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    Dupla ganha Nobel de Economia por estudos na área de contratos

    ÉRICA FRAGA
    DE SÃO PAULO

    10/10/2016 06h59 - Atualizado às 17h12

    Jussi Nukari/Jon Chase/AFP/Associated Press
    This picture taken on November 2, 2015 shows Finnish Professor Bengt Holmstrom of Massachusetts Institute of Technology (MIT) during a business seminar in Helsinki. British-American economist Oliver Hart and Bengt Holmstrom of Finland won the Nobel Economics Prize for their work on contract theory, the jury said on October 10, 2016. / AFP PHOTO / Lehtikuva / Jussi Nukari / Finland OUT///In this photo provided by Harvard University, Oliver Hart, the Andrew E. Furer Professor of Economics at Harvard, reads congratulatory emails at his home in Lexington, Mass., Monday, Oct. 10, 2016, after winning the Nobel prize in economics. Hart and Finnish economist Bengt Holmstrom, of the Massachusetts Institute of Technology, share the award for their contributions to contract theory. (Jon Chase/Harvard University via AP) ORG XMIT: NY201
    Bengt Holmström (esq.) e Oliver Hart, vencedores do Nobel de Economia 2016

    Contratos bem feitos diminuem custos, reduzem riscos, aumentam lucros e contribuem para um melhor funcionamento da economia.

    Nada disso, que hoje pode soar como obviedade, era muito claro quando o finlandês Bengt Holmström, 67, e o britânico Oliver Hart, 68, começaram a pesquisar o tema nas décadas de 1970 e 1980.

    Por mostrar os problemas provocados por falhas contratuais e indicar diversas formas de resolvê-las —como a adoção de incentivos apropriados—, os dois acadêmicos receberam nesta segunda-feira (10) o Prêmio Nobel de Economia de 2016.

    Ao anunciar a premiação, a Academia Real Sueca de Ciências, em Estocolmo, destacou que "economias modernas são ligadas por inúmeros contratos" e que os trabalhos de Hart e Holmström "criaram uma base intelectual para o desenho de políticas e instituições em muitas áreas, da legislação de falência a constituições políticas".

    O britânico Hart, da Universidade Harvard, é reconhecido por mostrar que nem sempre é possível registrar e prever no papel todas as informações e todos os desdobramentos possíveis de uma relação entre duas ou mais partes. Isso leva às chamadas falhas contratuais.

    "Hart mostrou que, na vida real, os contratos são incompletos e que isso vai gerar disputas", disse o acadêmico Sérgio Lazzarini, do Insper.

    A pesquisa do economista britânico mostrou a importância de especificar, por exemplo, quem, em uma relação regida por contrato, tem o direito de tomar decisões em determinadas circunstâncias não antecipadas originalmente ou como eventuais problemas devem ser arbitrados.

    Os estudos de Hart contribuíram para discussões de temas variados, como que tipos de empresas devem se fundir e a conveniência de se ter escolas e prisões controladas ou não pelo capital privado.

    "A pesquisa dele ajudou a mostrar que, em determinadas circunstâncias, uma aquisição pode valer mais a pena do que uma relação contratual", afirmou Lazzarini.

    A pesquisa de Holmström, que é professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), também revelou como incentivos corretos podem aumentar a eficiência de contratos.

    Ele demonstrou que os contratantes (como um empregador) não conseguem observar todas as ações de um contratado (como um funcionário). Isso faz com que o resultado de uma relação contratual nem sempre atinja o que os economistas chamam de nível ótimo.

    "O contratante vê o resultado final, mas, não necessariamente, o nível de esforço feito para chegar lá", disse Sergio Werlang, professor da FGV e ex-diretor do Banco Central.

    "As pesquisas do Holmströn e do Hart mostraram a importância da adoção de incentivos apropriados para a obtenção de melhores resultados", completou o economista.

    Holmström demonstrou, por exemplo, que a adoção de remuneração variável em algumas circunstâncias pode funcionar bem, mas precisam ser bem reguladas.

    Werlang ressalta que os problemas que levaram à crise financeira global de 2008 mostraram que as teorias de Hart e Holmström continuam atuais. Segundo ele, como os gestores e os executivos das instituições financeiras não estavam sujeitos, por contrato, a também sofrerem perdas significativas relacionadas aos produtos que vendiam, fizeram transações arriscadas demais.

    "Foi um caso de desalinhamento grande entre os incentivos que eram dados aos executivos e os interesses dos demais envolvidos", afirmou.

    Vencedores do Nobel

    REAÇÃO

    De forma geral, a comunidade acadêmica reagiu ao anúncio do Nobel destacando que já era hora de Hart e Holmström serem laureados.

    "Hart e Holmström tão obviamente mereciam que meu primeiro pensamento foi 'eles já não tinham [sido premiados]?", escreveu Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia em 2008, no Twitter.

    Após o anúncio da premiação, Hart escreveu na conta do Twitter do Prêmio Nobel que acordou às 4h40 da manhã e "ficou se perguntando se estaria ficando muito tarde para ser neste ano, mas então o telefone, felizmente, tocou".

    Já o finlandês Holmström disse: "certamente não esperava isso, pelo menos não desta vez, por isso fiquei muito surpreso e muito feliz".

    Os dois premiados dividirão o prêmio de 8 milhões de coroas suecas (quase R$ 3 milhões).

