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Mercado
Sunday, 19-May-2024 19:53:51 -03Mesmo com jogo, Brasil nunca terá uma Las Vegas, diz ex-prefeita
JOANA CUNHA
DE SÃO PAULO27/11/2016 02h00
Ainda que seja aprovada a legislação que tramita em Brasília para liberar jogos de azar no Brasil, o país nunca terá uma Las Vegas.
A opinião é de Jan Jones Blackhurst, ex-prefeita da capital do jogo, que depois de seus dois mandatos, na década de 1990, empregou-se no Caesars Entertainment, gigante dos cassino-resorts do qual é vice-presidente responsável pela área de relações com governos.
Ela diz que a cidade é irreplicável porque foi construída em um deserto, como se fosse uma tela em branco.
Blackhurst defende que o jogo não é viciante como o cigarro e que é possível criar meios de barrar dependentes.
Divulgação Jan Jones Blackhurst, ex-prefeita de Las Vegas Folha - Como avalia os projetos de lei em andamento?
Jan Jones Blackhurst - Ainda estão em desenvolvimento. Mas, para atrair grandes operadores americanos, o regime regulatório é importante. Temos licenças no mundo todo e não vamos colocá-las em risco para operar numa jurisdição que não tenha definições transparentes. É preciso ter certeza de que as regulações federal, estadual e municipal estejam de acordo entre si.Para onde o governo deveria direcionar a receita?
Tem de garantir que os centros de entretenimento sejam acessíveis. Isso se faz com infraestrutura. Mas, ao mesmo tempo, é possível melhorar a infraestrutura para a comunidade. Quando fui prefeita, foram colocados milhares de novos quartos de hotel na cidade. Mas foram também bilhões em infraestrutura, rodovias, expansão de aeroportos, distribuição de água, habitação, escolas.O que diz sobre o receio de que facilita lavagem de dinheiro?
Precisa ter estrutura regulatória correta. Há modelos nos EUA, na Austrália, que são bem construídos para combater lavagem de dinheiro. O Brasil tem que garantir isso.O projeto limita poucos cassinos por Estado. Não deveria ser como Las Vegas, com muitos deles juntos?
Las Vegas era uma tela em branco, um deserto. O Brasil já tem cidades densas. Nunca vão conseguir replicar. É melhor olhar o que já existe e depois construir resorts que complementem.
Las Vegas era uma cidade completamente nova. Poderia ser construída do nada. E o Brasil não precisa disso, tem boas razões para atrair turistas. Pode incorporar a experiência com shoppings e restaurantes, casas noturnas. Só precisa construir mais instalações. Em Las Vegas, ao mesmo tempo em que foram construindo os hotéis, também construíram centros de convenções. Temos 92% de ocupação nos hotéis porque ocupamos durante a semana com outros eventos.Os grandes jogadores são fiéis às marcas de hotel?
São. Há cassino-hosts, um anfitrião que ajeita tudo. É uma relação em que importa o modo como você é tratado, a hospitalidade, se sabemos seu nome. Por isso temos um programa de fidelidade.E o vício?
Cerca de 2% das pessoas que jogam se viciam. Mas o cassino não causa o vício. Elas provavelmente seriam viciadas de qualquer maneira. No Brasil, já há pessoas com problemas, mas elas não têm serviços de apoio.Como proteger o viciado?
Com conscientização e campanhas que mostrem às pessoas que, se elas têm o problema, há um número em que podem ligar. O governo deve usar parte da receita para levantar fundos para isso. Todos os nossos funcionários são treinados para identificar isso. Se o consumidor demonstrar que está tendo problemas, podemos nos aproximar e dizer onde buscar ajuda. O cliente pode se excluir ou se restringir.Como?
Há uma base de dados. Se você for um cliente com restrições e tentar fazer check-in em um hotel ou usar o seu cartão de jogo, nós o reconhecemos. Se você ganhar um jackpot [prêmio acumulado] estando com restrição declarada, podemos doar para caridade.
Algumas pessoas dizem que jogar causa problemas. Não é isso. Pessoas que têm a patologia têm problemas. Cigarro é viciante. Jogo, não.RAIO-X
Cargo
Vice-presidente-executiva de comunicações e relações com o governo do Caesars Entertainment
Trajetória
Prefeita de Las Vegas entre 1991 e 1999
Formação
Graduada em Inglês pela Universidade Stanford
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