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    Protesto de servidores do Rio contra ajuste fiscal tem conflito violento

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    06/12/2016 14h45 - Atualizado às 20h46

    Servidores públicos do Estado do Rio em protesto contra as medidas de ajuste fiscal propostas pelo governador Luiz Fernando Pezão entraram em confronto com a Polícia Militar em frente à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

    Diante dos confrontos, os deputados decidiram agilizar os trabalhos, para concluir as votações na próxima segunda (12), três dias antes do previsto.

    O conflito começou às 13h15, quando integrantes do carro de som instaram os manifestantes a tomarem o prédio da Alerj, onde deputados haviam marcado para 14h a votação do pacote de ajuste.

    Servidores forçaram as grades instaladas ao redor do prédio. A Polícia Militar e agentes da Força Nacional responderam com bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo.

    O que se viu na sequência foi uma batalha campal em frente à Alerj e nas ruas vizinhas ao prédio. O conflito ocorreu de forma ininterrupta por pelo menos uma hora, na avenida presidente Antônio Carlos. No momento em que a reportagem era escrita, o conflito continuava intenso.

    Diferentemente do ocorrido em 16 de novembro, quando servidores foram duramente reprimidos pela polícia, desta vez os manifestantes foram preparados para sustentar o confronto.

    Veja

    Fogos de artifício e pedras foram lançados em grande quantidade contra a força policial, que respondeu com balas de borracha.

    Os servidores estão organizados no Muspe (Movimento Unificado dos Servidores do Estado do Rio), instituição que reúne 42 categorias do funcionalismo público. O movimento é encabeçado por servidores da segurança, como policiais militares e civis, agentes penitenciários e bombeiros, além de funcionários do judiciário, educação, saúde e cultura.

    Após o primeiro foco de confrontos, um grupo foi para a rua Dom Manuel, esquina com a rua Erasmo Braga, onde fica um acesso lateral à Alerj. Também ali houve bombas da polícia e pedras dos manifestantes.

    Parte dos manifestantes é formada por homens, mas há servidores idosos e mulheres entre os manifestantes. A Folha viu ao menos duas pessoas feridas por bala de borracha. Funcionários de escritórios do centro do Rio corriam em meio ao gás e às bombas na hora do almoço.

    Enquanto as bombas eram lançadas, militantes no carro de som incentivavam que os servidores resistissem e pedia o impeachment de Pezão.

    Os manifestantes buscavam cobertura na lateral da Igreja Matriz de São José, que fica ao lado da Alerj, de onde lançavam pedras contra a polícia. A Polícia Militar, por sua vez, tomou posições no segundo andar da igreja e de lá atirou com escopetas com bala de borracha contra os manifestantes.

    Por volta das 14h20 houve um ensaio de trégua logo após momento tenso. Um grupo do Batalhão de Choque avançou a pé, com escudos, na direção dos manifestantes. Eles vinham na direção oposta de onde havia o conflito.

    Quando os manifestantes perceberam o grupo de aproximando pelas suas costas, se voltaram contra a polícia. Um homem atirou uma garrafa contra os policiais. Três PMs deixaram a formação e tentaram capturar o manifestante. Foram impedidos por servidores que o cercaram e acompanharam os policiais de volta à formação.

    Na Alerj, dois deputados, 10 policiais e diversos servidores foram atendidos, a maioria sob efeito de gás de pimenta.

    Depredação no Rio

    As bombas e fogos cessaram por alguns instantes quando uma ambulância do Samu, o serviço de emergência do Estado, cruzou a manifestação.

    Por volta das 16h, a polícia investiu com força total contra os manifestantes, dispersando grupos da frente da Alerj com uso de blindados e cavalaria.

    Os policiais, no entanto, avançaram contra manifestantes por ruas internas do Centro para além da entrada da Alerj.

    Muitos escritórios liberaram seus funcionários mais cedo. Diversos civis sem qualquer relação com o protesto se viram no meio do confronto, atingidos pelo efeito das bombas de gás.

    Na avenida Nilo Peçanha, duas barricadas de fogo foram montadas pelos manifestantes, que depredaram o tapume do prédio em obras conhecido como "Banerjão", onde funcionaram no passado secretarias do governo estadual.

    Populares que observavam a movimentação correram assustados quando bombas de gás foram lançadas na direção desse grupo, por volta das 16h30.

    A avenida Rio Branco, a principal do centro do Rio, foi fechada. O trânsito deu um nó. O VLT parou de circular e o prédio do Tribunal de Justiça foi fechado.

    À NOITE

    Às 19h, o conflito seguia no Rio. O centro ficou deserto em plena hora do rush.

    Não restava mais servidores em frente a Alerj, mas a PM continuou a lançar bombas nas ruas do centro e empreendeu uma varredura nas ruas internas em busca de possíveis manifestantes. Bombas foram atiradas na direção de pequenos grupos que ainda se reuniam, atingindo contudo pedestres que deixavam seus escritórios.

    Pezão afirmou que, em sua visão, o conflito é causado por uma minoria que "se aproveita desse tipo de manifestação para causar baderna", acrescentando considerar as depredações "intoleráveis". Questionado sobre a ação da polícia, ele afirmou por volta das 19h30 que não saberia opinar pois estava em voo e ainda não estava a par dos acontecimentos.

    Pezão também comentou de forma genérica a votação na Assembleia Legislativa dizendo saber que as medidas "são duras, não são fáceis", mas que se não houver sacrifício, o Estado não conseguirá atravessar a crise.

    VOTAÇÃO

    Mesmo com forte cheiro de gás de pimenta no plenário, os deputados iniciaram as votações do dia às 14h, como previsto.

    Na primeira parte, aprovaram duas resoluções da própria Alerj que reduzem custos com a frota de veículos dos parlamentares e acabam com sessões solenes na casa.

    Diante dos confrontos, os deputados aprovaram ainda mudança no calendário de votações das medidas do pacote.

    A partir desta quarta (7), serão votados quatro projetos de lei por dia, não mais dois. Com isso, as votações do pacote se encerram na segunda.

    Segundo o presidente da casa, Jorge Picciani, o objetivo é reduzir os transtornos causados pelas manifestações.

    Nesta terça, serão votadas a redução em 30% dos salários do alto escalão do governo e a implantação de intimações eletrônicas para cobranças fiscais.

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