    Diferentemente dos prêmios em áreas como Química, Física e Medicina, o Nobel de Economia não foi criado por vontade do empresário sueco Alfred Nobel —conhecido por inventar a dinamite—, logo após sua morte em 1896. A premiação foi criada em 1968 pelo banco central da Suécia.

    2015

    No ano passado, o escocês Angus Deaton, 69, recebeu o prêmio por seus estudos sobre consumo, pobreza e bem-estar social. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (12) em Estocolmo pela Academia Real Sueca de Ciências, responsável pelo premiação.

    Deaton, que possui nacionalidade britânica e norte-americana, é professor de Economia e Relações Internacionais na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.

    PhD em Economia pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, recebeu o prêmio por três pesquisas relacionadas, conduzidas ao longo de sua carreira acadêmica. A primeira, feita nos anos 1980, criou um modelo para estimar a demanda por diferentes tipos de bens, dada a renda dos consumidores.

    Com ele, é possível, por exemplo, medir os efeitos de uma elevação ou redução de impostos sobre o consumo pessoal e, então, determinar os grupos sociais mais afetados pela medida.

    EUA na frente - Número de vezes que cada país recebeu o prêmio desde sua criação, em 1969

    *

    Conheça a seguir os vencedores do prêmio desde 1969 e onde atuavam à época do prêmio:

    2015 - Angus Deaton (EUA), por estudos sobre consumo, pobreza e bem-estar social

    2014 - Jean Tirole (França), devido a pesquisas sobre o poder de mercado de grandes empresas

    2013 - Eugene Fama, Robert Shiller e Lars Peter Hansen (todos dos EUA), por estudos de análise sobre preços de ativos

    2012 - Alvin Roth e Lloyd Shapley (ambos dos EUA), por trabalhos sobre como otimizar oferta e demanda

    2011 - Thomas J. Sargent e Christopher A. Sims (ambos dos EUA), por pesquisa sobre causas e efeitos na macroeconomia

    2010 - Christopher Pissarides (Chipre) e Peter Diamond e Dale T. Mortensen (ambos dos EUA), por estudos sobre demandas dos mercados e a dificuldade em correspondê-las

    2009 - Elinor Ostrom e Oliver Williamson (EUA), pela demonstração de como propriedades podem ser utilizadas por associações de usuários e pela teoria sobre resolução de conflitos entre corporações, respectivamente

    2008 - Paul Krugman (EUA), pela análise dos padrões do comércio e da localização da atividade econômica

    2007 - Leonid Hurwicz, Eric S. Maskin e Roger B. Myerson (EUA), pela aplicação das bases da teoria do desenho dos mecanismos
    2006 - Edmund S. Phelps (EUA)

    2005 - Robert J. Aumann (Israel e EUA) e Thomas C. Schelling (EUA), por estudos sobre conflito e cooperação em negociações por meio da análise da teoria dos jogos

    2004 - Finn E. Kydland (Noruega) e Edward C. Prescott (EUA), por pesquisa sobre o desenvolvimento da teoria da macroeconomia dinâmica e seus estudos sobre os ciclos de negócios

    2003 - Robert F. Engle 3º (EUA) e Clive W.J. Granger (Reino Unido)

    2002 - Daniel Kahneman (EUA e Israel) e Vernon L. Smith (EUA)

    2001 - George A. Akerlof, A. Michael Spence e Joseph E. Stiglitz (EUA)

    2000 - James J. Heckman e Daniel L. McFadden (EUA)

    1999 - Robert A. Mundell (Canadá)

    1998 - Amartya Sen (Índia)

    1997 - Robert C. Merton e Myron S. Scholes (EUA)

    1996 - James A. Mirrlees (Reino Unido) e William Vickrey (EUA)

    1995 - Robert E. Lucas Jr. (EUA)

    1994 - John C. Harsanyi (EUA), John F. Nash Jr. (EUA) e Reinhard Selten (Alemanha)

    1993 - Robert W. Fogel e Douglass C. North (EUA)

    1992 - Gary S. Becker (EUA)

    1991 - Ronald H. Coase (Reino Unido)

    1990 - Harry M. Markowitz, Merton H. Miller e William F. Sharpe (EUA)

    1989 - Trygve Haavelmo (Noruega)

    1988 - Maurice Allais (França)

    1987 - Robert M. Solow (EUA)

    1986 - James M. Buchanan Jr. (EUA)

    1985 - Franco Modigliani (EUA)

    1984 - Richard Stone (Reino Unido)

    1983 - Gerard Debreu (EUA)

    1982 - George J. Stigler (EUA)

    1981 - James Tobin (EUA)

    1980 - Lawrence R. Klein (EUA)

    1979 - Theodore W. Schultz (EUA) e Sir Arthur Lewis (Reino Unido)

    1978 - Herbert A. Simon (EUA)

    1977 - Bertil Ohlin (Suécia) e James E. Meade (Reino Unido)

    1976 - Milton Friedman (EUA)

    1975 - Leonid Vitaliyevoch Kantorovich (Rússia) e Tjalling C. Koopmans (EUA)

    1974 - Gunnar Myrdal (Suécia) e Friedrich August von Hayek (Áustria)

    1973 - Wassily Leontief (EUA)

    1972 - John R. Hicks (Reino Unido) e Kenneth J. Arrow (EUA)

    1971 - Simon Kuznets (EUA)

    1970 - Paul A. Samuelson (EUA)

    1969 - Ragnar Frisch (Noruega) e Jan Tinbergen (Holanda)

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