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    Mercosul propõe à União Europeia zerar tarifa de carro

    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO

    25/11/2016 02h00

    Para tentar atrair a União Europeia para um acordo de livre-comércio, o Mercosul colocou na mesa uma agressiva proposta de abertura do setor automotivo, que desagradou à indústria local.

    A oferta prevê uma queda gradual da tarifa de importação de veículos desde o primeiro ano de vigência do acordo, chegando a zero em 15 anos. A taxa está hoje em 35% e cairia 2,6% ao ano.

    As montadoras haviam solicitado aos governos um "período de graça" de oito anos antes de começar a redução da tarifa. Para compensar, o Mercosul ofereceria uma cota de 35 mil veículos/ano.

    Dirigentes do setor dizem que as matrizes vão deixar de investir nas filiais no Brasil e na Argentina diante da perspectiva de redução significativa da tarifa em poucos anos.

    Para o governo brasileiro, a indústria automobilística terá tempo suficiente para se adaptar, e a oferta do setor privado era "vazia" pois representava deixar a proteção ao mercado inalterada por quase uma década.

    A oferta automotiva é o principal "arma" do Mercosul para reanimar a negociação com a UE, que se arrasta por 18 anos. Com poucos acordos bilaterais, o bloco tenta recuperar o tempo perdido.

    As negociações foram retomadas oficialmente em 2014, mas as ofertas só foram trocadas em maio. Em setembro, houve mais uma reunião em Bruxelas e o próximo encontro está marcado para fevereiro, em Buenos Aires.

    Para apresentar uma oferta ambiciosa à UE, o governo teve de desagradar a vários setores, além do automotivo.

    As ofertas apresentadas pelas diversas entidades setoriais representava uma abertura de apenas 67% do comércio entre Mercosul e UE. Para chegar a 87%, patamar considerado aceitável para esse tipo de negociação, o governo teve de escolher o que mais iria oferecer.

    Outro sinal de que o Mercosul está disposto a fechar o acordo com a UE é que sua oferta não inclui nenhuma cota ou preferência tarifária, que são maneiras mais restritivas de abertura de mercado.

    Os europeus, no entanto, reclamam que os sul-americanos colocaram quase todos os setores nas "cestas" que preveem uma abertura de comércio mais longa em 10, 12 ou 15 anos.

    A oferta da União Europeia também chega a 87% do comércio e prevê o livre-comércio em no máximo dez anos, com uma rápida redução de tarifas industriais, que já são muito baixas. A maior dificuldade dos europeus é abrir seu mercado agrícola, o que só será feito por meio de cotas.

    O clima político é tão delicado no bloco que a UE não incluiu na proposta já entregue ao Mercosul o tamanho das cotas previstas para carne bovina e etanol, dois produtos que interessam muito aos exportadores brasileiros.

    Os negociadores europeus disseram que só poderão sinalizar o tamanho da cota após as eleições na França e na Alemanha, em 2017.

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