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    fórum comércio exterior

    Isolado, Brasil busca integração em meio a protecionismo global

    FERNANDA PERRIN
    DE SÃO PAULO

    28/10/2016 02h00

    O Brasil ficou isolado de boa parte do comércio internacional e agora tenta superar o atraso em meio a uma onda global de protecionismo e desconfiança, concluíram especialistas reunidos num fórum realizado pela Folha em parceria com a CNI (Confederação Nacional da Indústria).

    Para eles, a integração comercial do país exige esforços dentro das empresas, que precisam se tornar mais competitivas, e passam pela melhoria da infraestrutura do país e por novos acordos que insiram as empresas brasileiras em cadeias produtivas globais. O Fórum Comércio Exterior foi realizado nesta terça-feira (25) em São Paulo.

    O caminho, porém, não é fácil: o Brasil é a uma das economias mais fechadas e protecionistas do mundo. O custo Brasil é alto, a produtividade é baixa e, sem o empurrão do câmbio, seus produtos são pouco competitivos lá fora.

    Para o professor de Harvard Robert Lawrence, especialista em comércio internacional, a estratégia brasileira deveria começar pela revisão das tarifas impostas às importações, que encarecem insumos e bens intermediários usados pela indústria e dificultam a inserção do país em cadeias produtivas globais.

    A EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL - Valor exportado e importado de janeiro a setembro nos últimos dez anos

    Melhora da infraestrutura logística, do ambiente regulatório e da administração das fronteiras são as outras medidas prioritárias para o Brasil, na visão de Lawrence.

    A questão logística é o nó mais grave para o empresariado brasileiro, segundo pesquisa da CNI, e prejudica a participação do Brasil nessas cadeias globais pautadas no método "just in time", de redução máxima de desperdícios, disse Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior.

    CUSTO BRASIL

    Esses problemas internos, resumidos no chamado "custo Brasil", representam 25% do preço final dos produtos exportados pelo país, de acordo com o ministro das Relações Exteriores, José Serra.

    Esse é um argumento frequentemente usado por aqueles contrários à abertura comercial, que afirmam que esses custos impedem a indústria de competir de igual para igual com importados.

    Para José Rubens De La Rosa, presidente da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), esse é um ponto importante e deve ser levado em conta na estratégia de abertura, mas não pode ser um impeditivo dela.

    Participação nas exportações por fator agregado - Em %

    O uso de instrumentos de defesa comercial também precisa ser repensado. "A medida anti-dumping é uma bolha provisória. Com ela, a indústria não compete e o preço para o consumidor final aumenta", disse o presidente da Alpargatas, Márcio Utsch.

    Para o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, essa tendência protecionista, nascida com a industrialização brasileira, ainda ecoa no empresariado, mas mais fraca.

    A recessão e a necessidade de equilibrar as contas do governo contribuem para a revisão dessa política. "Falar em incentivo na situação que vivemos é um palavrão, sobretudo no Ministério da Fazenda", afirmou Pereira.

    "REGLOBALIZAÇÃO"

    Se na década de 1990 o processo de globalização parecia irreversível, hoje ele é fortemente questionado.

    A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia e as críticas a acordos de comércio que permeiam as campanhas tanto de Donald Trump quanto de Hillary Clinton à presidência dos Estados Unidos são exemplos emblemáticos dessa turbulência.

    Mas é só uma fase, disse Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade Columbia e colunista da Folha. "Essa nuvem vai se dissipar porque ninguém está se dando bem com isso", afirmou. E o Brasil precisa se preparar para quando isso acontecer.

    O crescimento da população na Ásia, por exemplo, é uma boa oportunidade para o agronegócio. Para isso, o país precisa estar atento ao atendimento a padrões ambientais e trabalhistas, tendência nos acordos recentes.

    Outro desafio é melhorar a imagem do Brasil no exterior, visto com simpatia mas não como um grande parceiro comercial, disse Roberto Jaguaribe, presidente da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

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