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    Cifras & Letras

    Crítica

    Livro mostra como Petrobras serviu a interesse de governos

    NICOLA PAMPLONA
    DO RIO

    08/10/2016 02h00

    "Petrobras, uma história de orgulho e vergonha", da jornalista Roberta Paduan, se propõe a contar como o aparelhamento político promovido pelas gestões petistas levou a maior estatal brasileira à quase bancarrota.

    A história é baseada na organização de informações publicadas na imprensa, das delações premiadas da Operação Lava Jato e de extensa apuração da própria jornalista, que traz bons bastidores da
    história da empresa.

    A maior lição do livro, porém, parece ser não a constatação de que o PT implantou um esquema extremamente organizado de corrupção na companhia, mas a luz que lança sobre a dificuldade histórica para
    manter a estatal imune à sanha dos governantes de plantão.

    O livro cobre, com maior ou menor intensidade, a evolução da empresa desde sua criação nos anos 1950 até o fim do governo Dilma, quando a Petrobras passou a enfrentar descrença internacional depois
    que o esquema de corrupção foi trazido à tona.

    Embora o foco principal esteja na gestão petista –e parece não haver dúvidas de que foi o maior e mais danoso exemplo de aparelhamento político da estatal–, o livro mostra que não foram raros os
    momentos em que a empresa foi prejudicada ao atender aos interesses do acionista controlador.

    SIMILARIDADES

    Uma delas chama atenção pelas similaridades com o momento atual.

    Ao assumir o comando da Petrobras, em 1999, Henri Philippe Reichstul recebeu do então presidente Fernando Henrique Cardoso a missão de preparar a estatal para concorrer com petroleiras estrangeiras
    após o fim do monopólio do setor de petróleo.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Reichstul pegou a Petrobras debilitada por anos de controle dos preços dos combustíveis e com fortes suspeitas de favorecimento a um fornecedor, a Marítima, em licitações para a construção de
    plataformas.

    Sua estratégia passava por um choque de gestão, com lançamento de ações em Nova York e venda de ativos de refino com o objetivo de reduzir os riscos de novas ingerências políticas, além da promessa
    de liberdade dos preços dos combustíveis.

    Difícil não comparar com a chegada de Pedro Parente, em julho de 2016 –já fora do período coberto pelo livro.

    Nos dois casos, a ênfase em rentabilidade, governança e blindagem a nomeações políticas foi apresentada como remédio para a crise financeira e ética da empresa.

    INTERESSES POLÍTICOS

    No fim de seu mandato, porém, FHC acabou recorrendo à estatal para resolver dificuldades políticas e econômicas do governo.
    Reichstul foi obrigado a eng
    olir a nomeação do hoje senador cassado Delcídio do Amaral por indicação do PMDB e a mergulhar fundo em um programa de construção de térmicas a qualquer custo, para tentar livrar o país do iminente
    apagão.

    Hoje, sabe-se que o programa de térmicas imposto a Reichstul acabou gerando um esquema de propinas a executivos da companhia, em mais um sinal de que a sobreposição de interesses políticos aos
    empresariais é quase sempre prejudicial à estatal.

    Responsável pela compra das térmicas, Delcídio chegou a ser preso pela Polícia Federal, acusado de bolar um plano para tirar da cadeia o ex-diretor Nestor Cerveró, seu subordinado quando esteve na
    Petrobras.

    Petrobras: Uma História De Orgulho E Vergonha
    Roberta Paduan Alvares
    l
    Comprar

    Nesta semana, a compra das usinas se tornou alvo de investigações pela Operação Lava Jato.

    Em uma das histórias contadas por Paduan, o ex-presidente da Petrobras Benedicto Moreira, ao ser demitido por Itamar Franco por defender aumento dos preços dos combustíveis, resumiu: "Muitos dos
    problemas que a Petrobras enfrenta são gerados pelo seu dono".

    Petrobras - Uma história de Orgulho e Vergonha
    QUANTO: R$ 54,90 (392 PÁGS.)
    AUTOR: ROBERTA PADUAN
    EDITORA: OBJETIVA

    Edição impressa
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