• Mercado

    Tuesday, 07-May-2024 21:45:42 -03

    Banco Central trabalha com inflação abaixo do centro da meta em 2017

    MAELI PRADO
    DE BRASÍLIA

    27/09/2016 09h19 - Atualizado às 23h02

    Em seu relatório de inflação, divulgado nesta terça-feira (27), o Banco Central informou que trabalha com uma inflação de 4,4% em 2017, abaixo do centro da meta, que é de 4,5%.

    A projeção representa uma melhora em relação à ata do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada no dia 6 de setembro, na qual a autoridade monetária trabalhava com uma projeção de 4,5% para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do ano que vem.

    O BC prevê que, se os juros baixarem para 11% até o fim de 2017,como espera o mercado, e o dólar não passar de R$ 3,50, dá para chegar a uma inflação abaixo de 5% no próximo ano e de 4,5% no seguinte. Situação que o relatório do BC indicou como aceitável.

    Apesar de ter reiterado sua promessa de levar a inflação dos atuais 9% para 4,5% até o fim de 2017, o Banco Central diz que precisa olhar também
    para períodos mais longos, um sinal de que poderá permitir uma inflação um pouco mais alta no próximo ano.

    EXPECTATIVAS - Banco Central vê inflação abaixo do centro da meta para 2017

    Em seus últimos comunicados, o BC manteve um discurso mais racional sobre como tomaria decisões sobre juros, olhando a inflação e o andamento das reformas fiscais. Agora, diz que toma suas decisões "com base em avaliações subjetivas", embora "calcadas em evidências sólidas".

    A posição do BC contribuiu para derrubar as taxas no mercado de juros futuros. Contratos de janeiro de 2018, por exemplo, fecharam com taxa equivalente a 12,22%, ante 12,15% no dia anterior.

    Para Luiz Eduardo Portella, sócio da corretora Modal Asset, as projeções do BC indicam que a redução dos juros começará em outubro. "O BC deixou claro que está olhando os próximos dois anos", afirmou. Ele acha que a taxa básica cairá 0,50 ponto percentual em outubro.

    Julio Hegedus, economista da consultoria Lopes Filho, considerou as projeções do BC ambiciosas. "Acho que ele teria que se manter cauteloso. As condições para inflação mais baixa estão surgindo, mas não dá para contar como tendência confirmada."

    TRÊS ELEMENTOS

    Segundo o BC afirmou no relatório desta terça, há três elementos que permitiriam a redução dos juros básicos: a interrupção do choque de alimentos na inflação, a desinflação dos itens do IPCA que reagem mais rapidamente à queda ou aumento dos juros (ou seja, os que são mais sensíveis à Selic) e a aprovação das medidas de ajuste fiscal.

    Os preços dos alimentos, segundo o BC, já mostram alguns sinais de arrefecimento no atacado. A inflação, de acordo com a autoridade monetária, mostra sinais inconclusivos.

    Quanto ao terceiro fator, o BC disse que há sinais positivos do encaminhamento das reformas fiscais. "Entretanto, o processo de tramitação ainda está no início e as incertezas quanto à aprovação e implementação dos ajustes necessários permanecem", disse a autoridade monetária no relatório.

    "A questão fiscal é importante", ressaltou Carlos Viana de Carvalho, diretor de Política Econômica do BC. "O quadro fiscal afeta o cenário da inflação por mais de um canal. Há sinais positivos, como o fato de a proposta [da PEC dos gastos] ter sido encaminhada e participantes do processo sugerirem que há um entendimento de que há a necessidade de um ajuste fiscal importante. É o início de um processo, e vamos incorporar isso na tomada de decisão", completou.

    Diferentemente de relatórios anteriores, nesse o BC não fez uma projeção própria de perspectiva fiscal, e considerou a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) nas suas projeções.

    Para a instituição, não há elemento que seja determinante individualmente para a decisão. "O Copom avaliará a evolução da combinação desses fatores, pois não há elemento que seja determinante por si só para as decisões de política monetária. Os membros do Copom tomam suas decisões com base em avaliações necessariamente subjetivas, mas sempre calcadas em evidências sólidas sobre os fatores relevantes".

    Para 2016, a expectativa do Banco Central é que o ano termine com uma inflação oficial de 7,3%.

    Dessa forma, o IPCA terminará, pelo segundo ano consecutivo, acima do teto da meta de inflação, que é de 6,5%.

    A autoridade monetária projeta uma queda de 3,3% no PIB (Produto Interno Bruto) neste ano —a mesma estimativa feita no último relatório de inflação, divulgado em junho. Para o ano que vem, a estimativa do BC é de um crescimento da economia de 1,3%.

    Alan Marques/Folhapress
    Ilan Goldfajn, presidente do BC: autoridade monetária trabalha com inflação de 4,4% em 2017
    Ilan Goldfajn, presidente do BC: autoridade monetária trabalha com inflação de 4,4% em 2017

    META "CRÍVEL"

    No último relatório de inflação, em junho, o Banco Central havia dito ser "crível" atingir o centro da meta de 4,5% no próximo ano. No ano passado, a inflação fechou em 10,67%, a maior alta desde 2002 e a primeira vez em 12 anos que o índice superou a meta estabelecida.

    A meta de inflação está em 4,5% ao ano desde 2005. O plano original, quando foi criado o regime de metas, era reduzir gradualmente a taxa a ser perseguida pelo BC.

    Esse roteiro de queda da meta, porém, foi abandonado nos governos Lula e Dilma, numa das primeiras vitórias dos economistas heterodoxos na gestão petista.

    Entre os mais de 20 países que adotam metas de inflação, o Brasil trabalha com um dos objetivos menos ambiciosos. México e Chile, por exemplo, perseguem metas de 3%.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024