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    MARCAS DA CRISE

    Recessão leva à queda da inovação no setor industrial

    ÉRICA FRAGA
    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    02/01/2017 02h00

    O aprofundamento da recessão levou a uma forte queda no lançamento de produtos e na adoção de técnicas inovadoras por parte das empresas brasileiras.

    Dados inéditos da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) revelam que a parcela de companhias do setor industrial com mais de 500 funcionários que realizou alguma inovação, para si própria ou para o mercado, caiu de 44,9% no último trimestre de 2015 para 37,6% entre janeiro e março do ano passado.

    O nível atingido no início de 2016 é o menor desde que a Sondagem de Inovação, à qual a Folha teve acesso com exclusividade, começou a ser feita, no primeiro trimestre de 2010. Segundo a ABDI, inovar é introduzir um produto ou um processo produtivo tecnologicamente novo ou muito aprimorado.

    IMPORTÂNCIA

    A inovação é considerada essencial para o aumento da eficiência das empresas e, portanto, para sua capacidade de competir tanto no mercado doméstico quanto no internacional. É um dos fatores que determinam o crescimento dos países a longo prazo.

    O IBGE também identificou tendência de recuo da inovação do país em pesquisa trienal sobre o tema, mais ampla, divulgada no início de dezembro. Os dados referentes ao período de 2012 a 2014 -ainda no início da atual crise- mostraram estabilidade (em nível ainda baixo) no percentual de empresas inovadoras.

    Pouco mais de um terço (36%) das 132.529 empresas com mais de dez trabalhadores informou adotar práticas para inovar em produtos ou processos. No período anterior (2006 a 2008), eram 35,7%.

    PESQUISA E DESENVOLVIMENTO - Investimento em inovação tem forte queda nos últimos anos

    O IBGE detectou queda no número de inovadoras na área de serviços e contração significativa nos setores de eletricidade e gás.

    Embora com amostra diferente, os dois estudos indicam que a perda de ritmo da atividade econômica que o país vive desde 2014 é o principal motivo para a redução das atividades inovadoras. O aprofundamento da recessão a partir de 2015 levou a uma acentuação dessa tendência.

    "A crise faz com que as empresas não percebam o que é importante e reduzam a inovação", afirma Guto Ferreira, presidente da ABDI.

    Segundo ele, que deixou o setor de start-ups há seis meses para assumir a agência, as empresas deveriam caminhar na direção contrária durante períodos recessivos.

    "Este deveria ser o momento de buscar inovação para se tornar mais competitivo. Mas o país caminha na direção contrária. Nesse ritmo, em dois anos poucas empresas serão produtivas", afirma.

    SUBSÍDIOS

    Além da crise, Ferreira aponta a política do governo de ampliar significativamente os subsídios ao setor produtivo, após a crise global de 2008, como outra razão para o declínio da inovação.

    "A indústria passou a viver de subsídio do governo e deixou de se preocupar com inovação, marca, design", diz.

    Na mais recente edição da Sondagem, quase 70% das empresas informaram lançar mão da prática, porém só 12% consideram que o design é um diferencial estratégico.

    A série "Marcas da Crise" mostra os impactos provocados pela recessão, talvez a mais profunda da história do país. Alguns dos efeitos podem afetar a capacidade de reação da economia. Veja as outras reportagens da série em folha.com/marcasdacrise

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