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    Odebrecht prevê anos de ajuste até grupo superar perda com Lava Jato

    RENATA AGOSTINI
    DE SÃO PAULO

    27/11/2016 02h00

    A um passo de selar o acordo que negocia há meses com os procuradores da Operação Lava Jato, a Odebrecht se prepara para entrar numa nova etapa do processo de reestruturação dos seus negócios.

    A expectativa é que boa parte desse processo seja concluída no próximo ano, mas executivos que participam dele afirmam que a reorganização poderá demorar até dois anos e reconhecem que seus resultados ainda são incertos.

    Além de encontrar compradores para os negócios que pôs à venda, o grupo precisa convencer seus credores a rolar empréstimos e garantir que a crise de reputação que atingiu a empreiteira e outras partes do conglomerado não o impeça de voltar a crescer.

    Os executivos dizem que o grupo sairá da crise inevitavelmente muito menor do que entrou. Cerca de um quarto da capacidade de geração de caixa do grupo está ameaçado, somados os negócios que estão à venda e as empresas mais problemáticas.

    Chamada negócios da Odebrecht

    Banqueiros e executivos atribuem parte do problema à demora da cúpula do grupo em reconhecer que enfrentava problemas. O grupo virou alvo da Lava Jato há dois anos, quando a Polícia Federal efetuou as primeiras prisões de empreiteiros e realizou buscas na sede da Odebrecht.

    Em março deste ano, admitiu ter participado do esquema de corrupção descoberto pela Lava Jato e passou a negociar acordo de delação para colaborar com as investigações. Com a assinatura do acordo, o ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht, preso há um ano, e 76 executivos se tornarão delatores.

    BANCOS RETRAÍDOS

    A dívida do conglomerado explodiu enquanto os investigadores cercavam o grupo. Em 2013, devia R$ 52 bilhões na praça, descontados os valores que tinha e o que esperava receber. Em 2014, quando a Lava Jato começou, a conta foi a R$ 62 bilhões. Em 2015, quando Marcelo foi preso, saltou para R$ 84 bilhões.

    Com negócios em petroquímica, energia e saneamento, entre outros, as receitas continuaram crescendo. Mas os bancos se retraíram ao ver seu principal executivo preso, suas empresas endividadas e o grupo ameaçado pela cobrança de multas elevadas.

    Para salvar a companhia que administra as usinas de etanol do grupo, foi preciso entregar aos banqueiros o que a Odebrecht tinha de melhor: suas ações na petroquímica Braskem, responsável por cerca de 40% das receitas.

    No primeiro semestre, a Odebrecht pediu aos bancos um novo empréstimo, de R$ 2 bilhões. Desta vez, para a holding. O pedido continua na mesa em valor menor, segundo banqueiros que participam das conversas, mas há resistência entre as instituições.

    A Odebrecht espera que o acordo de delação premiada abra caminho para que negociações avancem. O grupo pôs vários negócios à venda, com dois objetivos: levantar dinheiro e se livrar da dívida do que for passado à frente.

    A meta é vender negócios avaliados em R$ 12 bilhões. Na lista, há gasodutos, hidrelétricas e concessões. O grupo quer se desfazer de R$ 7 bilhões até o fim deste ano e já conseguiu fechar acordos para a venda de R$ 5 bilhões.

    Executivos do grupo esperam acertar, no início do ano que vem, a venda de sua fatia na hidrelétrica de Santo Antônio (RO) e de gasodutos no Peru. Até lá, também esperam concluir um acordo com credores internacionais da Odebrecht Óleo e Gás, que opera sondas para a Petrobras e deve R$ 17 bilhões.

    CORTE

    Algumas transações se revelaram mais difíceis do que o previsto, como na área de defesa. Sem encontrar comprador para a Mectron, que fabrica mísseis, a Odebrecht deverá desmembrá-la e vender projetos separadamente.

    Boa parte do dinheiro do que já conseguiu vender demorará a entrar no caixa. Mas os esforços recentes já fizeram com que a dívida caísse pela primeira vez desde, pelo menos, 2010 -em junho, era de R$ 76 bilhões.

    Um time de especialistas em reestruturação de empresas tenta ajudar o grupo e suas empresas a buscar saídas. As consultorias Lazard e RK Partners, o banco Rothschild e o escritório E.Munhoz Advogados são alguns dos contratados. O quadro de funcionários já encolheu drasticamente. Desde o início do ano passado, ao menos 40 mil vagas foram limadas, 70% delas no Brasil.

    O acordo com a Lava Jato permitirá que a Odebrecht afaste o risco de ser declarada inidônea pelo governo brasileiro, o que a impediria de fechar contratos com o setor público. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos também participa das negociações, e isso permitirá que a construtora do grupo continue fazendo obras nos EUA.

    Origem do conglomerado, a empreiteira não fechou novos contratos neste ano. Os projetos que entraram por último foram contratados em 2015, todos no exterior.

    Executivos afirmam que está afastado, no momento, o risco de o grupo recorrer à recuperação judicial para negociar com os credores. Mas eles não descartam totalmente a possibilidade no médio prazo. Se as receitas não voltarem lá na frente, não adiantará nada ter alongado empréstimos, resume um executivo do grupo.

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