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    análise

    Com queda do juro, economia pode começar a sair da recessão

    ÉRICA FRAGA
    DE SÃO PAULO

    20/10/2016 02h00

    O processo de corte dos juros iniciado nesta quarta-feira (19) pelo Banco Central era a medida mais esperada por empresários, economistas, investidores e consumidores há muito tempo.

    Não é à toa que o mercado financeiro esbanjava otimismo nos últimos dias.

    Essa ansiedade em relação aos rumos da política monetária tem duas causas.

    A primeira é a falta absoluta de outras fontes possíveis de impulso para a combalida economia brasileira, em recessão há dois anos seguidos.

    Estímulos fiscais –leia-se aumento de gastos públicos– estarão, obviamente, fora do rol de políticas disponíveis para estimular a atividade por muito tempo. Os investimentos do governo, por exemplo, estão em queda.

    A economia mundial se recupera em ritmo lento desde que começou a emergir da crise financeira global de 2008. As projeções de crescimento mundial feitas por instituições multilaterais como o FMI (Fundo Monetário Internacional), consultorias e bancos têm sido revisadas para baixo frequentemente.

    Mesmo que o cenário global fosse mais animador, o baixo peso das exportações brasileiras no PIB (Produto Interno Bruto) do país ainda limitaria o potencial de recuperação por essa via externa.

    A confiança no futuro por parte dos próprios brasileiros —que, segundo economistas, é um poderoso motor da economia por estimular gastos e investimentos— também tem se mostrado incapaz de reanimar a atividade no país.

    Os indicadores de expectativas futuras até têm melhorado bastante, mas contrastam com uma realidade corrente que teima em não melhorar, o que provavelmente inibe qualquer plano de aumento de gastos por parte de consumidores e empresários.

    Para piorar a situação, começaram a aparecer sinais de que a débil retomada da atividade, que era esperada por economistas para algum momento entre o terceiro e o quarto trimestre deste ano, ficará para mais tarde, quem sabe o início do próximo ano.

    Dados recentes tanto do consumo quanto da oferta na indústria e nos serviços revelaram renovada fraqueza. Pode ser uma pausa temporária na tendência de recuperação, mas economistas começaram a exibir dúvidas sobre o momento de saída da recessão.

    PÉ NO FREIO - Variação de setores da economia em relação ao mês anterior, em %

    A segunda causa para a esperança depositada no afrouxamento da política monetária é positiva, ainda que por conta de uma anomalia ruim brasileira: o nível para lá de elevado das taxas de juros.

    Com o corte de quarta, a taxa Selic recuou para 14%. Mesmo países emergentes que também convivem com taxas de juros elevadas estão aquém desse patamar: Rússia (10%), México (4,75%), África do Sul (7%). Nas nações desenvolvidas, os juros ainda são próximos de zero.

    Essa situação faz com que o Banco Central brasileiro tenha muito espaço para estimular a economia por essa via, se a inflação continuar diminuindo. Isso poderia levar a uma queda das taxas cobradas pelos bancos em seus empréstimos. O que, por sua vez, pode estimular o consumidor a voltar às compras.

    Claro que o caminho não é assim tão simples, porque as famílias brasileiras estão muito endividadas. Talvez precisem primeiro liquidar suas dívidas antes de voltar a gastar. Mas já seria um começo.

    O mesmo raciocínio vale para o setor privado, que está atolado em financiamentos e renegociando dívidas, mas pode, com a queda dos juros, retomar projetos de investimentos que ficaram engavetados nos últimos meses.

    É provável que o efeito da redução dos juros não se dê no curto prazo, mas, pelo menos, o movimento do Banco Central aumenta as chances de que a retomada —ainda que lenta— não seja permanentemente adiada.

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