• Mercado

    Tuesday, 07-May-2024 12:21:39 -03

    Cifras & Letras

    Crítica

    Livros analisam mudança de centro geopolítico para a Ásia

    MATIAS SPEKTOR
    COLUNISTA DA FOLHA

    10/09/2016 02h00

    Ding Lin/Xinhua
    O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, cumprimenta o líder chinês, Xi Jinping, durante reunião do G20 na China
    O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, cumprimenta o líder chinês, Xi Jinping, durante reunião do G20 na China

    O centro de gravidade da geopolítica mundial está migrando a passo acelerado do velho Atlântico Norte para o novo Leste Asiático. É na Ásia que se concentram as transformações econômicas, demográficas e políticas mais relevantes de nossa era.

    O arco da história que passava por Washington, Londres, Berlim e Moscou agora passa pelo eixo formado entre São Francisco, Pequim e Nova Déli. Pelo menos isso é o que se ouve nos centros de reflexão de Washington, no subsolo da Casa Branca e nos corredores do Capitólio. Como defende Barack Obama, os Estados Unidos deveriam fazer uma guinada para o Pacífico, reconhecendo a centralidade da Ásia como novo centro nevrálgico das relações internacionais.

    A transformação não é recente. Ela começou com a recuperação econômica do Japão do pós-guerra e seguiu com a revolução capitalista introduzida em 1979 por Deng Xiaoping na China. Sua força reside nas novas dinâmicas do capitalismo global, que produziram um surto de crescimento acelerado naquela parte do planeta.

    Em larga medida, não há nisso nada de novo. Afinal, a história da política internacional foi sempre dominada pela Eurásia -o gigantesco espaço ocupado pelas regiões hoje conhecidas como Rússia, Irã, China e Japão.

    Essa é a tese do professor da Universidade de Oxford John Darwin em seu magistral "After Tamerlane: the Global History of Empire" (Bloomsbury Press, 2009, R$ 32,30 na Amazon). O autor argumenta que o processo de ascensão chinesa nos dias de hoje retoma a proeminência ancestral de Pequim no sistema internacional, depois de três séculos de submissão aos imperialismos europeu e norte-americano.

    O que dizer do futuro? Duas obras recém-publicadas iluminam os principais cenários.

    Gideon Rachman, colunista do jornal britânico "Financial Times", apresenta seu argumento em "Easternisation".

    Para ele, o crescimento econômico chinês levará a conflito crescente com os Estados Unidos. Como o sistema político americano teria perdido a capacidade de impor sua Pax Americana, a China teria o caminho aberto para uma política cada vez mais assertiva e agressiva, refazendo o espaço asiático a sua imagem.

    Na visão de Rachman, a expansão dos interesses chineses mundo afora levará de modo inexorável a mais conflito e tensão. Ele lamenta o fracasso da globalização, promessa de interdependência entre China e Estados Unidos, produzindo um mundo mais estável e afluente. O futuro, segundo ele, será de competição e instabilidade.

    Cooperação

    Anja Manuel oferece uma visão alternativa em seu "This Brave New World". Para ela, a narrativa do declínio americano é tão exagerada quanto a crença segundo a qual o futuro é de pura fricção.

    Ex-diplomata americana, Manuel trabalha na firma de consultoria fundada na Califórnia por Condoleeza Rice (secretária de Estado de George W. Bush) e Robert Gates (secretário de Defesa de Bush e de Barack Obama). No mundo dela, disputas geopolíticas entre Washington e Pequim não ocorrem no vácuo. Fatores como meio ambiente, mudança demográfica, políticas públicas, inovação tecnológica, gênero e corrupção terminam forçando Washington e Pequim a cooperar intensamente.

    Como Rachman, ela acredita que choque de interesses entre os dois países são inexoráveis. Mas, ao contrário dele, ela pensa ser possível gerir o problema de forma eficaz, por meio de um tripé geopolítico que inclui a Índia.

    O livro de Manuel é uma longa defesa da criação de um eixo entre Washington, Pequim e Nova Déli. As três potências tem interesses divergentes e desavenças de longa data. No entanto, a busca fria do interesse nacional de cada um demandará um engajamento produtivo entre os três.

    Esse concerto asiático, afirma ela, seria capaz de evitar uma nova guerra fria, gerando benefícios para todos.

    Na atual conjuntura eleitoral norte-americana, trata-se de uma mensagem de esperança. Afinal, Trump não oferece visão alguma sobre o futuro da Ásia e Hillary promete jogar duro com a China. As campanhas de um e outro tentam se esquivar dos problemas mais persistentes que existem hoje sobre a mesa.

    Easternisation
    AUTOR Gideon Rachman
    EDITORA Vintage Digital
    QUANTO R$ 58,10 na AMazon (288 págs.)
    AVALIAÇÃO bom

    This Brave New World
    AUTORA Anja Manuel
    EDITORA Simon & Schuster
    QUANTO R$ 57,30 na Amazon (368 págs.)
    AVALIAÇÃO bom

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024