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    Após rotativo, governo pressiona por juro menor no cheque especial

    TÁSSIA KASTNER
    DE SÃO PAULO

    30/01/2017 02h00

    Depois da pressão para a queda nos juros do cartão de crédito, com a imposição de prazo máximo para que um cliente fique no rotativo, o governo agora cobra dos bancos a redução das taxas do cheque especial.

    A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) montou um grupo de trabalho para buscar alternativas que possam diminuir o custo da linha, hoje em 328,6% ao ano.

    Ela é a segunda mais cara do sistema financeiro, atrás apenas do rotativo, que custa 484,6% ao ano.

    Até então, bancos não discutiam medidas para reduzir o juro do cheque especial.

    De forma sigilosa, a Febraban tenta buscar uma alternativa que não afete a rentabilidade de seus associados.

    Um modelo parecido com o adotado no cartão de crédito, que obriga o consumidor endividado a buscar uma linha mais barata e a parcelar a dívida, deve ser descartado.

    Os bancos ganham dinheiro com o spread (que é a diferença de taxas que pagam em relação ao que cobram nos empréstimos), e créditos como o cheque especial geram ganhos elevados mesmo que as instituições tenham que separar mais dinheiro para cobrir eventuais calotes.

    A inadimplência no cheque especial alcança 17%, ante 6% de todos os empréstimos para pessoa física.

    MANCHA

    Quando o governo começou a exigir das empresas que as taxas no cartão fossem menores, a Abecs (associação da indústria de cartões) já discutia mudanças no produto.

    O argumento era que os juros do cartão manchavam a imagem dos bancos. A associação planejava um prazo limite para que o cliente ficasse no rotativo e, depois, a dívida deveria ser parcelada.

    A divergência que ainda existia entre as instituições era sobre qual seria esse prazo. As discussões indicavam entre 60 e 180 dias, mas o limite vencedor foi 30 dias, por imposição do governo.

    Na entrevista na qual anunciou que o juro do rotativo cairia pela metade com a nova regra, em dezembro do ano passado, o presidente Michel Temer teve preocupação em dizer que a medida era uma solução de mercado, e não uma intervenção estatal no sistema financeiro.

    Com isso, a equipe econômica atual tentava se diferenciar das ações promovidas no primeiro mandato do governo Dilma. Em 2012, o governo usou bancos públicos para tentar forçar uma queda nas taxas de juros, na expectativa que os bancos privados fossem acompanhá-los.

    COBRANÇA EM CASA

    Em almoço com banqueiros, promovido pela Febraban em novembro do ano passado, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que os juros ao consumidor não estavam caindo porque os bancos estavam embolsando a queda da taxa básica da economia (Selic).

    "Diante de um grande grupo de banqueiros", destacou o ministro em sua fala, "houve queda no endividamento, mas o comprometimento da renda das famílias com o serviço da dívida praticamente não mudou. A maior explicação para isso é que a queda da Selic foi contrabalançada pelo aumento do spread."

    Em outubro, o Banco Central promoveu o primeiro corte nos juros no atual ciclo, de 14,25% para 14% ao ano. Hoje, a Selic está em 13%.

    A autoridade monetária também lançou medidas para simplificar o compulsório (dinheiro que os bancos depositam no Banco Central). Para o governo, essas medidas podem reduzir o custo do crédito e justificar a queda nas taxas para o consumidor.

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