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    Guia da Micro, Pequena e Média Empresas (MPME)

    Setor brasileiro de criação de games mira exterior para decolar

    BRUNO BENEVIDES
    DE SÃO PAULO

    30/01/2017 02h00

    Danilo Verpa/Folhapress
    Camila Malaman, sócia da produtora Webcore, no estúdio da empresa em Higienópolis, no centro de SP
    Camila Malaman, sócia da produtora Webcore, no estúdio da empresa em Higienópolis, no centro de SP

    Com a possibilidade de vender suas criações na internet para qualquer lugar do mundo, os estúdios brasileiros que desenvolvem jogos eletrônicos estão comemorando bons resultados.

    Embora não existam dados oficiais, o setor estima um crescimento acima dos 10% nos últimos três anos.

    Em geral, as empresas criam os games e os oferecem em uma plataforma on-line específica para cada dispositivo. As produtoras não precisam pagar nada para disponibilizar o jogo e ficam com um percentual das vendas.

    Esse conceito de loja virtual para produções independentes começou em 2007, com o lançamento do iPhone, e depois se espalhou para videogames e computadores nos anos seguintes.

    "A partir de 2008, o mercado se abriu, começaram a aparecer ferramentas gratuitas e cresceu o número de plataformas", diz Saulo Camarotti, 30, sócio do estúdio Behold, de Brasília.

    "Isso permitiu que as pequenas empresas fizessem jogos e os lançassem no mundo inteiro", completa ele.

    A capacidade de atingir o mercado global é considerada a principal causa do sucesso do setor mesmo durante a crise econômica no país.

    "Somos só 3% do mercado mundial de videogames, então naturalmente o desenvolvedor brasileiro olha mais para o mercado internacional", afirma André Faure, CEO da consultoria de jogos GamePlan.

    Para Fernando Chamis, presidente da Abragames (Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais), as empresas nacionais precisam desenvolver todo o seu projeto pensando no mercado internacional.
    Isso vai desde fazer o jogo em inglês até a escolha do gênero e do cenário do game.

    "O principal desafio atualmente é levar as empresas para fora com um grau de maturidade um pouco maior, porque o mercado internacional é cruel", afirma Chamis.

    SOBREVIVÊNCIA
    Apesar do desempenho do setor, ainda não é fácil viver apenas dos lucros gerados pela venda dos jogos. Por isso, muitos estúdios acabam procurando outras formas de financiar seus produtos, seja fazendo projetos para outras empresas ou diversificando os serviços.

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    Marivaldo Cabral, com sua equipe da produtora de jogos QUByte, em São Paulo
    Marivaldo Cabral, com sua equipe da produtora de jogos QUByte, em São Paulo

    A paulistana Webcore, por exemplo, divide sua atuação em duas partes. Uma área presta serviços na área digital para empresas e agências de publicidade. E o dinheiro ganho nesses trabalhos é usado para financiar a produção de jogos próprios.

    "A empresa começou como uma agência digital, mas vimos esse potencial para os jogos e entramos nesse mercado, embora ele ainda não nos sustente sozinho", diz a sócia Camila Malaman, 35.

    "Essa é uma realidade que toda produtora de jogos passa quando nasce, e faz parte do processo de maturação de um estúdio do tipo", diz Faure, da GamePlan.

    Segundo ele, as empresas devem procurar outras formas de conseguir o dinheiro. Alguns exemplos são editais voltados para jogos digitais oferecidos pelo governo federal através da Ancine (Agência Nacional do Cinema) ou pela prefeitura de São Paulo via Spcine (Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo).

    Outra opção é recorrer a sites de financiamento coletivo na internet, como o usado pelo estúdio paulistano QUByte para obter recursos para seu jogo, 99Vidas.

    Para ter sucesso, a empresa disponibilizou uma fase do game na internet, avisando que precisava do dinheiro para concluir o projeto.

    "Queríamos R$ 80 mil e conseguimos R$ 127 mil, foi um sucesso", afirma o sócio Marivaldo Cabral, 36.

    CABEÇA DE EMPRESÁRIO
    Para ter sucesso como dono de um estúdio de jogos, não basta gostar do assunto e ter criatividade. O candidato precisa tirar a carapuça de jogador e se assumir como profissional da área, diz o consultor Faure.

    "Ele tem que pensar na empresa, não no jogo específico", diz ele. "Em resumo, o empreendedor de games primeiro precisa se entender como empresário, para depois se entender como designer de jogos", completa.

    Sócio do estúdio Behold, Camarotti passou por esse processo quando foi abrir a empresa. "Sou cientista da computação, então minhas habilidades administrativas não eram muito desenvolvidas", afirma.

    A solução foi começar trabalhando dentro da incubadora da Universidade de Brasília, onde estudava.

    Foram dois anos incubados. Lá, aprendeu conceitos como plano de negócios e capital de giro antes de se aventurar por conta própria. "Isso permitiu amadurecer nossa capacidade de gestão", diz.

    Mesmo quem fez uma faculdade de games não sai pronto para empreender, diz Josiane Tonelotto, que foi pró-reitora da Anhembi Morumbi, primeira a oferecer o curso no país. "A graduação é mais voltada para capacitar o aluno a trabalhar na área, não a empreender". Ela recomenda que o candidato procure uma pós que complemente essa formação.

    Além do conhecimento de gestão, o consultor Faure aconselha também a empresa a diversificar o portfólio, para não ficar dependente de apenas um jogo.

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