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    análise

    Falta pouco para a atual recessão se tornar a pior da história

    ÉRICA FRAGA
    DE SÃO PAULO

    30/11/2016 17h18

    Falta muito pouco para a atual recessão se tornar a pior da história do Brasil.

    O ciclo recessivo mais longo que a economia brasileira atravessou até agora foi o que começou entre o fim de 1989 e o início de 1992, se estendendo por 11 trimestres consecutivos. A recessão atual já dura dez trimestres.

    Se o critério usado for a magnitude da contração da atividade econômica, já acumulamos um tombo de 8,3% desde o início do segundo trimestre de 2014, quando entramos no atoleiro atual. Até agora, o pior desempenho registrado foi a queda de 8,5% entre janeiro e março de 1981 e o mesmo período de 1983.

    Empataremos com os recordes históricos tanto em termos de duração quanto de intensidade? É bem provável que sim.

    Embora projeções em economia sempre estejam sujeitas a erros (às vezes, bem grandes), os indicadores do último trimestre do ano, que vivemos agora, continuam bastante negativos.

    O desemprego está alto, a indústria continua afundando, o desempenho do crédito permanece fraco, a confiança de consumidores e empresários em relação ao futuro –que ajuda a determinar o quanto ambos estão dispostos a gastar– voltou a piorar recentemente.

    Tudo isso leva economistas a esperarem nova contração do PIB trimestral próxima a 0,5% entre outubro e dezembro deste ano.

    Seria o suficiente para atingirmos 11 trimestres consecutivos de recessão –mesma marca do ciclo dos anos 90– e contração da atividade de 8,8%, a mais profunda da história.

    Mas a parte pior dos dados mais recentes nem é essa questão técnica, mas a constatação do quão difícil tem sido superarmos essa crise.

    Os resultados dos indicadores econômicos do segundo trimestre indicavam que a recessão se aproximava do fim. Muitos economistas previam, na época, que a economia se estabilizaria –ou seja, pararia de cair– entre julho e setembro e já mostraria ligeira recuperação no fim de 2016.

    Triste engano. Isso não ocorreu, e o desafio para termos algum crescimento moderado em 2017 é enorme.

    Cálculos do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e colunista da Folha, mostram que, se a economia contrair 0,5% entre outubro e dezembro, precisará crescer a uma média de 0,76% nos quatro trimestres de 2017 para que o próximo ano termine com expansão de 1%.

    Não é impossível, como ele ressalta, mas demandaria uma aceleração e tanto da atividade.

    Se algo perto disso não ocorrer, o já elevado impacto social do atual ciclo recessivo atingirá um nível perigoso.

    Segundo os economistas do banco Goldman Sachs, nossa renda per capita acumula queda de 10,3% desde o início da atual recessão, acima da contração de 7,6% registrada durante toda a chamada década perdida.

    Ou seja, a população brasileira amarga um recuo muito mais profundo de seu poder aquisitivo nos últimos 10 meses do que o verificado nos 12 anos que se estenderam entre 1981 e 1992.

    Um dos riscos desse cenário seria a eleição em 2018 de algum salvador da pátria com propostas populistas, que poderiam nos fazer afundar ainda mais.

    A SEGUNDA PIOR - Ciclo atual de recessão já dura dez trimestres

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