• Mercado

    Saturday, 18-May-2024 22:35:16 -03
    Guia da Micro, Pequena e Média Empresas (MPME)

    opinião

    Empreender exige lidar com certo grau de incerteza

    JULIANO SEABRA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    21/01/2017 23h30

    Avener Prado/Folhapress/Folhapress
    Juliano Seabra, 38 anos, diretor-geral da Endeavor no Brasil
    Juliano Seabra, 38 anos, diretor-geral da Endeavor no Brasil

    Empreendedores brasileiros brindaram a virada de ano novamente sob o signo da incerteza. Eles terão de planejar ações, alocar investimentos e decidir sobre contratações e demissões sem clareza sobre o que está à frente em termos políticos ou econômicos. Mas essa angústia não pode paralisá-los.

    Até há algumas semanas era mais forte a expectativa de que 2017 fosse marcado pelo início de uma retomada na economia, após mais de dois anos de recessão. Mas, dada a incerteza sobre o fôlego do governo e sua força para aprovar as medidas necessárias para destravar os negócios, a perspectiva fica cada vez mais incerta.

    Diante disso, o que o empreendedor faz? Senta, espera e torce para a maré baixar logo? Não. Primeiro, porque empreender exige lidar com um certo grau de incerteza —e de certo modo gostar dela. Pode ser mais saudável parar de reclamar e começar a agir.

    Uma pesquisa feita pela Endeavor e pelo Datafolha com quase mil empreendedores em 2016 identificou que aqueles que estão à frente de empresas que crescem mais tendem a encarar a crise de forma diferente.
    A maioria, que não cresce, crê que a crise influencia em 60% dos resultados, e a competência da empresa é responsável pelos outros 40%. Já os que estão crescendo muito acham o oposto —seus resultados são obtidos majoritariamente pelo esforço da própria companhia.

    Então esse é o momento de arrumar a casa e deixá-la mais preparada para quando a bonança voltar (seja quando isso aconteça). Se o empreendedor demorar para se preparar para esse momento, pode perder o bonde.

    Por exemplo: há uma tendência de queda nas taxas de juros. Talvez seja o momento de conversar com os credores e renegociar suas dívidas, obtendo índices mais favoráveis. A crise faz com que existam bons profissionais disponíveis, fornecedores mais dispostos a negociar e indústrias com capacidade ociosa propensas a oferecer condições melhores.

    É hora também de olhar para dentro —sua estrutura de custos, o seu time, a oferta de produtos. Como ser mais eficiente? Quais produto resolve problemas reais dos consumidores e compensa o investimento? Esse exercício de autoanálise pode ajudá-lo a se concentrar no que gera mais resultado.

    Muitos clientes estão em busca de coisas mais baratas, então quem oferece uma boa solução para os problemas reais por uma quantia razoáveis dificilmente vai deixar de vender.

    O Netflix dobrou seu número de assinantes no Brasil de 2015 para 2016 e já fatura mais que a segunda maior operadora de TV paga no país. Pudera: por cerca de R$ 20, o serviço de vídeo online resolve a vida da população que quer ver séries e vídeos sem desembolsar muito dinheiro.

    E, para lembrar, o Airbnb, permite que pessoas gastem menos em hospedagem, e o Uber, com a promessa de economia no transporte, nasceram durante a crise de 2008 nos Estados Unidos.

    Essa ideia é clichê, mas não deixa de ser válida: crises são oportunidades para inovação. E isso não exige, necessariamente dinheiro. Uma troca de ideias entre a equipe e uma conversa com clientes podem gerar melhorias nos produtos ou no marketing que não exigem gastos.

    Em um ano, empreendedores apoiados pela Endeavor cresceram 22%, enquanto o PIB caiu mais de 3%. Analisando as razões desse desempenho, é possível verificar que essas companhias têm alguns traços em comum.

    Todas resolvem um problema que as pessoas ou as empresas efetivamente tenham. Ao resolver essa dor de forma única e melhor do que os concorrentes, esses empreendedores abrem uma avenida de crescimento.
    Se esse não for o seu caso, caro leitor-empreendedor, pense em como adicionar valor para o cliente de uma forma diferente: com um modo de se relacionar com ele que seja exclusivo seu. É difícil conseguir isso se a atenção estiver dispersa entre milhares de produtos —em tempos de enxugamento, procure se concentrar naquilo que o torna único.

    Se o Ano-Novo lhe aflige, saiba que não está sozinho. A recessão, a incerteza sobre o Brasil e velhos conhecidos, como a burocracia, afetam todos os empreendedores.

    O que cada um decidir fazer em meio a esse cenário é o que os diferencia. Prepare-se para agir.

    JULIANO SEABRA é diretor-geral da Endeavor

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024