• Mercado

    Monday, 06-May-2024 00:43:30 -03

    Em vez de ambulância, chamaram o Bope, diz economista do Itaú sobre juros

    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    28/10/2016 02h00

    Marcos Santos/USP Imagens
    Novo economista-chefe do Itaú, Mário Mesquita, atribui parte da crise à alta dos juros
    Novo economista-chefe do Itaú, Mário Mesquita, atribui parte da crise à alta dos juros

    Parte da gravidade da atual recessão, que supera dois anos e já encolheu o PIB em cerca de 7%, se deve ao aumento das taxas de juros no período em que o país mergulhou na crise.

    Novo economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita disse que "em vez de chamarem a ambulância, chamaram o Bope."

    De abril de 2014 a julho de 2015, a taxa de juros subiu de 11% para 14,25%. Somente na semana passada ocorreu o primeiro corte, para 14% ao ano.

    Segundo o Comitê de Datação de Ciclos, da FGV, a atual recessão começou no segundo trimestre de 2014.

    A previsão de Mesquita, que chegou a ser cotado para presidir o Banco Central, é que a queda da taxa de juros deverá ganhar velocidade em novembro e seguirá ao longo de 2017 até a Selic chegar a 10% ao ano.

    Esse será um dos fatores determinantes para que a economia saia da recessão e volte a crescer.

    A projeção da equipe liderada por Mesquita é que o PIB deverá crescer 2% no ano que vem e 4% em 2018.

    Em evento com jornalistas, em São Paulo, ele disse que o BC não tinha escolha, mesmo com a recessão se avizinhando, uma vez que a inflação estava elevada e crescente.

    "Ou não deveria ter cortado tanto [a taxa] ou deveria ter subido antes", disse o economista.

    CENÁRIO COLLOR

    Mas o cenário otimista projetado pelo Itaú depende da reforma fiscal -aprovação do teto para os gastos do governo e a reforma da Previdência. Isso porque, sem a correção de rota, a dívida pública caminharia para a insolvência.

    Diante de um gráfico que mostrou um aumento da dívida bruta de cerca de 55% do PIB em 2010 para os atuais 70%, Mesquita disse que a previsão do banco é que, com a reforma fiscal, o endividamento ainda aumente até 80% do PIB em 2020, quando se estabilizaria.

    "Mas só parte desta linha já aconteceu, o resto é projeção", disse. "Se tivermos um tropeço político ou se as reformas empacarem por qualquer razão... Não há dúvida de que se nada for feito, daqui a duas ou três reuniões vamos estar discutindo o Plano Collor."

    O economista se referia à hiperinflação e ao confisco da poupança, que assombraram a economia da época. É consenso entre analistas que, sem controle das despesas, como sugere o governo, a solução passará por mais e crescentes impostos, além de mais inflação.

    TENTATIVA

    Ele afirmou que o ajuste proposto pelo governo é gradual e aparentemente nasceu de uma estratégia alternativa à tentada pelo antecessor de Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda.
    Joaquim Levy tentou corrigir as contas públicas -cujas receitas crescem mais do que as despesas- por meio do aumento de receitas.

    "O governo não tinha muita alternativa [ao ajuste nas despesas], nem Lula, no auge de sua popularidade conseguiu aprovar a CPMF", afirmou.

    As estimativas do banco são de que, passada a fase das reformas, o país volte a crescer. Mas nem os 4% em 2018 seriam suficientes para recolocar o país no patamar anterior à recessão. Pela projeção de Felipe Salles, economista da equipe de Mesquita, somente em 2019 o país conseguiria zerar as perdas da recessão. Só na virada da década o PIB voltaria ao mais elevado ponto de produção, visto no primeiro trimestre de 2013, prevê ele.

    Mas dali para frente, a capacidade de crescimento do país será menor, ao redor de 2% ao ano. O número é mutável, segundo Mesquita, e depende da volta dos investimentos. Em sua opinião, crescer tão pouco seria "frustrante".

    "Somos um país que não enriqueceu e podemos ser ultrapassados pela China [em termos de renda per capita]. Logo vem a Índia. Corremos o risco de nem estarmos mais entre os BRICs".

    CURTO PRAZO

    No curto prazo, porém, o Itaú está ficando mais reticente em relação à volta do crescimento. Os economistas do banco projetavam uma queda de 0,5% do PIB no terceiro trimestre, agora preveem que pode ficar em -1%. Isso pode provocar uma revisão para baixo na projeção de crescimento deste ano, que já conta com uma queda de 3,2% do PIB.

    Os dados de setembro mostram uma atividade econômica ainda enfraquecida após um agosto muito negativo.

    "Tanto a volta [ante agosto] não ocorreu, como não houve a recuperação esperada", disse Mesquita.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024