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    Análise

    Queda de preço da gasolina é boa notícia, mas não resolve problema do etanol

    MAURO ZAFALON
    COLUNISTA DA FOLHA

    15/10/2016 02h00

    Rodrigo Souza/Futura Press/Folhapress
    Movimentação em posto de combustível de Porto Alegre (RS), nesta sexta-feira (14). A Petrobras informou hoje que a diretoria executiva da companhia aprovou na véspera a implantação de uma nova política de preços de gasolina e diesel comercializados em suas refinarias. A companhia decidiu reduzir o preço do diesel em 2,7% e da gasolina em 3,2% na refinaria. Esses preços entrarão em vigor a partir da zero hora de sábado (15).
    Posto de combustível em Porto Alegre (RS)

    A redução nos preços da gasolina pode ser encarada, em princípio, como uma boa notícia para os produtores de etanol, mas não soluciona os problemas do setor.

    A decisão da Petrobras é boa pois o governo começa a dar previsibilidade à política de preços dos combustíveis.

    Toda queda de preço da gasolina torna, no entanto, o preço do etanol menos competitivo em relação ao do derivado do petróleo.

    PREÇOS DO COMBUSTÍVEL
    Petrobras reduz gasolina e diesel
    PAULO WHITAKER/REUTERS

    Mas é cedo para uma avaliação de como essa queda da gasolina vai afetar o etanol. Quanto da redução promovida pela Petrobras vai chegar à bomba? Mercado é mercado e, no meio do caminho, os diversos segmentos envolvidos na cadeia podem se apropriar de parte dessa queda.

    Além dos impostos, distribuidoras e postos podem elevar a margem de ganho no processo.

    Mas a Petrobras, agindo agora como empresa que deve manter suas contas em dia, vai dar previsibilidade aos preços, uma exigência do setor sucroalcooleiro nos últimos anos.

    Mas só a previsibilidade não basta. Falta, ainda, política de longo prazo para o setor, evidenciando as qualidades desse combustível limpo e menos prejudicial à saúde.

    PREÇO MÉDIO DOS COMBUSTÍVEIS NO BRASIL (R$)

    Essa é uma questão difícil, principalmente em período de economia em recessão. Afinal, é uma decisão de se definir quanto a sociedade estaria disposta a pagar por esse "ônus", graças às externalidades do combustível.

    Se a redução de preços da Petrobras realmente chegar à bomba de forma integral, o etanol perde competitividade e terá de encontrar novos espaços na matriz energética.

    O setor sucroalcooleiro poderá ser penalizado duas vezes. Além da eventual perda de competitividade do etanol —se ela se concretizar—, é um setor que consome muito diesel na produção. E este, ao contrário do que ocorreu na redução anterior de preços, em 2009, teve queda menor de preço do que a gasolina.

    Sem política de longo prazo, o etanol, menos competitivo, deverá perder espaço. Não houve investimentos no setor nos últimos anos, devido à grave crise de preços.

    Com isso, a oferta de cana deve reagir lentamente, sendo destinada basicamente para a produção de açúcar, devido aos preços melhores do produto e ao deficit mundial.

    As previsões indicam que a oferta do produto abaixo da demanda mundial deve demorar por vários anos, inibindo a produção de etanol.

    E os efeitos já começam a aparecer. Neste ano, com a recuperação dos preços internacionais do açúcar, a produção de etanol deverá cair.

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