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    Tecnologia tem mais peso que S&P no índice de mercados emergentes

    STEVE JOHNSON
    DO "FINANCIAL TIMES"

    12/09/2016 02h00

    Rizwan Tabassum/AFP
    Tecnologia supera S&P no índice de ações de mercados emergentes
    Tecnologia supera S&P no índice de ações de mercados emergentes

    As ações de tecnologia hoje respondem por fatia maior do principal índice de ações de mercados emergentes do que é o caso no S&P 500, de Wall Street, a primeira vez que isso acontece desde agosto de 2008.

    A reversão simboliza uma reformulação radical do índice MSCI Emerging Markets, que em 2007 tinha peso de 33% para ações relacionadas a commodities nos setores de energia e matérias-primas e apenas 10% para a tecnologia.

    Essa relação agora se inverteu, com as ações de tecnologia hoje respondendo por 23% do índice MSCI, confortavelmente acima do peso de 14% das ações de commodities.

    No entanto, de muitas maneiras isso representa mais um retorno à forma que predominava antes do superciclo das commodities nos anos 2000 do que uma mudança estrutural sem precedentes.

    As ações de tecnologia tiveram peso superior às de commodities no MSCI-EM em 2000, antes da contração do setor de tecnologia e do boom nas commodities, ainda que a vantagem do setor de tecnologia hoje seja significativamente maior do que era na época.

    O peso absoluto do setor de tecnologia no índice de mercados emergentes também subiu para acima do pico atingido no boom da Internet, quando seu peso era de 1,7%, em abril de 2000.

    E é notável que as empresas de tecnologia agora tenham presença maior no MSCI do que no S&P 500, no qual seu peso é de apenas 21%, a despeito da renomada ascensão do grupo "Fang" no começo de 2015, quando Facebook, Amazon, Netflix e Google (hoje Alphabet) registraram cada qual mais de 30%de alta.

    Como Jan Dehn, diretor de pesquisa da Ashmore Investment Management, uma administradora especializada em mercados emergentes, aponta, sete das 10 maiores ações do MSCI são hoje de tecnologia: o trio chinês Tencent Holdings, Alibaba e Baidu, a sul-africana Naspers (cujo principal ativo é sua participação de 34% na Tencent), a dupla sul-coreana Samsung Electronics e TSMC (fabricante de chips), e a Hon Hai Precision Industry, de Taiwan, mais conhecida como Foxconn.

    A Tencent ultrapassou temporariamente a China Mobile e se tornou a mais valiosa companhia da Ásia, pela primeira vez esta semana, com capitalização de mercado de US$ 257 bilhões.

    A ascensão da Tencent simboliza de que a maneira a composição das empresas de tecnologia no MSCI mudou, e muito, a partir de outubro de 2002, quando a vantagem da tecnologia nesse índice, ante o S&P 500, era a mais alta.

    Então, o índice era dominado por empresas dos segmentos de semicondutores e equipamento eletrônico, como Samsung, TSMC, United Microelectronics e Hon Hai, bem como um punhado de grupos de hardware taiwaneses, a exemplo da Asustek Computer, Quanta Computer, Compal Electronics, Lite-On Technology e Acer. Apenas uma empresa de Internet, a Check Point Software, de Israel, era parte dele.

    Hoje, ainda que alguns dos nomes daquele período permaneçam, o índice é dominado por empresas de Internet, como a Naver e a Netease, ao lado da Tencent, Alibaba e Baidu. A ascensão da China continental, em detrimento de Taiwan, é inconfundível.

    "As percepções sobre os mercados emergentes em geral ficam aquém da realidade, às vezes por décadas. Em parte alguma isso está mais evidente do que na percepção sobre as ações de mercado emergente, onde a opinião de consenso continua a ser a de que o índice MSCI é primordialmente de commodities e uma jogada cíclica. Essa visão é antiquada e incorreta", disse Dehn.

    Ali Unwin, vice-presidente de tecnologia da Netpune Investment Management e administrador do fundo Neptune Global Technology, concorda em que os investidores ainda tendem a pensar no mercado emergente como dominado por setores como o de commodities.

    No entanto, ele encara a ascensão do setor chinês de comércio eletrônico, inspirada pelas potências sul-coreanas da tecnologia que estão presentes no índice há mais tempo, como um sinal de mudança fundamental.
    "Há mais de um ano venho recomendando as empresas de Internet chinesas, porque acreditamos que há muito crescimento por vir. A quantidade de coisas vendidas online deve dobrar na China entre 2015 e 2018. Isso é extraordinário", diz Unwin, que acredita ser inevitável que o comércio eletrônico se expanda muito mais rápido na China do que se expandiu nos Estados Unidos, quando a Amazon estava começando a crescer.

