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    Austrália vira destino de chineses interessados em estudar e investir

    DO 'NEW YORK TIMES'

    26/09/2016 02h00

    Jason Reed/Reuters
    Contêineres de empresa chinesa deixam porto de Sydney

    Alto e moreno, Lee Meadowcroft foi modelo nas passarelas de Londres, Milão e Cingapura antes de voltar para a Austrália e realizar seu sonho de vender ervas medicinais. A loja, porém, fracassou e, já quase sem poupança, seguiu o mesmo rumo de milhares de australianos: as minas.

    Era o fim de 2004 e ele gastou seus últimos US$ 4.000 em um curso de duas semanas para aprender a operar um guindaste. Era um período em que as empresas estavam tão desesperadas por trabalhadores que contratavam choferes para pegar em casa eletricistas e soldadores e levá-los ao aeroporto mais perto, rumo ao noroeste do país, principal área de mineração.

    A China crescia a um ritmo muito forte e precisava de todo minério que a Austrália conseguia extrair. A demanda se traduziu em salários melhores para Meadowcroft e seus colegas –em 2011, ele ganhou US$ 250 mil no ano.

    "Todo mundo ficou louco", conta o ex-modelo. Ele viu apostas de US$ 100 envolvendo baratas e soldador comprando uma Ferrari 308.

    A queda, porém, veio rapidamente e de modo duro. A desaceleração chinesa deixou minas demais na Austrália para abastecer siderúrgicas paradas no país asiático.

    O resultado é que a construção de minas parou, e milhares perderam seus empregos, inclusive Meadowcroft.

    Essa história parece mais uma das que alertam sobre os riscos da dependência do crescimento chinês. Grandes países produtores de commodities, como Brasil, Rússia, Nigéria e Venezuela, viram suas economias desacelerarem com a freada de Pequim.

    Porém, algo inesperado aconteceu. A Austrália aguentou o baque global. A maior parte das minas –com custos menores que as de outros países– continuou aberta. E, ainda mais surpreendente, é que uma parcela desse sucesso se deve ao dinheiro chinês.

    Cada vez mais chineses estão gastando dinheiro na Austrália, atraídos pelo ar limpo e pelo sistema de educação –milhares estudam nas universidades locais.

    Não foi só isso: o investimento chinês no setor imobiliário australiano cresceu ao menos dez vezes desde 2010.

    Essa presença é questionada por muitos australianos, pela sua influência na economia e na política do país –negócios ligados à China viraram grandes doadores para os partidos políticos. Para gente como Meadowcroft e outros que perderam o emprego na mineração, porém, o dinheiro chinês é uma bênção.

    Ele hoje é aprendiz de encanador em um investimento imobiliário voltado para compradores chineses. Ganha US$ 21 mil por ano, mas pode triplicar o ganho quando deixar de ser aprendiz.

    Quando visitantes chineses entram na construção, ele já sabe que são compradores em potencial. "Se você enxergar um grupo de chineses", afirma, "eles são o dinheiro."

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