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    Juro menor ao consumidor depende de queda nos calotes nos bancos

    TÁSSIA KASTNER
    DE SÃO PAULO

    11/11/2016 02h00

    Com a inadimplência dos clientes ainda em alta, os maiores bancos brasileiros indicaram nos últimos dias que vão demorar a repassar para o consumidor a queda na taxa básica de juros, que o Banco Central começou a reduzir em outubro.

    O temor de novos calotes ainda é mais forte do que o apetite para voltar a emprestar, disseram executivos do Bradesco, do Itaú e do Banco do Brasil em entrevistas para detalhar os resultados do terceiro trimestre.

    Entre julho e setembro, os empréstimos cresceram em linhas destinadas a financiamento imobiliário e crédito consignado, em que as garantias dos clientes reduzem para os bancos o risco de perdas com a inadimplência, e nos cartões de crédito, que muitos passaram a usar mais frequentemente no dia a dia.

    O custo desse dinheiro também ficou mais caro no período. Para compensar o encolhimento de suas carteiras de crédito e as perdas com calotes, os bancos aumentaram os juros e os spreads, a diferença entre o que pagam para captar recursos de investidores e o que cobram para conceder crédito.

    "Os spreads ainda têm um efeito da alta da inadimplência, mas a tendência futura é de estabilização", disse Luiz Carlos Angelotti, diretor de relações com investidores do Bradesco. Ele acha que a inadimplência só deverá começar a cair no fim do próximo ano, o que indica que dificilmente o custo do crédito será reduzido antes disso.

    No início de 2015, quando a crise econômico se intensificou, o Banco do Brasil percebeu a necessidade de "ganhar mais dinheiro com o mesmo crédito", explicou José Maurício Pereira Coelho, vice-presidente de relações com investidores. O banco começou a renegociar empréstimos a juros mais altos para aumentar sua margem financeira.

    "Esse esforço permanece", acrescentou. Com a economia se recuperando lentamente e o desemprego em alta, ele admite a dificuldade para continuar cobrando mais caro, mas mudar de estratégia não está nos planos do BB.

    Coelho disse que a inadimplência ainda não atingiu o pico e é o principal risco para o mercado de crédito hoje. A redução dos juros exige a redução dos calotes, afirmou.

    "A carteira vai crescer no ritmo que a economia e os agentes da economia permitirem", disse Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores do Itaú, que também espera queda mais consistente da inadimplência antes de ver uma retomada do crédito.

    Inadimplência segue alta e bancos ainda temem novos calotes

    O presidente do Santander no Brasil, Sérgio Rial, disse esperar uma disputa com seus concorrentes para a retomada das carteiras de crédito com a queda da taxa básica de juros.

    "Isso começa a estimular a retomada de crédito, que a gente não viu nos últimos 24 meses", afirmou. "Aumenta financiamento de veículos e aumenta a retomada da compra da habitação."

    Em outubro, o Banco Central reduziu a taxa Selic de 14,25% para 14% ao ano, o primeiro corte em quatro anos. A expectativa do mercado é que esse seja o início de um ciclo de redução dos juros que se estenderá até o próximo ano.

    TARIFAS

    Os correntistas também pagaram mais em tarifas para os bancos no último trimestre. O aumento das receitas de conta-corrente, cartões e taxas de administração dos fundos é outra via utilizada pelos bancos para manter a rentabilidade do negócio em meio à recessão.

    Todos reajustaram os pacotes de serviços bancários no último ano, mas investiram também na oferta de novos serviços para clientes de renda mais alta, como seguros, planos de previdência e fundos de investimento.

    No Banco do Brasil, o resultado foi um incremento de 20% no ganho com os clientes que migraram para os serviços "premium".

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