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    Brasileiros desistem de vender à Venezuela, e exportações desabam

    RENATA AGOSTINI
    DE SÃO PAULO

    06/11/2016 02h00 - Atualizado às 16h34
    Erramos: esse conteúdo foi alterado

    O aprofundamento da crise na Venezuela fez as exportações do Brasil para o país caírem ao menor nível em 13 anos. Com pedidos em baixa e dificuldade crescente de receber pagamentos, centenas de empresas brasileiras simplesmente desistiram de embarcar produtos para lá.

    Até outubro, as vendas somaram US$ 980 milhões, queda de 61% em relação ao mesmo período de 2015 e menor valor desde 2003 (veja quadro na pág. 3). Como resultado, o país, que chegou a ser o sétimo principal destino dos produtos brasileiros no exterior, desabou para 37º.

    A ruína do comércio com os venezuelanos é explicada, de um lado, pela aguda recessão vivida pelo vizinho. Em 2016, o país viverá o terceiro ano consecutivo de contração econômica, com queda de 8% no PIB, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional).

    De outro, a falta de reserva em moeda estrangeira, que fez o governo venezuelano dificultar o acesso dos importadores a dólares. Sem a moeda, os empresários não têm como honrar os pagamentos.

    QUEDA LIVRE - As vendas brasileiras para a Venezuela têm o pior resultado em treze anos

    O ambiente de negócios tornou-se, assim, inóspito para algumas companhias. Do início de 2015 para cá, 449 empresas deixaram de embarcar produtos para a Venezuela. Entre elas, a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão e a maior exportadora brasileira de carne de frango, e a Alpargatas, que vende suas sandálias Havaianas para mais de cem países.

    "Antes, topávamos demorar a receber. Foi uma opção parar de vender para lá", diz Márcio Utsch, presidente da Alpargatas. Segundo ele, o que a empresa ainda aguarda receber de clientes venezuelanos é considerado de "liquidação duvidosa"
    -quando não se tem certeza se o dinheiro um dia virá.

    ASCENSÃO E QUEDA

    A chegada de Lula à Presidência, em 2003, e a aproximação com o governo do então presidente Hugo Chávez abriram as portas do mercado venezuelano ao país. Grandes obras foram assumidas por empreiteiras brasileiras, como a Odebrecht, e mercadorias de todo o tipo passaram a ser embarcadas -desde arroz até aviões.

    A alta do preço do petróleo, principal produto da Venezuela, ajudava a impulsionar as encomendas. Em 2008, quando o barril atingiu a cotação máxima histórica, as vendas para os venezuelanos bateram pela primeira vez a marca dos US$ 5 bilhões. Após arrefecer nos anos seguintes, voltaram a subir em 2012, quando o preço do petróleo novamente subiu.

    Os problemas começaram a aparecer em 2013, com o país já sob o comando de Nicolás Maduro. Começaram a pulular empresários na Esplanada em busca de ajuda: eles haviam exportado para a Venezuela e estavam havia até quatro meses sem receber.

    Após interceder em casos específicos, integrantes do então governo Dilma assustaram-se. "Não paravam de chegar reclamações", diz um técnico.

    Em 2014, com a queda abrupta do preço do barril de petróleo, a situação se agravou. Pesquisa feita pela Fiesp mostrou que mais da metade dos empresários que embarcavam produtos para o país tinha de esperar até um ano para receber.

    *

    TERRA PERDIDA

    61%
    foi a queda na exportação brasileira para a Venezuela de janeiro a outubro deste ano

    449
    total de empresas brasileiras que desistiram de vender para o país vizinho desde 2015

    10%
    é a previsão de queda do PIB da Venezuela neste ano

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