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    Guia da Micro, Pequena e Média Empresas (MPME)

    Venda de célula e réplica de órgão em impressora 3D vira negócio

    EVERTON LOPES BATISTA
    DE SÃO PAULO

    14/11/2016 02h00

    Keiny Andrade/Folhapress
    Sao Paulo 09.11.2016 - MPME - Empresas nascidas na Academia - Retrato de Marcos Valadares, co-fundador da empresa Pluricell, no CIETEC USP. Pluricell é uma empresa de base tecnológica que domina o conhecimento de produção de células-tronco pluripotentes induzidas (células iPS). Com essas células, podemos gerar possivelmente qualquer célula do corpo humano: células do coração, fígado, pele, etc. Foto: Keiny Andrade/Folhapress **EXCLUSIVO**
    Marcos Valadares, sócio da Pluricell, no laboratório da empresa em São Paulo

    O site anuncia: cardiomiócitos humanos já disponíveis em versão beta. A frase não vem de um futuro distópico; a Pluricell, dona da propaganda, é pioneira no Brasil na venda de células-tronco.

    A empresa é um exemplo de companhias de base tecnológica e científica que entraram na briga por financiamento de fundações de apoio à ciência para levar inovação para a área da saúde.

    Fundada por dois biólogos em 2013, a Pluricell vende células-tronco pluripotentes -células adultas reprogramadas para se tornarem qualquer tecido do corpo- e recebeu cerca de R$ 2 milhões pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) e pela plataforma de financiamento coletivo Broota.

    COMO NEGOCIAR UMA CÉLULA - Empresa de São Paulo vende células para laboratórios de pesquisa

    Os principais produtos são os cardiomiócitos (células do coração) e os queratinócitos (da pele), usados por laboratórios para modelar doenças específicas e testar remédios.

    Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), produtos para ensaios clínicos e testes in vitro não precisam de registro. As células da Pluricell são destinadas para testes in vitro.

    As vendas começaram em janeiro e desde então já movimentaram R$ 100 mil, diz um dos sócios, o biólogo Marcos Valadares. Ela funciona em uma pequena sala no Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia), uma incubadora de empresas na USP. "É um mercado imaturo ainda. Os pesquisadores no Brasil não têm o hábito de usar essas células", afirma ele.

    Uma das estratégias da empresa é oferecer um serviço de assinatura mensal, no formato do streaming de vídeos Netflix. O cientista recebe em seu laboratório todo mês a quantidade de células que precisa para seus estudos por um valor fixo. Enquanto a demanda não aumenta no país, a companhia se prepara para a internacionalização no próximo ano. "Enviamos nosso produto para cientistas estrangeiros testarem e o feedback foi positivo", diz o biólogo.

    BIOMODELOS

    Na BioArchitects, de São Paulo, impressoras 3D produzem próteses e biomodelos -réplicas customizadas de órgãos humanos. O negócio, que surgiu há quatro anos, conta com um investidor que já injetou R$ 2 milhões.

    "O biomodelo permite estudar casos específicos. O médico pode, por exemplo, simular uma cirurgia na réplica e economizar tempo de procedimento e de uso de equipamentos do hospital", explica o CEO Felipe Marques.

    Cada peça custa entre R$ 3 mil e R$ 4 mil e é feita com base em imagens de tomografia computadorizada ou ressonância magnética. Segundo Marques, a iniciativa ainda está na fase de investimento e o faturamento não é significativo.

    Fabio Braga/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 08-11-2016: O CEO da BioArchitects, Felipe Marques, 28, com as proteses. A Bio Archtects produz próteses e biomodelos sob medida, com base em tomografia computadorizada ou ressonância magnética. A empresa é um exemplo de companhias que surgiram dentro da academia, com funcionários altamente especializados e que precisou de muita pesquisa científica antes de colocar seu produto no mercado. (Foto: Fabio Braga/Folhapress, SUPLEMENTOS)***EXCLUSIVO***.
    Felipe Marques, CEO da BioArchitects, com as próteses e biomodelos produzidos pela empresa

    Já existem, porém, casos mais antigos com histórias de sucesso na área. Em 2004 cinco alunos de engenharia da computação da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) fundaram a Hi Technologies com o objetivo de usar o que estavam aprendendo para inovar a tecnologia médica. O orçamento inicial foi de R$ 2.500.

    Nos últimos 12 anos a empresa desenvolveu softwares e hardwares para hospitais e companhias de home care. Em 2015 o faturamento chegou a R$ 2 milhões. O resultado chamou a atenção da
    Positivo Informática, que no início de 2016 virou acionista da companhia.

    De acordo com Marcus Figueredo, CEO da Hi Technologies, cerca de 75% do dinheiro nos primeiros anos saiu de instituições de apoio para pesquisa e empreendedorismo. "O segredo é sobreviver. No começo não tínhamos dinheiro nem experiência, mas fomos resilientes e dispostos para fazer a ideia funcionar", diz ele.

    RESISTÊNCIA

    A resistência aos novos produtos é uma das principais barreiras encontradas por empresas voltadas para a inovação nas áreas da saúde e da medicina.

    "O médico pode pensar que queremos substituí-lo, mas nosso objetivo é ajudá-lo a melhorar a qualidade do trabalho", afirma o engenheiro Vitor Mori, responsável técnico da Carenet, empresa de tecnologia para a saúde.

    A Carenet atua como uma plataforma que captura dados do paciente por meio de diversos dispositivos e transforma em informação para profissionais da saúde.

    Segundo Mori, esse monitoramento auxilia na condução correta do tratamento.

    O caminho para vencer a resistência, diz Mori, é se aproximar de instituições com histórico de pesquisa e inovação. "A chave é fazer a conexão com quem produz a ciência na saúde", afirma.

    A BioArchitects, que produz próteses e biomodelos, procura alcançar os profissionais influenciadores no ramo.

    "Realizamos estudos que mostram como o uso dos biomodelos pode reduzir gastos e oferecemos uma réplica para que ele experimente o produto", conta Felipe Marques, CEO da empresa.

    Segundo ele, o profissional ganha por experimentar a novidade e a empresa tem a oportunidade de aprimorar seu serviço com os diferentes casos apresentados pelos médicos.

    FORMAÇÃO

    Outro desafio apontado pelos cientistas empresários é a formação para lidar com o mundo dos negócios.

    "Nas graduações de ciências faltam matérias ou orientações para quem deseja ser um empreendedor", diz Marcos Valadares, da Pluricell. Na empresa trabalham biólogos e biomédicos.

    Para contornar a defasagem, Valadares está cursando o MBA em gestão da inovação em saúde no Instituto Butantan.

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