    "A Amazon estava concorrendo com a Walmart, Costco, Target. Quando começou, tinha competidores offline muito bem geridos. Na China isso não existe. Por isso, o ritmo de crescimento vem sendo mais rápido e em nossa opinião pode se provar mais sustentável e persistir por muito mais tempo", ele diz. "É muito empolgante. Não estamos vendo só a substituição de algo que já estava lá".

    TERCEIRIZAÇÃO

    Unwin também está entusiasmado com diversas empresas especializadas em terceirização de tecnologia nos mercados emergentes, como a Luxoft, da Rússia, a Globant, da Argentina, e a Epam Systems, de Belarus. Que as três tenham ações cotadas em Nova York (e por isso não contribuam para o peso do setor de tecnologia no índice MSCI) sugere que a presença do setor de tecnologia nos países emergentes é ainda mais forte do que pode parecer.

    Dehn argumenta que os países de mercado emergente conseguem "pular estágios inteiros de desenvolvimento ao adotar a tecnologia mais atualizada", o que permite que essas nações "acelerem sua convergência para com países mais ricos".

    Esse argumento do "salto de estágios" foi muito empregado este ano por administradores de fundos que tentavam explicar por que a aposta no chamado grupo TICK (Taiwan, Índia, China e Coreia do Sul, de países onde a tecnologia é forte) substituiu o antigo grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) como base para a formação dos fundos de mercado emergente.

    Luke Richdale, vice-presidente de administração de carteiras de clientes, mercados emergentes, na JPMorgan Asset Management, disse na época que "estamos vendo salto de estágios [na tecnologia] acontecendo na China. Há modelos econômicos do Ocidente, o varejo físico etc., que nunca se desenvolverão lá".

    Richard Sneller, diretor de ações de mercados emergentes na Baillie Gifford, acrescentou que "em muitos mercados emergentes, a velocidade com que os consumidores jovens se adaptam às mudanças tecnológicas, em áreas como o comércio eletrônico e as compras online, é muito maior que nos Estados Unidos".

    "Tendências que esperávamos ver emergindo em 15 a 20 anos já estão gerando fluxos de caixa significativos", ele acrescentou.

    Um ponto mais amplo proposto por Dehn não necessariamente se sustenta, porém. O crescimento das companhias de tecnologia nos países emergentes alimenta sua hipótese de que aquilo que ele define como setores de "crescimento estrutural", por exemplo tecnologia, bens de consumo e saúde, está se tornando mais dominante no índice MSCI, em detrimento de setores de "crescimento cíclico" como a energia, matérias-primas e indústria.

    As empresas de crescimento estrutural têm "visibilidade maior de receita por múltiplos anos, se comparadas às cíclicas, e por isso os investidores devem se dispor a pagar um múltiplo mais alto", argumenta Dehn.
    Como resultado, ele diz que as ações de mercados emergentes "deveriam ser negociadas com ágio ante suas avaliações históricas, enquanto o diferencial de avaliação com relação às ações de mercados desenvolvidos deveria se estreitar ou mesmo inverter".

    No entanto, nenhuma dessas coisas aconteceu. As avaliações de ações de mercados emergentes, medidas com base em indicadores futuros de preço/lucro, continuam a respeitar suas normas históricas, em um período em que as ações de países desenvolvidos encareceram muito.

    Dehn apresenta provas mostrando que que a combinação entre setores cíclicos e estruturais dentro do índice MSCI mudou significativamente nos últimos 10 anos: partindo de uma situação de equilíbrio, os setores estruturais desenvolveram uma vantagem de 30 pontos percentuais.

    Se reconduzirmos a análise a 2000, no entanto, um quadro diferente emerge. O balanço entre os setores estruturais e cíclicos na verdade está de volta ao ponto que ocupava no começo do milênio.

    Entre esses dois momentos, passamos por um ciclo de expansão e contração das commodities, que conduziu o peso dos setores cíclicos a uma alta e o dos estruturais a uma baixa. O apogeu desse movimento foi atingido em 2008, mas ele agora se reverteu. Em outras palavras, a mudança no balanço de setores dentro do índice MSCI parece, pelo menos até agora, mais cíclica que uma mudança estrutural.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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