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    Indústria brasileira precisa competir, diz chefe de petroleira da Noruega

    NICOLA PAMPLONA
    DO RIO

    10/09/2016 02h00

    Divulgação
    presidente mundial da Statoil Eldar Saetre Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Eldar Saetre, presidente da petroleira norueguesa Statoil

    Pouco mais de um mês após anunciar a compra da área de Carcará, na região do pré-sal, por US$ 2,5 bilhões, o presidente da norueguesa Statoil, Eldar Saetre, passou a semana no Brasil para engrossar o coro das multinacionais do setor por mudanças nas regras para exploração de petróleo no país.

    Em conversas com o presidente Michel Temer e integrantes do governo, Saetre, 60, reforçou a defesa de temas caros para a indústria, como as mudanças nas regras do pré-sal, hoje em discussão na Câmara dos Deputados.

    Em entrevista à Folha, Saetre defendeu menos protecionismo na política de conteúdo local, que obriga as petroleiras a buscar fornecedores nacionais para parte de suas encomendas. "Regulações que desconsideram a competição certamente não levam à competitividade", disse.

    A Statoil é a quinta maior produtora de petróleo no Brasil, com 40.660 barris extraídos em julho no campo de Peregrino, e desenvolve a área de Pão de Açúcar, na Bacia de Campos, com cerca de 1 bilhão de barris. Com Carcará, que adquiriu da Petrobras, tornou-se a terceira maior força do setor no país, atrás da estatal brasileira e da Shell.

    Folha - O que foi discutido em seus encontros em Brasília?

    Eldar Saetre - Encontramos o presidente [Michel Temer] e o ministro de Minas e Energia [Fernando Coelho Filho]. O Brasil é um país cada vez mais importante para nós. Discutimos a indústria do petróleo e gás em geral e como uma companhia como a nossa pode ter um papel no país.

    Que tipo de medidas pediram?

    Nossa indústria é uma indústria de longo prazo, com projetos longos e altos investimentos. Então, a previsibilidade é muito importante. Outra coisa que destacamos foi a legislação do pré-sal: para atrair empresas estrangeiras como a Statoil, é muito importante ser mais flexível com relação ao papel da Petrobras. Porque também gostamos de operar [a exploração dos campos], de ter a oportunidade de usar nossa tecnologia e nossas competências para criar valor para o país. E também discutimos a política de conteúdo local.

    O quê, especificamente?

    Nós apoiamos totalmente o desenvolvimento de uma indústria local. Mas os projetos precisam ser competitivos e os fornecedores também precisam ser competitivos. O que pedimos é uma abordagem flexível com relação ao conteúdo local, com foco em competitividade. Proteger demais pode ser bom no curto prazo, mas certamente não será bom no longo prazo.

    Mas é possível desenvolver uma indústria competitiva contando apenas com a boa vontade das petroleiras?

    Para ser competitivo, tem que competir. Tem que estar competindo ao longo do tempo. Regulações que desconsideram a competição certamente não levam à competitividade. O dinheiro está competindo com outros países, então é importante que o arcabouço seja competitivo.

    Carcará é viável com o preço atual do barril de petróleo?

    Há três anos, nosso portfólio tinha um "breakeven" [preço de viabilidade] de US$ 70 por barril. Agora, está em torno de US$ 40. Então, Carcará terá que competir com um portfólio muito forte. O exato "breakeven" de Carcará ainda não é conhecido. Há muito trabalho a ser feito.

    A Petrobras diz que Carcará precisaria de US$ 10 bilhões em investimentos. A Statoil já tem algum número?

    Muito cedo para dar números. O foco agora é ter o projeto aprovado e depois começaremos a trabalhar no projeto.

    Como o sr. vê a evolução dos preços do petróleo no mercado internacional?

    Estamos confiantes que os preços vão subir, porque o nível de investimento foi reduzido significativamente. A gente ainda não vê efeito disso no mercado, mas em algum momento veremos. Mas exatamente como e quando vai acontecer é altamente incerto. Ainda podemos esperar, por algum tempo, grande volatilidade e incerteza.

    A crise enfrentada pela Petrobras não é uma preocupação?

    Estou convencido de que o Brasil, como país, e a própria Petrobras têm capacidade para lidar com isso. Ao final dessa situação, haverá um Brasil mais forte e uma Petrobras mais forte. Estou impressionado com o profundo conhecimento e a competência tecnológica da Petrobras, e em ver como a nova gestão está atuando para lidar com os problemas.

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