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    BBC

    O sem-teto que dormia em chão de banheiro e se tornou multimilionário

    DA BBC BRASIL

    06/12/2016 08h53

    Chris Gardner
    Chris Gardner agora viaja o mundo dando palestras de motivação
    Chris Gardner agora viaja o mundo dando palestras de motivação

    De sem-teto a milionário. A história do americano Chris Gardner virou um filme que rendeu a segunda indicação do ator Will Smith ao Oscar, "The Pursuit of Happyness" (2006) –no Brasil, "À Procura da Felicidade". Mas, mesmo depois de enriquecer de forma tão impressionante e virar um personagem conhecido mundialmente, ele largou tudo e voltou a se reinventar.

    Sua saga inicial começou na São Francisco da década de 1980. Aos 27 anos, desempregado e abandonado pela mulher, ele foi morador de rua por um ano, dormindo com o filho pequeno, Chris Jr., em abrigos, bancos de praças e banheiros públicos nas estações de trem.

    A vida mudou quando ele teve a chance de participar do programa de estágio não remunerado da corretora de valores Dean Witter Reynolds (DWR).

    "Eu não ganhava nada. Meus colegas não sabiam que, de noite, meu filho e eu dormíamos em abrigos de mendigos, banheiros e parques", lembra.

    Em 1981, ele obteve licença para operar oficialmente na Bolsa de Valores e conseguiu um emprego na conceituada firma Bear, Stearns & Company. Trabalhou primeiro na área de São Francisco e, depois, em Nova York.

    Desde então, deslanchou e nunca mais parou: em 1987, tornou-se empresário independente e abriu a própria companhia, a Gardner Rich.

    Aos 62 anos, Gardner tem hoje uma fortuna estimada em US$ 60 milhões (cerca de R$ 209 milhões).

    Chris Gardner
    A biografia de Gardner se transformou no filme de sucesso 'À Procura da Felicidade'
    A biografia de Gardner se transformou no filme de sucesso 'À Procura da Felicidade'

    Somando-se a isso o fato de que ele teve uma infância muito problemática e passou um tempo na cadeia pouco antes do estágio na DWR, fica fácil compreender porque Hollywood se interessou ao saber que ele escrevia a biografia "The Pursuit of Happyness" (a grafia errada em inglês foi intencional).

    Olhando para trás, Gardner diz à BBC que "não mudaria nada".

    "Sofri quando era criança, mas meus filhos não têm que passar por isso", afirma. "Tudo o que me aconteceu foi porque fiz as escolhas certas."

    MÃE INSPIRADORA

    Nascido em Milwaukee, no Estado do Wisconsin, Gardner não chegou a conhecer o pai.

    Cresceu na pobreza ao lado da mãe, Bettye Jean, e de um padrasto alcoólatra e violento.

    Também passou um tempo com uma família adotiva depois que a mãe –num momento de desespero– tentou matar o companheiro.

    Apesar das desventuras da infância, Gardner diz que ela foi uma inspiração.

    "Tive uma dessas mães à moda antiga, que me dizia todos os dias: 'Filho, você pode ser ou fazer tudo o que quiser'", conta ele.

    "E eu acreditava totalmente nisso."

    O empresário lembra que um dia, quando criança, estava vendo um jogo de basquete na TV e comentou com a mãe que aqueles jogadores podiam ganhar milhões de dólares.

    "Minha mãe disse: 'Filho, um dia será você que vai ganhar um milhão de dólares'. Até ela dizer isso, a ideia nunca tinha me passado pela cabeça."

    ENCONTRO CASUAL

    Os milhões de dólares não vieram rapidamente. Após terminar o colégio, ele passou quatro anos na Marinha dos Estados Unidos.

    Em 1974, mudou para São Francisco e começou a trabalhar como vendedor de equipamentos médicos.

    Sua vida mudou completamente quando ele viu um homem numa Ferrari vermelha procurando vaga num estacionamento no centro da cidade.

    Impressionado com o carro, ofereceu a sua vaga. "Falei para ele, você pode estacionar no meu lugar, mas me responda: O que você faz? E como faz?"

    O dono da Ferrari disse que era corretor da Bolsa de Valores, vendia ações e faturava US$ 80 mil por mês (atualmente o equivalente a R$ 278 mil).

    "Naquele momento tomei duas decisões: entrar no negócio de ações e futuramente comprar uma Ferrari", conta Gardner.

    O dono da Ferrari se chamava Bob Bridges –e foi ele quem conseguiu que Gardner fosse entrevistado para a vaga de estágio na DWR.

    Mas não foi tão fácil.

    Com US$ 1.200 (equivalentes a R$ 4.170 hoje) em multas de trânsito sem pagamento, Gardner foi parar na cadeia às vésperas da entrevista.

    Ele conseguiu sair da prisão e foi direto para lá, usando as mesmas roupas com as quais tinha ficado na cadeia.

    Apesar da aparência desleixada, seu entusiasmo e foco impressionaram: ele conquistou a vaga.

    MAIS UMA MUDANÇA DE VIDA

    Em 2012, seis anos depois do lançamento do filme, a vida de Gardner mudou novamente com a morte da sua mulher, aos 55 anos, vítima de um câncer.

    A perda o fez reavaliar a vida e, depois de três décadas de muito sucesso no mercado financeiro, ele resolveu mudar completamente de carreira.

    "Nas últimas conversas que tivemos, minha mulher me disse: 'Agora que vimos como a vida pode ser curta, o que você vai fazer no resto da sua'?"

    Chris Gardner
    Gardner construiu uma nova carreira como palestrante
    Gardner construiu uma nova carreira como palestrante

    "Quando se tem uma conversa dessas, tudo muda. Costumo dizer que, se você não está fazendo algo pelo qual é apaixonado, você está comprometendo cada dia da sua vida."

    Ao perceber que não queria mais trabalhar na área de investimentos, Gardner se reinventou como autor de livros e especialista em palestras de motivação.

    Hoje ele passa 200 dias por ano viajando pelo mundo e falando para auditórios lotados em mais de 50 países. Além disso, patrocina várias organizações que ajudam os sem-teto e combatem a violência contra as mulheres.

    Scott Burns, diretor da corretora americana Morningstar, afirma que Gardner "é uma incrível demonstração de fortaleza".

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    Gardner afirma desmentir a teoria de que todos somos produto do ambiente em que vivemos na infância.

    "De acordo com esse pensamento, eu devia ter sido mais um perdedor, alcoólatra, analfabeto, espancador de mulher e abusador de crianças."

    Ele diz que fez suas escolhas positivas graças ao amor da mãe e ao apoio que recebeu de outras pessoas.

    "Eu escolhi seguir a luz da minha mãe e de outras pessoas com as quais não compartilho uma só gota de sangue."

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