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    Temer oferece Brasil à China no pior momento do comércio em uma década

    ÁLVARO FAGUNDES
    EDITOR-ADJUNTO DE "MERCADO"
    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    04/09/2016 02h00

    Aly Song/Reuters
    Brazil's President Michel Temer arrives at the Hangzhou Xiaoshan international airport before the G20 Summit in Hangzhou, Zhejiang province, China September 2, 2016. REUTERS/Aly Song ORG XMIT: SHA04
    O presidente Michel Temer chega ao aeroporto de Hangzhou, na China, para cúpula do G-20 no país

    Os esforços do presidente Michel Temer em vender o Brasil como uma terra de oportunidade para os empresários chineses acontecem em um momento em que a importância do país para as vendas do gigante asiático retrocederam uma década.

    O Brasil é o país que mais diminuiu suas compras entre os principais parceiros comerciais chineses – queda de 34% de janeiro a julho em relação a igual período de 2015.

    A consequência é que a sua participação nas vendas do parceiro foi reduzida ao menor nível desde 2007: 0,99% (ou US$ 11,5 bilhões) das exportações chinesas. Em 2011, elas chegaram a ser 1,7%, de acordo com dados oficiais do país asiático.

    A diferença, à primeira vista, parece irrisória, mas cada um ponto percentual no comércio do maior exportador mundial representou em 2015 US$ 23 bilhões, equivalentes a 13% da compra brasileira.

    A queda nas compras não só é explicada pela recessão brasileira como também é um retrato claro dos problemas da economia do país, que acumula seis trimestres consecutivos de retração.

    Se, por um lado, a demanda menor por eletroeletrônicos chineses (como celulares e computador) reflete a queda no consumo das famílias, por outro, a retração na compra de máquinas está ligada aos investimentos menores do governo na economia.

    "Esses dois setores respondem pela maior parte da importação da China. Aliás, seria até esperada uma redução maior, dado que tudo ficou muito parado no Brasil por causa das incertezas", afirma André Soares, economista do BID e especialista em China.

    De acordo com ele, a viagem de Temer, iniciada na sexta-feira (2) e que inclui o encontro dos líderes do G20, pode ajudar a impulsionar os negócios (os chineses são os maiores compradores estrangeiros de empresas brasileiras neste ano), mas, antes, é preciso mostrar estabilidade macroeconômica.

    Klaus Curt Müller, diretor da Abimaq (associação da indústria de máquinas e equipamentos), afirma que não haverá retomada enquanto a indústria não voltar a produzir a um nível alto o bastante para justificar novos investimentos em maquinário.

    O recuo nas importações de máquinas da China (principal origem em quantidade das compras do setor) foi de 20,8% de janeiro a julho de 2016 ante o mesmo período de 2015. Nas demais origens, a queda foi de 16,49%.

    Apesar da diminuição na compra de itens estrangeiros, não é possível esperar um fortalecimento da fabricação nacional, segundo Müller, se o câmbio não se mantiver em um patamar favorável, a partir de R$ 3,30 ou R$ 3,40 (hoje está na casa dos R$ 3,25), que permita a competição com o produto estrangeiro.

    No setor de eletroeletrônicos, a queda das importações da China no primeiro semestre foi de 38,7%, diz Humberto Barbato, presidente da Abinee (entidade do setor).

    "Infelizmente, a importação de componentes eletrônicos da China para o Brasil caiu não porque ficamos autossuficientes e passamos a produzir aqui. A queda se explica, principalmente, pela nossa redução de atividade econômica", diz.

    VESTUÁRIO

    A produção nacional tem limitações que dificultam a substituição das peças importadas, segundo Edmundo Lima, diretor-executivo da Abvtex, entidade que reúne grandes marcas de varejistas, como C&A, Centauro, Riachuelo e outros.

    "Entre 2014 e 2015, a participação dos importados em geral ficava em torno de 35%.

    Para 2016, isso cai para 20%. A indústria nacional está cumprindo o papel de substituir, mas ainda há muitas dificuldades como os itens de inverno e os materiais de fibra sintética", diz Lima.

    O setor de vestuário e acessórios concentrou queda nas importações chinesas, em valor, de 53% no primeiro semestre deste ano, mostram dados do governo brasileiro.

    *

    MENOS COMPRAS DA CHINA

    34,2%
    foi a queda das exportações chinesas de janeiro a julho de 2016 ante igual período de 2015

    US$ 11,5 bi
    foram as exportações chinesas para o Brasil de janeiro a julho deste ano

    US$ 17,5 bi
    foram as exportações chinesas para o Brasil de janeiro a julho de 2015

    0,99%
    foi a participação brasileira no total das vendas chinesas de janeiro e julho

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