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    Dúvidas sobre plano de Temer para concessões fazem investidor hesitar

    JULIO WIZIACK
    DIMMI AMORA
    DE BRASÍLIA

    13/10/2016 02h00

    Bancos e gestores de fundos de investimento enfrentam dificuldades para convencer grandes investidores estrangeiros a participar da próxima rodada de leilões de concessão de serviços públicos à iniciativa privada, anunciada pelo governo em setembro.

    A Folha ouviu representantes de seis grandes bancos e quatro fundos que financiam projetos de infraestrutura no Brasil e em outros países. Eles aceitaram falar sob a condição de que seus nomes fossem preservados.

    Mantendo conversas para atrair cerca de R$ 60 bilhões em investimentos para o país, eles não conseguiram garantir R$ 10 bilhões até agora.

    Uma dessas instituições, que administra US$ 100 bilhões em projetos de infraestrutura no mundo, desistiu de fazer captações para um fundo criado especialmente para os novos leilões no Brasil.

    Escritórios de advocacia que assessoram investidores relatam a mesma dificuldade. Segundo eles, o interesse em conversar sobre investimentos no Brasil voltou após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mas poucos chegam a fechar negócios.

    O plano de concessões do presidente Michel Temer, chamado Crescer, foi lançado há um mês e até agora nenhum edital de concorrência foi lançado. Quando vierem a público, os editais ficarão abertos por cem dias e só então os leilões serão marcados.

    O governo quer resolver antes uma pendência que prejudica os futuros investimentos. Diversas concessões do governo Dilma tiveram problemas financeiros e os bancos têm cerca de R$ 5 bilhões de créditos em atraso para receber das empresas que administram essas concessões.

    O governo prepara uma medida provisória que permite a renegociação dos contratos ou a abertura de novas licitações. Como algumas empresas que podem ser beneficiadas são investigadas pela Operação Lava Jato, a medida poderá transmitir sinais negativos para o mercado.

    MEDO

    Os banqueiros e gestores ouvidos pela Folha dizem que muitos interessados em projetos no Brasil sentem-se mais seguros investindo em países como Peru e Colômbia, por considerar as regras e o clima político mais estáveis.

    Para esses investidores, embora o governo atual tente atrair investimentos de longo prazo, precisa se esforçar mais para criar um ambiente de negócio livre do "medo".

    Fundos de pensão de funcionários de estatais, que financiaram grandes projetos como a Sete Brasil e a usina de Belo Monte no passado, viraram alvo de investigações da Polícia Federal e mudaram suas políticas, afastando-se da área de infraestrutura.

    Principal fonte de financiamento de longo prazo do país, o BNDES endureceu suas regras e só pretende liberar recursos para projetos com estrutura de financiamento bem definida, com apoio de bancos privados para cobrir os riscos da fase de construção dos empreendimentos.

    Para cumprir as exigências, os investidores afirmam que terão de gastar fortunas para enquadrar os projetos, sem a certeza de que o BNDES aprovará o financiamento.

    Com crédito escasso nos bancos privados, esses investidores acham difícil levantar recursos para financiar os projetos sem taxas de retorno superiores a 20%, o que assusta os funcionários que lidam com o assunto no governo.

    Taxas de retorno muito altas em geral inviabilizam projetos de infraestrutura. Elas aumentam os custos para os usuários e acabam levando órgãos de controle com o Tribunal de Contas da União a impor restrições aos projetos.

    Outro risco é a Lava Jato. Muitos investidores buscam garantias de que ficarão imunes a cobranças de dívidas e ações judiciais no futuro se comprarem a participação de empreiteiras nas antigas concessões. Essa insegurança fez a canadense Brookfield desistir de comprar a parte da construtora OAS na Invepar, que administra várias concessões.

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