• Mercado

    Saturday, 27-Apr-2024 20:02:26 -03

    Apple tenta superar queda de iPhone com conteúdo, AppStore e serviços

    TIM BRADSHAW
    DO "FINANCIAL TIMES"

    26/10/2016 17h00

    Philippe Huguen/AFP
    Arranjos ajudaram a Apple a pagar alíquota ultrabaixa sobre lucros auferidos nos últimos 10 anos
    iPhone ao lado de logo da Apple; empresa investe em alternativas para gerar receita

    Há exatos 15 anos, a Apple lançava o iPod, que causou uma onda de desordenamento no setor de música e ajudou a reverter a crise de uma empresa que era, então, apenas uma problemática fabricante de computadores. Graças em parte ao crescimento deflagrado pelo iPod, a Apple desde aquele momento jamais registrou queda em sua receita anual —até os últimos dias, quando ela anunciou uma queda de 8% em suas vendas em 2016.

    Agora, a empresa busca promover uma nova revolução na mídia digital a fim de galvanizar seus negócios. Com as vendas do iPhone, iPad, computadores Mac e até mesmo do Apple Watch em queda no quarto trimestre de seu ano fiscal, a Apple buscou concentrar as atenções dos investidores no único ponto positivo de seu anúncio de resultados nesta terça-feira (25): a divisão de serviços.

    Hoje em dia, isso significa muito mais que apenas o iTunes, que alimentou o crescimento do iPod. A receita de serviços on-line como a AppStore, iCloud e Apple Music subiu 24%, para o recorde de US$ 6,3 bilhões, o que faz dela a segunda maior fonte de faturamento da empresa, atrás do iPhone. O ritmo foi mais rápido que os 18% de crescimento previsto pelos analistas do banco de investimento Piper Jaffray.

    Luca Maestri, vice-presidente de finanças da Apple, definiu os serviços como "o grande destaque do trimestre". Ele disse em entrevista que "temos um bom impulso".

    Maestri repetiu uma previsão divulgada inicialmente no começo do ano, a de que, se fosse uma empresa separada, a divisão de serviços da Apple teria dimensões suficientes para atingir o ranking Fortune 100, das 100 maiores empresas dos Estados Unidos, já em 2017. A receita da área de serviços da empresa em seu mais recente trimestre já supera os US$ 2,6 bilhões de faturamento publicitário do Facebook no segundo trimestre.

    A Apple começou a destacar o desempenho de sua unidade de serviços em janeiro, ao mesmo tempo em que anunciava que o faturamento com o iPhone cairia pela primeira vez. A empresa em seguida anunciou que, nos 90 dias precedentes, mais um bilhão de aparelhos fabricados pela Apple estiveram em uso.

    "Eles certamente desejam uma narrativa na qual nem todo o futuro da Apple esteja amarrado ao iPhone", disse Ben Bajarin, analista da Creative Strategies. "O tom subjacente do anúncio é que eles estão enfatizando a consistência."

    Evolução do iPhone

    RECEITA, SERVIÇOS E CONTEÚDO

    A receita da AppStore subiu "na casa dos dois dígitos", estimulada por pagamentos relacionados a apps como o do jogo "Pokémon Go", enquanto a receita da companhia com música cresceu em 22% graças à crescente popularidade de seu serviço por assinatura, que hoje tem 17 milhões de assinantes. A unidade Apple Pay, cujas comissões também são incluídas no faturamento da área de serviços, viu alta de 500% no número de transações que processou no trimestre encerrado em setembro, ante o período no ano anterior.

    Um tipo de serviço digital que ainda não fez grande contribuição para os negócios da Apple, no entanto, é a televisão. Nos últimos anos, correm boatos de que a Apple teria discutido sobre diversos possíveis serviços de TV com operadoras de TV a cabo e provedores de conteúdo, mas até agora ela não desenvolveu uma alternativa aos pacotes convencionais de TV a cabo ou via satélite. Em lugar disso, a versão mais recente de seu decodificador Apple TV lançada um ano atrás, se concentra em apps separados, como o HBO Now, que clientes podem assinar mesmo que não tenham contrato com uma operadora de TV a cabo.

    A Apple não divulgou os números de vendas para a Apple TV, mas ela ainda não parece ter feito contribuição significativa para os negócios da fabricante do iPhone. A Apple TV fica em companhia do iPod, dos fones de ouvido Beats e do Apple Watch na categoria "outros produtos", cujas vendas caíram em 22% no trimestre passado.

    Pressionado por analistas quanto à sua visão para o ramo de televisão, o presidente-executivo da Apple, Tim Cook, disse que ele continua a ser uma área de "intenso interesse". Depois de alguns poucos vídeos lançados como produtos especiais da Apple Music —a exemplo de um show de Taylor Swift—, a Apple agora tem programas exclusivos em desenvolvimento, entre os quais "Planet of the Apps", um reality show para desenvolvedores de software, e "Carpool Karaoke", uma versão estendida de um quadro no programa "The Late Late Show with James Corden", da rede de TV CBS. Cook sugeriu que isso é só o começo.

    "Creio que seja uma grande oportunidade para nós, tanto do ponto de vista criativo quanto do ponto de vista da propriedade", ele afirmou. "É uma área na qual concentramos as nossas atenções".

    No começo do ano, os executivos da Apple chegaram a considerar a possibilidade de adquirir a Time Warner, reportou o "Financial Times" em maio. Depois da oferta de US$ 85,4 bilhões apresentada pela AT&T para adquirir o grupo de mídia, Cook não descartou a possibilidade de uma grande transação que transforme o negócio de conteúdo de sua empresa, da mesma forma que o iPod e a iTunes a transformaram 15 anos atrás.

    "Estamos abertos a aquisições de qualquer tamanho que tenham valor estratégico e permitam que propiciemos produtos melhores aos nossos clientes e que inovemos ainda mais", ele disse. "Nós avaliamos uma grande variedade de empresas... Estamos certamente abertos [a negociar fusões e aquisições] e certamente estamos de olho."

    INVESTIDORES

    No entanto, os investidores não estão mudando rapidamente a sua visão da Apple como uma fabricante de hardware em um mercado volátil, vulnerável às flutuações do comércio de bens de consumo eletrônico, para passar a encará-la como empresa de software com receitas recorrentes estáveis. Afinal, o iPhone ainda responde por dois terços da receita da Apple, e essa proporção está mudando com muita lentidão.

    "Os investidores com os quais conversamos em geral atribuem pouca importância ao impacto que os serviços possam ter sobre o modelo da Apple em longo prazo", afirmou o Piper Jaffray em nota de pesquisa recente. "Acreditamos que o múltiplo das ações da Apple venha a subir nos dois próximos anos, à medida que os investidores começarem lentamente a apreciar a sustentabilidade e lucratividade da área de serviços".

    Em conversa telefônica com analistas nesta terça-feira, Maestri tentou enfatizar a previsibilidade do segmento de serviços.

    "Com o tempo, os clientes tendem a gastar mais e mais dinheiro com os nossos serviços", ele disse. "O engajamento dos clientes com os nossos produtos é muito forte, eles são muito fiéis."

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024