    CAUSAS

    A variação negativa decorre tanto do aumento do desemprego quanto da diminuição dos valores pagos a quem segue ocupado.

    Do lado da renda, a piora resulta da disparada da inflação, que corrói o valor real dos salários, e da falta de reajustes, uma vez que o número elevado de trabalhadores em busca de emprego enfraquece seu poder de barganha.

    Desemprego x salários - Por ano, em %

    De acordo com levantamento do Dieese, 39% dos reajustes salariais negociados no primeiro semestre ficaram abaixo da inflação, enquanto 37% conseguiram apenas corrigi-la. Até 2014, mais da metade das negociações resultava em ganhos reais acima da inflação.

    Outro problema é a rotatividade. "Os salários das pessoas recentemente admitidas vem mostrando uma variação negativa, enquanto salários de quem foi recentemente demitido têm variação positiva. É a substituição de mão de obra mais cara pela mais barata", diz Rodolfo Margato, economista do Santander.

    Essa troca deve dificultar a melhora da renda da população, diz Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese.

    "A inflação em queda tende a diminuir a pressão de perda salarial, mas não consegue compensar o desemprego e a rotatividade. Você perde intensidade na queda, mas ela continua", afirma.

    Do ponto de vista da ocupação, ainda que a atividade econômica cresça no início de 2017, como esperam analistas, a taxa de desemprego deve ficar estável em nível elevado no próximo ano.

    "O mercado de trabalho vai conseguir absorver novos entrantes, mas não será suficiente para reduzir a taxa de desemprego", afirma o economista e pesquisador da FGV Bruno Ottoni.

    DESIGUALDADE

    A diminuição nos salários e o aumento do desemprego atingem de modo diferente informais e formais, do setor privado e do setor público.

    "A destruição de postos formais é mais difícil em razão dos custos de demissão e admissão. São categorias mais resilientes", diz Margato, do banco Santander.

    Entre aqueles com carteira assinada, porém, a desigualdade pode diminuir. "Vemos uma tendência nas negociações sindicais de reajuste menor entre os salários mais altos em comparação com os mais baixos. Mas isso não é uma redução virtuosa da desigualdade, porque você está achatando os salários do topo", diz Lúcio, do Dieese.

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