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    Fraco desempenho da indústria do Brasil deve continuar, aponta índice

    ÉRICA FRAGA
    DE SÃO PAULO

    04/10/2016 17h53 - Atualizado às 21h56

    A produção da indústria brasileira teve, em agosto, sua maior queda desde janeiro de 2012. Dados de setembro indicam que o setor manteve o ritmo fraco, amargando o pior desempenho em um grupo de 28 países desenvolvidos e emergentes relevantes.

    Com esse resultado, o processo de fraca recuperação do setor —que vinha se expandindo a um ritmo lento havia cinco meses— foi interrompido.

    Segundo o IBGE, a atividade industrial recuou 3,8% em agosto na comparação com julho, contra uma contração média de 3,1% esperada por economistas do mercado financeiro.

    Indicadores preliminares de setembro apontam para a continuação de um desempenho fraco da indústria brasileira.

    É o que mostra, por exemplo, o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), que tenta prever o comportamento do setor com base em informações como ritmo de novas encomendas, contratações e nível de estoques.

    Produção industrial - Variação em %

    Por esse indicador, calculado pela consultoria IHS Markit, a indústria brasileira teve, em setembro, o pior resultado entre 28 países pesquisados.

    Segundo o PMI —que é bastante seguido por economistas do mundo todo— o índice que mede a atividade do setor industrial no país mudou pouco entre agosto e setembro, passando de 45,7 para 46 e continuando em terreno negativo (números abaixo de 50 indicam contração).

    Outros emergentes grandes, como Índia, México e Rússia, registraram expansão, e a China ficou, relativamente, estável.

    A principal causa da fraqueza da indústria brasileira, entre os fatores capturados pela IHS Markit em entrevistas com representantes do setor, foi a debilidade de novas encomendas, que havia ensaiado uma recuperação em meados do ano.

    A pesquisa feita pela FGV que mede a confiança do setor industrial também pontou para um recuo da demanda verificada pela indústria em setembro para o nível mais fraco desde maio.

    Segundo Aloísio Campello, superintendente de estatísticas públicas da FGV, a retomada da indústria brasileira no primeiro semestre se deveu, principalmente, à desvalorização do real ocorrida em 2015. Isso impulsionou as exportações do país.

    Com a apreciação do câmbio, na esteira da transição política, parte desse impulso foi anulado.

    "Os indicadores mais recentes mostram que a indústria perdeu o impulso do crescimento e vai depender agora da recuperação da demanda interna que, no entanto, continua muito fraca", diz Campello.

    Em agosto, a queda da produção industrial, medida pelo IBGE, foi generalizada, ocorrendo em 21 de 24 segmentos pesquisados pelo IBGE.

    Os segmentos de alimentação e automóveis foram os que mais contribuíram para a contração final da indústria.

    Embora o setor de bens de capital tenha continuado uma trajetória de leve retomada em agosto, com expansão de 0,4% em relação a julho, indicadores da construção civil continuam bastante negativos.

    Para os economistas do Bradesco, a combinação desses dois fatores deve provocar um recuo da taxa de investimento total no terceiro trimestre, contribuindo para esfriar a atividade econômica.

    Analistas têm percebido que, nos últimos meses, as expectativas de empresários e consumidores em relação à atividade no curto prazo, medidas pelas sondagens da FGV, se descolaram da realidade da situação corrente da economia. Ou seja, o cenário esperado se tornou bem melhor do que mostram dados como o nível de emprego e a produção.

    O risco dessa situação, dizem os analistas, é que as expectativas sejam frustradas, tendo impacto negativo sobre o consumo e o investimento, e adiando a recuperação da economia.

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