As ambições da Samsung de disputar com a Apple a liderança no mercado de smartphones sofreram um sério revés depois de uma série de casos de incêndios de bateria em seu principal modelo, o Galaxy Note 7, que forçaram a empresa sul-coreana a abandonar sua produção, em um dos capítulos mais vergonhosos na história dos bens eletrônicos de consumo.

As ações da empresa sul-coreana caíram 8% —seu maior declínio percentual desde outubro de 2008—, e os analistas alertaram que os defeitos, provavelmente, prejudicariam a reputação da Samsung, além de suas vendas nos próximos meses.

Isso pode ser vantagem para rivais como o Google e a Apple, no exato momento em que seus novos modelos estão chegando ao mercado pouco antes da crucial temporada de festas.

O valor de mercado da Samsung caiu em US$ 19 bilhões, em meio a crescentes temores que as preocupações de segurança quanto ao Note 7 possam prejudicar sua reputação e ter impacto sobre os demais produtos da marca.

Já surgiram alguns sinais de contágio, com uma desaceleração nas vendas do S7 esta semana, de acordo com uma rede, que acautelou que ainda era cedo demais para dizer se a marca Samsung sofrerá danos mais duradouros.

"A credibilidade da Samsung está em jogo", disse Bryan Ma, analista da IDC. "A Samsung precisa garantir que os consumidores possam confiar em sua marca ou outros produtos [e futuros produtos] estarão em risco".

Novo smartphone do Google

A decisão de encerrar a produção da linha de smartphones, no passado vista como potencial "matadora de iPhones", surgiu depois que o grupo sul-coreano se viu forçado a fazer um segundo recall do modelo, enquanto fotos que o mostravam em chamas se espalhavam pelas mídias sociais em todo o mundo.

A Samsung acreditava ter resolvido o problema de combustão de baterias no mês passado, depois que as autoridades regulatórias dos Estados Unidos ordenaram o primeiro recall —como resultado de 92 queixas sobre superaquecimento de baterias. Mas os incidentes continuaram, colocando a empresa sob intensa pressão.

Depois de reduzir a produção do modelo, inicialmente esta semana, ela por fim tomou a decisão sem precedentes de cancelá-la.

	Drew Angerer/Getty Images/AFP
	Samsung Galaxy Note 7

Uma fonte que conversou com os dirigentes da Samsung disse ao jornal "Financial Times" que os problemas com o aparelho parecem ter surgido por conta de modificações no processador com o objetivo de acelerar o ritmo de recarga da bateria. Isso sugeriria que o problema não envolve a bateria em si, como a Samsung havia especulado inicialmente, ou o design do celular, mas a tecnologia subjacente.

"Se você tenta carregar a bateria rápido demais, isso pode torná-la mais volátil. Se você força demais um motor, ele explode. Alguma coisa terminou dando errado. Esses aparelhos são milagres da tecnologia —o quanto se pode extrair de uma pequena peça de lítio-íon", disse a fonte.

A Samsung não quis comentar, mas pessoas informadas sobre a empresa haviam dito anteriormente que ela não comentaria antes que uma investigação rigorosa fosse concluída.

A retirada permanente do Galaxy Note 7 causou forte abalo em um setor que até o final de semana vinha elogiando a maneira pela qual a empresa estava conduzindo o problema de segurança.

_{Tradução de PAULO MIGLIACCI}