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    Cifras & Letras

    Crítica

    Livro mostra que não existe dinheiro fácil no mercado financeiro

    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    15/10/2016 02h00

    Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
    O empresário Jorge Paulo Lemann, que assina o prefácio de "Fora da Curva"
    O empresário Jorge Paulo Lemann, que assina o prefácio de "Fora da Curva"

    Apesar do prefácio encorajador do bilionário Jorge Paulo Lemann, o livro "Fora da Curva, Os Segredos dos Grandes Investidores do Brasil –e o que Você Pode Aprender com Eles" afasta desde as primeiras
    páginas o leitor que procura um manual sobre como ganhar dinheiro fácil no mercado financeiro.

    Como se depreende das palavras do empresário, não existe dinheiro fácil. Lemann abre o livro ensinando que o bom investidor não é o que foge do risco. "Quem não corre riscos não faz nada. Corri alguns
    riscos grandes, mas sempre com algum treino antes", ele escreve.

    Ou seja, não há receita para se alcançar uma das maiores riquezas do planeta. Pelo menos, não uma receita que ele saiba explicar.

    Os dez capítulos que seguem são os relatos de homens que fizeram fortuna no país nas últimas décadas. Juntos, administram cerca de R$ 80 bilhões. Eles contaram suas histórias em 2012 na Casa do
    Saber, em São Paulo, para um curso promovido por Pierre Moreau, um dos sócios da escola, e Florian Bartunek, que também tem um capítulo dedicado à sua trajetória até a fundação da gestora
    Constellation.

    A evolução de um mercado financeiro abrutalhado e rudimentar, quase caricato, aparece nestas histórias.

    Em seu depoimento, Bartunek conta que nos primórdios do banco Pactual, onde ingressou em 1989, ele teve um funcionário que era surdo de um ouvido e mandaram demiti-lo porque seria preciso operar
    com dois telefones, um de cada lado.

    Guilherme Aché, da gestora Squadra Investimentos, relembra um tempo em que muitas companhias ignoravam os conceitos de transparência e governança, o que dificultava a avaliação dos analistas.

    Quando nos anos 80 o país teve de fechar acordo com o FMI para reestruturar sua dívida externa, o fundador da gestora JGP, André Jakurski, ainda no Pactual, foi perspicaz: soube aproveitar oportunidades
    de empresas que estavam baratas na Bolsa.

    "A maioria dos analistas não tinha noções básicas do funcionamento do mercado financeiro, mal sabia fazer conta, quanto mais entender fundamentos e projetar resultados. Minha vantagem comparativa era
    grande."

    No capítulo de Antonio Bonchristiano, presidente da gestora de private equity GP, ele conta que aprendeu em Nova York um estilo de trabalho que não havia no Brasil, em uma jornada que alcançava cem
    horas por semana.

    "Isso não existia no Brasil, então me ajudou a criar um padrão, uma cultura de dedicação, foco e qualidade. Hoje isso é mais comum aqui", diz ele, que tinha pouco mais de 20 anos.

    E foi a partir da participação desses empreendedores que o mercado brasileiro avançou. A lição de Pedro Damasceno, sócio da gestora de fundos de ações Dynamo, é a de que "não basta ficar no escritório
    olhando para uma tela de computador". É necessário conhecer a fundo as empresas que serão alvo de investimento. Ele aconselha visitar instalações e interagir com donos e executivos.

    Mas há também um lado intuitivo na trajetória daqueles que dedicaram suas vidas ao retorno financeiro, como mostra Guilherme Affonso Ferreira. O presidente da empresa de investimento Bahema diz que
    foi movido por patriotismo que, em 2015, passou a fazer parte do conselho da Petrobras. Ele não investia na estatal, mas quis "tentar ajudar a endireitar as coisas", além da "curiosidade intelectual de
    entender como a companhia funciona".

    Há passagens saborosas, como o depoimento do presidente da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, que conta em detalhes como foi que recebeu de Armínio Fraga o convite para ser diretor no Banco
    Central, em 1999.

    "Posso te ajudar no que for preciso, vir aqui, conversar, mas acho que não devo aceitar o convite", disse ele, que acabou ficando até 2003.

    LIÇÃO

    Fora Da Curva
    Pierre Moreau (Org.), Florian Bartunek, Giuliana Napolitano
    l
    Comprar

    Com humor, o fundador da incorporadora Tecnisa, Meyer Nigri, conta uma lição pouco ortodoxa que recebeu de seu pai aos oito anos quando foram comprar óculos novos. O pai mentiu ao vendedor dizendo
    que havia encontrado um produto semelhante pela metade do preço em outra loja, quando, na verdade, era o dobro.

    "Pai, você disse que não pode mentir", questionou Nigri ainda menino. "Pa- ra negociar pode", respondeu o pai, que gostava de pechinchar.

    FORA DA CURVA
    QUANTO: R$ 49,90 (160 PÁGS.)
    AUTOR: PIERRE MOREAU, FLORIAN BARTUNEK E GIULIANA NAPOLITANO (ORG.)
    EDITORA: PORTFÓLIO

    Edição impressa
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