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    Cifras & Letras

    Crítica

    Britânicos tentam reverter a maldição dos 100 anos de vida

    ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
    DE SÃO PAULO

    01/10/2016 02h00

    Mario Laporta/AFP
    Antonio Vassallo, 100, e sua mulher, Amina Fedollo, 93, em sua casa em Acciaroli, no sul da Itália
    Antonio Vassallo, 100, e sua mulher, Amina Fedollo, 93, em sua casa em Acciaroli, no sul da Itália

    Uma certeza e uma dúvida assombram quem tem menos de 50 anos e vive de trabalho.

    A certeza é que foi-se a época de se formar aos 20, fazer carreira e se aposentar aos 60.

    A dúvida é que trabalho vai existir nos muitos anos que faltam antes de conseguirmos garantir a velhice tranquila.

    Robôs e computadores vão substituir quais funções? A economia colaborativa acabará com empregos formais? Qual o impacto da tecnologia nos negócios e nas profissões?

    E, se teremos que trabalhar até mais tarde, que tipo de saúde e vida social nos restará quando finalmente conseguirmos a aposentadoria?

    O fato de que a vida humana durará 100 anos é, afinal, bênção ou maldição?

    BÊNÇÃO OU MALDIÇÃO?

    Essa é a linha central de "The 100-Year Life" ("A Vida de 100 Anos", lançado em junho e ainda sem tradução para o português), escrito por Andrew Scott e Lynda Gratton, professores da London Business School.

    A mensagem é que ainda há tempo para criar um plano B. Como exemplo, traçam cenários para três personagens arquetípicos, Jack, que nasceu em 1945, Jimmy, nascido em 1971, e Jane, de 1998.

    Ilustração Carolina Daffara/Editoria de Arte/Folhapress

    Jack formou seu patrimônio durante 40 anos, aposentou-se aos 62 e morreu aos 70.

    No seu tempo, fazia-se carreira numa só empresa, e a fidelidade era recompensada com previdência corporativa.

    Ele pôde contar com uma Previdência sustentada pela força de trabalho jovem e bem mais ampla que a parcela de idosos. Precisou poupar só 4% do salário para complementar a aposentadoria.

    HORA DE VIRAR A MESA

    Quando Jimmy chegou ao mercado de trabalho, porém, estabilidade deixara de ter valor. Com ela, minguaram os incentivos corporativos. A população envelheceu, e governos do mundo todo endureceram a
    aposentadoria.

    Aos 45 anos e com expectativa de viver até os 85, Jimmy se dá conta de que, para se aposentar aos 62, como Jack, precisaria ter poupado mais de 17% do que ganha.

    Com a economia instável e mudanças tecnológicas aceleradas, precisa dar uma guinada se quiser ter habilidades e saúde para os 25 anos de trabalho que ainda faltam.

    Scott e Gratton fazem simulações para mostrar que Jimmy não precisa necessariamente ter um final de vida melancólico, se tomar a iniciativa de se "reinventar" já.

    jane na era dos robôs

    Já o que pode acontecer a Jane, que nem saiu da faculdade, depende muito das premissas dos autores para o futuro. Uma delas é que profissões baseadas em criatividade são as mais propensas a
    sobreviver na era dos robôs.

    Por isso, e porque Jane viverá até os 100, ela não entrará direto no mercado de trabalho, como Jack e Jimmy.

    Jane precisará de conexões sociais, flexibilidade e senso empreendedor. Passará ao menos dez anos viajando, fará trabalhos avulsos e parcerias, inventará novos serviços e modelos de negócios.

    Durante cerca de 60 anos, experimentará várias fórmulas: emprego formal, empresa própria, terceiro setor, consultoria, pausas para estudar o a mistura de todas elas.

    Demorará muito mais para acumular patrimônio e precisará cuidar melhor da saúde física, mental e social para aproveitar das décadas de vida que terá a mais.

    DESIGUALDADE à VISTA

    O livro acende alertas para pessoas físicas e para empresas, mas o recado mais importante –e pouco explorado– visa os formuladores de políticas públicas.
    Se tudo se passar como os
    autores imaginam, a desigualdade aumentará muito nas próximas décadas.

    Boa parte do trabalho braçal e parcela relevante do intelectual serão exercidas por máquinas. Diferenças de acesso a educação e capital social terão efeito cada vez maior nas oportunidades de emprego e
    na renda.

    Famílias mais pobres não conseguirão poupar uma reserva para a velhice e devem empobrecer ainda mais com aposentadorias minguantes.

    Sem saúde preventiva e bons tratamentos, terão ainda mais dificuldade para se manter ativos nas décadas de trabalho que a longitude da vida tornará obrigatórias.

    THE 100-YEAR LIFE - Living and Working in an Age of Longevity
    QUANTO: R$ 83 (280 PÁGS.) OU R$ 36 NA VERSÃO ELETRÔNICA
    AUTOR: ANDREW SCOTT E LYNDA GRATTON
    EDITORA: BLOOMSBURY PUBLISHING

    Edição impressa
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