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    Cenário externo e expectativa de reformas deixam dólar mais barato

    DANIELLE BRANT
    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    26/09/2016 02h00

    O dólar no Brasil está mais barato do que espelha o atual nível de risco do país.

    Cotada a R$ 3,24 (no mercado à vista), a moeda americana estaria entre R$ 0,20 e R$ 0,40 mais cara não fosse a expectativa otimista de investidores com o Brasil e com os países emergentes, dizem analistas.

    Na quarta-feira (21), o Fed (banco central dos EUA) indicou que vai levar mais tempo para elevar a taxa de juros dos títulos americanos. Se ocorrer, o aumento virá em dezembro, preveem agora analistas. Novas duas altas ficariam para 2017. O ritmo é considerado mais lento e favorável ao Brasil, que ganha tempo para entregar as reformas fiscais prometidas pelo governo de Michel Temer enquanto convive com um dólar mais baixo.

    Marco Maciel, economista-chefe da Bloomberg Intelligence para a América Latina, afirma que o dólar no Brasil está artificialmente na casa dos R$ 3,20. Com as contas do governo no presente ruins –a dívida bruta está em 69,5% e crescendo –, a cotação deveria estar em R$ 3,40.

    Ele fez a estimativa comparando o risco do Brasil com o da Turquia. Em ambos os casos, o risco-país (medido pelo CDS, uma espécie de seguro contra calote) recuou. Mas no Brasil a queda se intensificou com a redução mais acentuada do dólar.

    Neste ano, até a sexta-feira (23), a moeda brasileira se valorizou 22% em relação ao dólar. Já a lira turca perdeu 1% ante a divisa americana.

    DÓLAR DOMADO - Moeda brasileira se valoriza com redução do risco-país

    "Houve uma redução do risco político no Brasil, mesmo que ainda não tenha avançado nenhuma reforma fiscal. Até dezembro, pelo menos, dura esse 'frisson', quando todo mundo acha que vai aprovar o teto [de gasto do governo]. Se não votarem, o risco-país pode subir de novo", diz Maciel.

    O diretor de pesquisas econômicas do Bradesco, Octavio de Barros, prevê um dólar ao redor de R$ 3,20 ao fim deste ano. "Mas, se tudo acontecer como espera o mercado e as reformas [fiscais] avançarem, é mais para R$ 3 do que para R$ 3,50", diz. "O câmbio tem viés de baixa."

    A projeção se baseia na reversão, ocorrida em maio, nos preços dos produtos comercializados pelo Brasil com o exterior, os termos de troca. Entre abril e maio, segundo o departamento econômico do banco, os termos de troca subiram 10%, interrompendo uma tendência de queda iniciada em 2011.

    CDS, em pontos - CDS (Credit Default Swap) é uma medida de risco-país

    O resultado se deve a melhores preços de exportação, o que tende a elevar o fluxo de dólares para o país e contribui para a queda da cotação da moeda. Mesmo que esse aumento se modere, como prevê o banco, os preços deverão estacionar num patamar mais elevado do que o do início do ano.

    Para André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual, é mais o cenário externo do que o doméstico que dá as cartas no preço do dólar hoje. Sem o clima benigno no exterior, com Fed mais devagar do que se esperava, o dólar chegaria a R$ 3,60, mesmo com as reformas.

    "Se não fosse o exterior, o dólar estaria num patamar mais alto, mais valorizado, acima de R$ 3,30", afirma Mauricio Nakahodo, do Mitsubishi UFJ Financial Group.

    O que é que a moeda americana tem?

    Cotação da divisa é influenciada por cenário externo e política doméstica

    REFORMAS - A aprovação de reformas propostas pelo governo de Michel Temer para moderar o avanço da dívida pública está no radar de analistas. A expectativa positiva faz com que o dólar fique mais baixo

    MEDIDAS EXTERNAS - O Banco do Japão e o Fed (banco central dos EUA), comandado por Janet Yellen, indicaram que vão manter o volume de recursos na economia global, freando a valorização global do dólar

    BANCO CENTRAL- A calmaria externa e a valorização do real ajudam o Banco Central, presidido por Ilan Goldfajn, a cortar a taxa de juros. Analistas preveem que isso possa ocorrer já na reunião do mês que vem

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