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    Cifras & Letras

    Crítica

    Livro mostra que dinheiro e sua história não precisam ser peça de museu

    ÁLVARO FAGUNDES
    EDITOR-ADJUNTO DE "MERCADO"

    10/12/2016 02h00

    Divulgação/ctsnow
    Moedas de pedra usadas na ilha de Yap, na Micronésia
    Moedas de pedra usadas na ilha de Yap, na Micronésia

    A promessa de uma biografia sobre o dinheiro parece um daqueles convites apavorantes para um sábado de manhã: como uma visita a um museu para ver moedas antigas, com quase nenhum contexto histórico sobre elas.

    Não é isso, porém, que oferece "Dinheiro: Uma Biografia Não Autorizada". A obra do economista britânico e executivo de fundo de investimento Felix Martin mostra que o dinheiro tem diversas formas além da física (dívidas, por exemplo) e, especialmente, que é algo vivo, que molda e é forjado pela história.

    O livro não peca pela falta de ousadia, contestando até mesmo pensadores como os britânicos Adam Smith e John Locke –especialmente o segundo. Para Martin, os conceitos do filósofo sobre dinheiro (defendia, resumidamente, que o valor da moeda era o valor do seu conteúdo em prata) beiram a estupidez.

    Ele também desmonta mitos, como a história de que a moeda surgiu como um modo de facilitar o escambo, como foi defendido pelo autor do clássico "A Riqueza das Nações". Martin mostra que, na realidade, não há evidências de que o dinheiro nasceu do escambo.

    Uma das evidências trazidas pela obra para demonstrar que isso não ocorreu é o caso fascinante de uma pequena e remota ilha no oceano Pacífico chamada de Yap.

    Essa ilhota, com poucos milhares de habitantes e uma economia rudimentar, parecia ser o cenário perfeito para o escambo, mas que tinha um sistema de dinheiro altamente desenvolvido.

    Em Yap, a população, ainda no início do século passado, usava como dinheiro o fei, que eram rodas feitas de pedras que podiam chegar a quatro metros de diâmetro e cujo valor dependia não só do tamanho mas de qualidades como a brancura da pedra. O que é impressionante é que, após uma transação, o fei muitas vezes não era transportado para o seu novo proprietário, ficando no mesmo lugar –havendo um reconhecimento de propriedade.

    Essas histórias anedóticas são um dos pontos fortes de "Dinheiro". Como quando a economia irlandesa sobreviveu quase um ano sem dinheiro na década de 1970, após uma greve bancária, ou os argentinos aguentaram a crise do início dos anos 2000, com a criação de moedas próprias como os patacones (adotados pela província de Buenos Aires à época).

    Dinheiro: Uma Biografia Não Autorizada
    Felix Martin
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    O livro, porém, não se resume a fatos recentes (a Mesopotâmia está lá presente) nem a "causos" –o autor mostra os mecanismos e discute os efeitos de ações tomadas.

    São nesses momentos de discussão, porém, que o livro pesa a mão. Martin não se limita a mostrar diversos pontos de vista sobre o assunto, mas quer impor por que ele está correto, e as outras formas de pensamento, erradas.

    Colocando isso de lado, a biografia não autorizada do dinheiro é uma boa oportunidade para refletir sobre esse instrumento cada vez mais raro em tempos de alto endividamento das famílias e taxa de desemprego recorde.

    Dinheiro: Uma Biografia Não Autorizada
    QUANTO: R$ 59,90 (392 PÁGS.)
    AUTOR: FELIX MARTIN
    EDITORA: PORTFOLIO-PENGUIN

    Edição impressa
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